Basta um passeio pelas zonas mais turísticas de Lisboa para perceber que a Panasonic não está entre as primeiras escolhas no que toca a fotografia. Veem-se muitas Canon, a Nikon também tem uma boa presença, há algumas Fujitsu, mas a esmagadora maioria das pessoas até recorre a smartphones e selfies sticks para guardar os momentos.

No entanto, como muitos perceberão, há coisas que só as câmaras fotográficas conseguem e permitem fazer.

Apesar de não ter a mais forte das presenças, sobretudo nos segmentos acima das compactas, a Panasonic está numa fase de mudança. A tecnológica japonesa tem-se dedicado a criar equipamentos que garantem uma boa qualidade de imagem, mas que além disso revelam tal aposta no vídeo que o utilizador acaba por levar para casa um dispositivo 2-em-1.

Já tinha sido assim com a Lumix 100, vai ser assim com a Lumix G7 e pelo que atestámos, o mesmo é válido para a Lumix GH4.

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Esta câmara joga num campeonato diferente: é uma mirrorless de lentes intermutáveis. Mas os pontos fortes continuam a ser os mesmos: boa dinâmica de contraste, tecnologia de foco acima da média e a garantia de que também você pode tornar-se num produtor de vídeos Ultra HD.

Um membro de vários clubes

Apesar de não ter um espelho reflexivo, a Panasonic Lumix GH4 acaba por se assemelhar e muito às DSLR, tanto no design, como na estrutura, como na forma como os botões estão distribuídos ao longo do corpo do dispositivo.

Uma mais valia deste modelo é a sua resistência a salpicos e poeiras, o que garante logo à partida uma robustez que os consumidores muitas vezes não associam - e com razão - às máquinas de segmentos mais elevados.

A máquina em si é muito simples de manusear: do lado esquerdo está a roda que controla o modo de fotografia que se vai aplicar - simples ou disparo contínuo entre outros - e do lado direto está a roda das opções dos modos de fotografia - automática, manual, pré-definidos, entre outros.

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Existem depois alguns botões “espalhados” pela máquina que garantem o acesso a definições rápidas, mas cujo objetivo é permitir a evolução do utilizador para o caso de ainda não estar totalmente confortável com este segmento de equipamentos. No entanto e sobretudo ao início, o utilizador pode perder-se rapidamente e até sentir-se intimidado com tamanha possibilidade de personalização e exploração.

Tudo isto para dizer que ao nível de habituação esta é uma máquina de descoberta rápida e que o colocará rapidamente a fazer aquilo que mais importa nestes equipamentos, ou seja, tirar fotografias.

Ficam aqui alguns exemplos de composições conseguidas com a Lumix GH4:

Sobre a qualidade das imagens em si não há muito a dizer de negativo. A GH4 consegue uma reprodução fiel das cores não abusando da saturação. As imagens conseguem grande detalhe, ainda que o nível de nitidez por vezes possa deixar um pouco a desejar sobretudo se não tiver uma mão firme.

Uma mais valia é no entanto a forma como a máquina lida com a profundidade de campo conseguindo fazer uma boa distinção dos elementos - isto acontece também graças à boa dinâmica de contrastes que existe neste modelo da Panasonic.

O sensor de quatro-terços de 16 megapíxeis acaba por ter um desempenho não tão satisfatório quando as condições de luminosidade não são as melhores. Apesar de conseguir absorver bem a pouca luz que possa existir num determinado ambiente, o problema parece estar no facto de o “grão” atacar o ISO muito antes de ser definido para os níveis máximos.

E se a velocidade de focagem automática impressiona, assim como os 49 pontos que a máquina consegue detetar, a mim continua-me a encantar o sistema de focagem por pormenor - a máquina faz zoom ao elemento central da foto para que o utilizador possa fazer o melhor ajuste. Assim é difícil fazer com que a fotografia não saia definida e bem trabalhada.

Torne-se no seu realizador preferido

Mas se a fotografia é apenas o seu intuito, então talvez a GH4 é capaz de ser máquina a mais para si. Não pense nisto como um comentário rude, veja estas palavras como um conselho de investimento - e possivelmente de poupança.

É que os 1.500 euros pedidos pela máquina da Panasonic só fazem sentido se usar o equipamento para a produção de vídeos de alta qualidade - isto porque o modelo não o sabe fazer de outra forma.

Pode optar pelo já mais que comum Full HD onde vai conseguir uma grande fidelidade de cores e taxas de reprodução mais elevadas. Mas é nas suas capacidades de gravação em Ultra HD que está o grande diferenciador para uma boa parte do mercado.

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Além da qualidade das gravações, que garantem um grande detalhe e uma paleta de cores vivas, a vantagem da GH4 está na grande variedade de formatos e frequências que disponibiliza dentro do 4K. Tem opções suficientes para o utilizador explorar, evoluir e fazer trabalhos a sério. Por exempo, o bitrate da máquina pode ir até aos 200Mbps.

Pensando mesmo no que a máquina disponibiliza, talvez a GH4 fuja mais para um segmento profissional onde certamente haverá um melhor aproveitamento das características de vídeo. O ecrã principal acompanha toda esta tendência e pode ser movimentado numa grande variedade de posições e ângulos.

Mas de qualquer das formas, e apesar do Ultra HD já parecer em muitos casos a norma do mercado, o standard tem ainda muito para evoluir e a câmara Lumix pode ser uma boa companheira neste “início de viagem”.

Há no entanto a destacar pelo lado negativo a falta de uma maior estabilização na captação de vídeo, assim como alguma sensibilidade a mais nas variações de iluminação que podem surgir.

Considerações finais

Olhando para a experiência de utilização com a Panasonic GH4 não fiquei totalmente surpreendido: no sentido em que já sei o que a casa gasta e que a empresa japonesa tem-se dedicado a fazer boas máquinas, em vez de fazer máquinas boas.

Ainda que o preço de 1.500 euros seja exagerado para a carteira de muitos portugueses, a verdade é que a Lumix GH4 tem tudo o que à partida é necessário numa câmara deste preço: versatilidade, design bem conseguido, robustez, qualidade fotográfica garantida e muita qualidade de vídeo para explorar.

A GH4 tem ainda depois vários gimmicks que a médio prazo acabam tornar a experiência com a máquina mais agradável e eficaz: NFC, Wi-Fi, sensor de proximidade no viewfinder, modo silencioso que faz uma captação da fotografia em modo eletrónico e não mecânico, ou rajadas de 7,5 frames por segundo sempre com o foco ativo.

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E mesmo conseguindo atingir boas velocidades de obturação em rajada, achei no entanto que esta não será por exemplo a máquina mais indicada para fotografia de desportos e de ação. No geral, em disparos espontâneos, achei a resposta um pouco lenta, mas nada suficientemente relevante para condicionar a restante experiência de utilização.

Depois disto não espero ver mais câmaras Panasonic aos ombros dos turistas. Mas pelo menos sei que cada vez mais pessoas vão prestar atenção ao trabalho que a tecnológica japonesa tem feito e quem sabe, vão querer experimentar aquelas que têm sido algumas das boas máquinas fotográficas que existem no mercado.

E este foi também um bom aperitivo para o que aí vem: a Lumix G7 está quase a chegar ao mercado português e promete não só a mesma receita, como alguns ingredientes ainda mais apurados, sobretudo na área do vídeo 4K.

Rui da Rocha Ferreira