O primeiro “multibanco” de bitcoins instalado em Portugal está situado no @Cinema, salas de cinema do Saldanha Residence, em Lisboa. O espaço, apesar de não ser o primeiro a fazê-lo, também aceita pagamentos em bitcoins. Quer isto dizer que pode comprar o bilhete, as pipocas ou uma bebida através da moeda digital.



Mas antes de entrar para a sala para desfrutar do filme é necessário ter bitcoins, algo que muitos portugueses não têm. O TeK decidiu experimentar o primeiro “ATM” de bitcoins para perceber como é o seu funcionamento e também para entender até que ponto esta nova tendência das criptomoedas está acessível à generalidade da população.



A máquina pertence à Bitcoin Já, uma empresa portuguesa que quer especializar-se na comercialização de “multibancos” de bitcoins. Chamar “ATM” à máquina da Bitcoin Já pode ser um pouco “exagerado”. Em primeiro lugar porque o equipamento nem sequer aceita cartões multibanco, apenas funciona com notas. E a seguir porque ainda está limitada ao nível de funcionalidades comparativamente com outros sistemas multibanco.



Não deixa de ser no entanto uma associação válida e fácil de entender para a maioria das pessoas.



Em conversa com o TeK o diretor-executivo da Bitcoin Já, Joaquim Lambiza, revelou que uma das intenções da empresa nos próximos tempos é justamente ampliar o seu número de funcionalidades. Algo que pode passar pela possibilidade de associação de uma conta de utilizador ao perfil do PayPal, por exemplo.



Joaquim Lambiza também gostava de ver todas as restantes lojas do centro comercial Saldanha Residence aderirem aos pagamentos em bitcoins. Um dos exemplos que inspira o executivo da Bitcoin Já é o de uma avenida em Madrid, Espanha, onde todas as lojas lá existentes vão suportar pagamentos em bitcoins.



Mas como funciona afinal a máquina?

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Simplicidade na utilização

O “ATM” em si não é muito grande como é possível ver pela imagem. Existe um ecrã de interação, uma ranhura para entrada e saída de dinheiro, uma outra ranhura para a saída de talões/comprovativos de transação e um leitor de Códigos QR.



Ao utilizador são dadas três possibilidades: compra de Bitcoins (trocar euros por bitcoins); venda de bitcoins (trocar bitcoins por euros); e levantamento de bitcoins (levantar em euros a venda de bitcoins realizada).



Mas antes de começarem, todos os utilizadores vão precisar de uma carteira de Bitcoins num smartphone ou tablet. Existem várias, tanto para iOS como para Android. O TeK usou a carteira Mycelium disponível para o sistema operativo da Google.



Ao descarregar e instalar a aplicação – que pode ser feito no próprio local graças à Internet gratuita disponível – é automaticamente criada uma carteira para o utilizador. Esta carteira é identificada através de um código com vários caracteres ou visualmente através de um Código QR.



Quisemos então comprar bitcoins. Demos essa indicação à máquina que de seguida perguntou quanto dinheiro queríamos gastar. Dissemos 10 euros. Aproximamos o smartphone do leitor de Códigos QR e a transferência foi feita de imediato. Às 14:45H de 8 de outubro isso rendeu 0,035681 bitcoins. Quer isto dizer que a essa altura um bitcoin equivalia a 280 euros, sensivelmente.



Quisemos pouco depois vender alguns dos bitcoins comprados. Quisemos vender o equivalente a cinco euros. Vendemos um total de 0,019034 bitcoins pelas 15:03H. Nesse momento um bitcoin equivalia a 263 euros, sensivelmente.



Isto é um espelho da realidade que é o Bitcoin. Num curto espaço de tempo a moeda desvalorizou. Mas podia ter valorizado. Quer isto dizer que depois de transformar dinheiro em bitcoins o bilhete do cinema tanto pode ser virtualmente mais barato como mais caro. É um jogo constante e por isso é que tantas pessoas sentem-se atraídas por este ecossistema.



Depois de dada a ordem de venda dos cinco euros em bitcoins, a máquina dá um talão ao utilizador para depois fazer o levantamento do dinheiro. O talão traz um código QR que vai depois dar acesso ao dinheiro, após a devida validação. Não é possível levantar desde logo o dinheiro pois o sistema obriga a que a transação seja confirmada pelo menos três vezes por um dos muitos mineiros que existem em todo o mundo.

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E por falar em mineiros. Fique a saber que a cada compra e a cada venda é cobrada uma taxa de 3% para remunerar os mineiros que validam as transações efetuadas. Quer isto dizer que para, pelo menos, conseguir levantar o mesmo dinheiro que depositou, será necessário o Bitcoin valorizar cerca de 3%.



A dita transação pode variar entre 10 a 30 minutos. No caso do TeK demorou cerca de 50 minutos. O melhor é ir beber um café ou ler o jornal enquanto espera pelo levantamento das notas. Ou fazê-lo apenas no final do filme. Quando as validações estiverem feitas – algo que pode ser controlado através da aplicação móvel -, volte à máquina e aproxime o talão do leitor ótico. É feito o reconhecimento do montante que é depois “cuspido” em forma de notas.



Et voilá, compra e venda de bitcoins efetuada com sucesso e sem precalços.

Factos que deve ter em conta na utilização do “ATM” de bitcoins

- O limite máximo de cada transação, compra ou venda de bitcoins, é de 200 euros;

- A máquina só funciona com notas, não aceita moedas; quer isto dizer que só pode comprar ou vender 5, 10, 20, 50, 100 ou 200 euros em bitcoins;

- Depois de efetuar a venda de bitcoins, tem até 48 horas para levantar o dinheiro;

- cada movimento feito na máquina é comprovado por um talão em papel; um deles funciona até como fatura simplificada;

- caso o utilizador queira é possível pedir a fatura com número de contribuinte enviando o pedido para bitcoinja@bitcoinja.com com o respetivo número, nome, morada e número do talão fornecido pelo “multibanco”;

- se perder um papel que tem o código de levantamente qualquer outra pessoa pode levantar o dinheiro por si, tenha portanto cuidado redobrado neste aspeto;

- a taxa de 3% cobrada em cada transação já inclui o valor do IVA em vigor;


Mas se precisar de ajuda noutras questões, ela existe. Atualmente a Bitcoin Já tem uma assistente no local que presta auxílio aos utilizadores que queiram usufruir do “multibanco”. Kateryna Danchuk disse em conversa com o TeK que têm aparecido algumas pessoas a procurar a máquina. “Umas por curiosidade, outras para saber o que é o Bitcoin, outras para fazer negócio”, detalhou a funcionária. A referência ao negócio está relacionada com utilizadores mais avançados e que já trabalham com bitcoins há mais tempo.



Kateryna Danchuk revelou ainda que há de facto pessoas a usarem os bitcoins para comprarem bilhetes de cinema e pipocas. Recorda-se que esta é a semana de estreia do multibanco dos bitcoins em Portugal.



O diretor-executivo da Bitcoin Já, Joaquim Lambiza, espera que esta experiência e outras máquinas que estão planeadas para mais localidades portuguesas ajudem a dar visibilidade ao Bitcoin, isto por considerar que é um sistema que coloca fim a algumas injustiças verificadas no sistema financeiro tradicional.



O responsável da empresa portuguesa questionou, por exemplo, o direito dos bancos, em plena era da Internet, de cobrarem taxas altíssimas de transferências monetárias, sobretudo quando são feitas entre países.

Considerações finais

Com a máquina de Bitcoins instalada em Lisboa, e futuramente noutras regiões, a criptomoeda está mais acessível do que nunca. A máquina é fácil de utilizar, mas o sistema de conversão e de variação de valor da moeda pode não ser fácil de entender. Parece-nos que qualquer pessoa com dinheiro na mão e smartphone no bolso consegue facilmente converter euros em bitcoins, e vice-versa.

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Mas é recomendado que todos os interessados investiguem primeiro um pouco sobre as divisas digitais, sob pena depois de se sentirem enganados ou afortunados. A variação de valores do Bitcoin pode realmente ser agressiva e significativa.



E partindo desta análise, não deixa de ficar a sensação de que o “multibanco” de bitcoins é também no fundo uma máquina de jogo, como se fosse uma máquina de “títulos bolsistas”. Muitas pessoas que até aqui não tinham qualquer ligação ao Bitcoin vão sentir-se facilmente atraídas pela possibilidade de valorizarem o seu dinheiro, apenas da noite para o dia. Mas é importante não esquecer: o contrário, isto é, perder valor de dinheiro da noite para o dia, também pode acontecer.



O TeK vê a iniciativa como positivia para trazer mais alguma atenção e para clarificar sobre esta tendência que são as divisas digitais. Afinal, esta pode ser parte do futuro do sistema financeiro mundial.



Por agora vá ao cinema e compre umas pipocas com a moeda da moda.

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico