Numa altura em que abrem as candidaturas destinadas a preencher as 50.668 vagas existentes nas universidades portuguesas no ano letivo 2016-17, onde os cursos superiores na área das tecnologias são cada vez mais procurados pela sua elevada taxa de empregabilidade, o TeK foca também atenções numa forte alternativa a esse percurso: a formação profissional.

Esta é hoje uma sólida “ponte” estabelecida entre o ensino secundário e o mercado de trabalho para muitos estudantes – por um lado, encontramos nesta situação muitos jovens que não conseguem reunir resultados escolares suficientemente bons para conseguirem entrar nas faculdades públicas ou privadas; por outro, englobam-se neste grupo aqueles que preferem não enveredar pelo mundo universitário, principalmente porque pretendem especializar-se numa área e aceder rapidamente ao mercado de trabalho.

E as tecnologias são uma das áreas prediletas de muitos alunos para entrarem neste universo de formação, pelo que o TeK traça uma panorama resumido sobre a oferta de cursos profissionais atualmente mais procurados e com maior sucesso no acesso a bons empregos em empresas tecnológicas, que muitas vezes dão mais importância às skills demonstradas do que à frequência de cursos superiores.

Temos os testemunhos dos responsáveis por algumas dessas empresas e ainda a visão de algumas escolas profissionais, que tanto garantem formação após ensino secundário como asseguram opções para quem deseja terminar este nível com mais proximidade face ao mercado de trabalho.

A “modalidade” de formação mais imediata

Atentemos nas opções de formação profissional que podem servir de alternativa ao ingresso numa universidade, aqueles cuja pesquisa inicia quando o 12º ano está terminado. E especialmente nas áreas das TI, pois sabemos de antemão que são os que as empresas tecnológicas mais procuram.

Neste sentido, são os Cursos de Especialização Tecnológica (CET) que melhor estão colocados para satisfazer as necessidades de jovens e adultos que procurem especializar-se em determinada profissão do sector. Como podemos saber através do site da Direção-Geral do Ensino Superior, em Portugal um curso de especialização tecnológica é um curso pós-secundário não superior, que tem por objeto a formação profissional especializada.

Caracteriza-se por ser uma “formação técnica de alto nível, incluindo conhecimentos e capacidades que pertencem ao nível superior, com as capacidades e conhecimentos adquiridos através dela a permitirem assumir, de forma geralmente autónoma ou de forma independente, responsabilidades de conceção, direção ou gestão”.

O Quadro Nacional de Qualificações classifica estes cursos no nível 5, gerando quadros intermédios especializados com Diploma de Especialização Tecnológica (DET).

Para proceder à candidatura, é preciso ter o 11º ano completo e a inscrição no 12.º ano, pelo menos, ou um nível 3 já adquirido. E cada curso inclui formação geral e científica, formação tecnológica e formação em contexto de trabalho, com duração entre 1.200 e 560 horas, que correspondem a um ano ou ano e meio de formação.

Os cursos mais “por dentro” das TI

Dentro do universo das novas tecnologias, os CETs que podemos encontrar na lista que a Direção-Geral do Ensino Superior divulga (ficheiro Excel) são os que apresentamos abaixo, sendo possível informação adicional no site deste organismo público.

- Automação, Robótica e Controlo Industrial
- Tecnologia Mecatrónica
- Tecnologias e Programação de Sistemas de Informação
- Telecomunicações e Redes
- Tecnologia Mecânica
- Tecnologias e Programação de Sistemas de Informação
- Gestão de Redes e Sistemas Informáticos
- Desenvolvimento de Produtos Multimédia
- Aplicações Informáticas de Gestão
- Automação, Robótica e Controlo Industrial

E consultar a listagem referida acima é indispensável, pois acaba por ser a forma mais eficaz de localizar o curso desejado por cidades e localidades, identificando as escolas, entidades e centros que os disponibilizam, sendo que as inscrições devem ser efetuadas junto dessas organizações. E estas podem ser Centros de Formação Profissional (da rede sob coordenação do Instituto de Emprego e Formação Profissional, de gestão direta ou participada), ou Escola Tecnológicas, tuteladas pelo Ministério da Educação.

Uma outra ajuda fundamental para quem está interessado em frequentar o ensino tecnológico e profissional pode ser o extenso guia sobre o tema que o Portal da Juventude tem no seu site.

Por outro lado, existe um sem número de empresas privadas que disponibilizam bons cursos de formação profissional na área das novas tecnologias, apesar de, em muitos casos, os preços serem bastante elevados, um tema que vamos abordar num próximo artigo. Para já, vale perceber qual a posição de algumas empresas tecnológicas.   

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Tecnológicas contratam não licenciados?

A resposta é sim. Ter um curso superior de engenharia ou noutra área bastante especializada nas novas tecnologias é sem dúvida uma mais-valia sob o ponto de vista das empresas que atuam (e contratam) na área, como vimos recentemente na nossa abordagem às profissões que estão a revolucionar o mercado das TIC. Mas as mesmas empresas que dão primazia, muitas vezes, aos licenciados e mestres, também olham para o mercado em busca de colaboradores provenientes dos bons cursos de formação profissional. A PHC Software e a ROFF são dois desses casos…   

“Ter um curso superior é uma vantagem, mas a formação profissional é também importante, pois valorizamos muitíssimo a experiência e o know-how técnico que os profissionais trazem, venham eles da formação superior ou da formação profissional”, explica Luís Antunes. O Diretor de Recursos Humanos da PHC Software diz que no seio da empresa é normal “olhar para cada pessoa como um conjunto de aprendizagens (académicas ou não) e competências” e confessa que contam de momento com vários colaboradores “só com formação profissional, pessoas que cresceram dentro da empresa, muitos deles seniores e coordenadores de equipas”.

Também na ROFF, que conta com mais de 850 colaboradores em todo o mundo, existe a mesma realidade. Sílvia Gusmão, diretora de recursos humanos da empresa de consultoria em TI e software. “Ter um curso superior na área das tecnologias é requisito preferência, no entanto não é fator de exclusão. Damos sempre preferência às competências individuais que aferimos após a nossa entrevista individual”, explica. Entre os colaboradores da ROFF em Portugal há “profissionais que não têm cursos superiores, mas investiram sim em formação profissional”.

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Sílvia Gusmão, diretora de recursos humanos da ROFF

Que curso escolher?

Por outro lado, na hora de escolher um curso profissional, a responsável da ROFF refere que “todos os cursos profissionais que estejam ligados às áreas das TI e gestão de serviços TI acabam por ser importantes”.

Já Luís Antunes, da PHC, acha que “optar pela área da programação pode ser uma boa opção. Nomeadamente programação nas novas tecnologias, sobretudo na área web, para a qual se está a deslocar todo o software. É preciso estar atento às linguagens de programação que existem, às tendências e ao que as empresas mais pedem e utilizam”, sugere o responsável pelos recursos humanos da empresa.

“A especialização dentro da área de IT é cada vez maior e esta é uma tendência para o futuro, em que as profissões são cada vez mais especializadas”, refere Luís Antunes, apontando soluções para o futuro sob o ponto de vista da PHC: “Podemos antecipar uma nova geração a chegar ao mercado, os millennials, que nasceram ligados às redes sociais e à Web, pelo que antevemos profissões de futuro também muito ligadas à capacidade de gerir a interatividade social, de tornar a usabilidade das tecnologias cada vez mais fácil e intuitiva, tanto ao nível da programação como do aspeto gráfico e da experiência do utilizador”.

“As tecnologias da informação serão sempre o futuro”, acredita Sílvia Gusmão, da ROFF, que “continua a crescer e a precisar de reforçar a sua equipa”. A empresa é muito direcionada para a consultoria e software de gestão SAP, avançando as atividades associadas a eventuais profissões de futuro. “Nos dias que correm é inevitável acompanhar as necessidades do mercado tendo em conta as novas tendências tecnológicas”, aconselha a quem procura um curso profissional para determinar o seu futuro no mercado de trabalho.

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Opções de formação equivalentes ao ensino secundário…

Até aqui temos abordado a questão da formação profissional para solução alternativa à frequência universiatária e após conclusão do 12º ano, mas não podemos esquecer que existem opções para os estudantes que ainda não terminaram o secundário, as mesmas que muitos encaram também como uma forma mais proveitosa de fazerem a “ponte” entre o 9º ano e a faculdade. E muitos deles encontram emprego na área das tecnologias ainda antes disso, dada a qualidade de alguns cursos.

Estamos a falar dos cursos profissionais denominados de Cursos de Aprendizagem, que consistem no “percurso do ensino secundário com a duração de três anos letivos e com uma forte ligação ao mundo profissional”, como os apelida a Escola Gustave Eiffel. Esta é uma escola profissional tutelada pelo Ministério da Educação (um tipo de organismo diferente dos Centros de Formação Profissional, que dependem do IEFP) que disponibiliza várias opções do género, de frequência gratuita, e com atenções viradas para a área das novas tecnologias.

São vários os cursos profissionais que esta instituição tem em aberto neste segmento de formação, com destaque para as opções que permitem formar técnicos de Gestão de Equipamentos Informáticos, Eletrónica e Telecomunicaçãoes, e Automação e Comando, entre vários outros. No âmbito destes cursos, a Gustave Eiffel dinamizou em junho as I Jornadas Técnicas das Engenharias, por exemplo, numa tentativa de ressalvar a importância que estes níveis de formação podem ter no futuro profissional de muitos jovens.

Outro exemplo de escola profissonal é a Escola Digital, especializada nas áreas das ciências informáticas, dos audiovisuais e da produção de media, conforme afirma o diretor Luís Sebastião. A lista de cursos incluiu de formação inclui Gestão e Programação de Sistemas Informáticos, Gestão de Equipamentos Informáticos, Multimédia, Desenho Digital 3D e Fotografia, com “uma média de 65% quanto à taxa de empregabilidade”. Tudo ao fim de três anos letivos e com atribuição de Certificado Profissional de Nível IV da União Europeia, como é comum neste tipo de formação. Por sua vez, os cursos de formação profissional que normalmente são alternativa à universidade atribuem os níveis V.

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Luís Sebastião, diretor da Escola Digital

“O número de vagas especializadas em TI está a crescer em Portugal”, observa Luís Sebastião. “Recomendaria estes cursos não somente para quem pretende procurar emprego em áreas de TI num intervalo de três anos, mas também para quem pretende prosseguir estudos em áreas de TI, obtendo uma licenciatura e posteriormente integrar o mercado de trabalho”, aconselha o direto da Escola Digital.

Escolas privadas complementam o leque de opções

Depois, tal como no universo das universidades em Portugal, são várias as escolas e empresas de formação privadas que disponibilizam ofertas bem compostas no que diz respeito a cursos na área das novas tecnologias. A ETIC é um exemplo de escola de formação que aposta nas TI, em Lisboa, e em temáticas tão diversificadas neste âmbito como design, fotografia, media interativo e videojogos, isto sob o ponto de vista das alternativas à universidade, normalmente para estudantes que já terminaram o 12º ano.

Mas esta empresa tem uma “subsidiária”, por assim dizer, que se dedica à formação que substitui e dá equivalência ao ensino secundário. Trata-se da Escola Profissional de Imagem (EPI), também em Lisboa e com ligação ao Ministério da Educação, que destaca, por exemplo, os cursos Multimédia, Animação 2D e 3D, Fotografia e Vídeo, e Música e Som como opções mais procuradas.

“Estes são cursos atrativos que promovem as competências profissionais e técnicas nos jovens, permitindo-lhes iniciar o seu percurso profissional, mas possibilitando-lhes ainda o acesso ao ensino superior”, garante José Pacífico, diretor da escola, acreditando que “esta qualificação de quadros criativos e autónomos, que utilizam com extrema argucias as capacidades das novas tecnologias, é um elemento diferenciador e de muita necessidade no tecido produtivo de Portugal”.  

O responsável pela EPI avança taxas de empregabilidade para estes cursos que podem ir aos 90% nas melhores das hipóteses, sendo que “não nos podemos esquecer que são áreas em que o modelo de contratualização é diferente, assentando numa lógica de projeto e não de função”. José Pacífico refere que estes são cursos “que possibilitam a conclusão do ensino secundário por uma via mais prática, mais eficiente e, acima de tudo, com mais qualidade para o percurso profissional do jovem”. No fundo, são “miúdos de 17 e 18 anos” que concluem o ensino secundário a saber “fazer coisas”. “São os nossos jovens qualificados e competentes”, diz.

Jorge Daniel Lopes