Tal como era já previsto nos últimos meses de 2008, o sector das tecnologias da informação e comunicação não escapou incólume à crise económica, que teve impacto nas vendas de equipamentos e na capacidade de investimento em inovação, mas que também trouxe uma intensificação da concorrência entre empresas, à procura de explorar um mercado mais “estreito”.

Talvez por isso, o balanço de 2009 não se faz tanto pelos novos produtos lançados, embora existam alguns que não podem deixar de ser assinalados, mas mais pela pressão das entidades reguladoras, que mostraram uma mão pesada nas questões da concorrência e uma atenção redobrada aos temas da privacidade e defesa do consumidor.

O reforço da mobilidade e a aposta nas Redes de Nova Geração continuam também a ser temas incontornáveis, com desenvolvimentos prometidos para os próximos meses, assim como as questões dos direitos de autor vs “pirataria”.

À semelhança do que temos feito noutros anos, o TeK reuniu os temas que marcaram a actualidade em 2009, recordando as principais polémicas e tendências, aqui apresentadas sem uma ordem particular.

Siga as páginas propostas ou salte para o tema que mais lhe interessa, mas aproveite também as caixas de comentários para deixar as suas impressões sobre o ano que agora termina.

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Olhar atento sobre a concorrência
Mesmo em final de mandato, que acabaria por ser renovado com a liderança de Durão Barroso já perto do último trimestre, a Comissão Europeia continuou a mostrar que quer manter mão pesada e olhar atento às questões da concorrência na tecnologia. A multa recorde aplicada à Intel mostra mais uma vez que as empresas norte-americanas não escapam ao escrutínio europeu que pode demorar mas tem efeito garantido.

Depois de muita análise e troca de informação ao longo dos últimos sete anos, o executivo europeu acabou por aplicar à gigante de semicondutores uma multa de 1,06 mil milhões de euros por abuso de posição dominante. O processo está ainda longe de chegar ao fim, sobretudo por causa dos processos de apelo, mas prova mais uma vez que a garantia da manutenção da concorrência é uma das questões chave para Bruxelas.

Neste caso, aliás, a validação por parte da CE do abuso da concorrência já deu azo a um processo em terras do Tio Sam, com a Comissão Federal das Comunicações a abrir um processo contra a Intel no início de Dezembro por práticas monopolistas.

A situação é de tal forma grave que a Intel já tomou a iniciativa de resolver as disputas pendentes com a AMD, pagando 1,25 mil milhões de dólares à principal concorrente que estava a tentar asfixiar, pelo menos a julgar pelas provas apresentadas pelos reguladores…

A verificação exaustiva pode porém ser contraproducente em algumas situações, como é o caso da proposta de compra da Oracle sobre a Sun que ainda não recebeu luz verde de Bruxelas, apesar do processo já estar desbloqueado há alguns meses nos Estados Unidos. As queixas avolumam-se sobre este atraso na decisão, mas a direcção da concorrência já disse que precisava de mais tempo e só em Novembro apresentou as suas objecções ao negócio, relacionadas sobretudo com a preocupação com a manutenção da base de dados open source mySQL.

A Oracle apressou-se a dar garantias, que foram entretanto bem vistas por Bruxelas, que mesmo assim deverá esperar para Janeiro para comunicar a decisão final.

Não é por estar ocupada com a Intel e a Oracle que a Comissão Europeia deixou de ter debaixo de olho a Microsoft. Embora em Março se tenha verificado uma redução na monitorização relativa às questões do sistema operativo e da interoperabilidade, que motivou a multa em 2004, em 2009 foi o Internet Explorer e a sua integração no Windows que gerou uma disputa mais acesa. Logo no início do ano Bruxelas levantou dúvidas sobre a limitação à concorrência no mercado de browsers e, depois de muita negociação sobre a forma e o formato, a Microsoft acabou por avançar com uma proposta para apresentação aos utilizadores de mais opções na instalação do navegador.

O formato final aprovado já em Dezembro dará aos utilizadores europeus a possibilidade de escolher entre 12 navegadores de Internet a partir de Março de 2010, alargando a oferta aos sistemas operativos Windows Vista e XP, para além do novo Windows 7.

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Telecom reformadas na Europa

Da “fornalha” europeia não saíram este ano apenas grandes decisões sobre regulação e concorrência. Depois de vários recuos e igual número de avanços, o Conselho de Ministros da União Europeia aprovava finalmente, a 24 de Novembro de 2009 , o pacote de revisão do quadro regulamentar europeu das telecomunicações, comummente designado por “pacote das telecom”.

A proposta inicial tinha sido apresentada pela Comissão Europeia em 2007, e neste período de tempo os textos legislativos para as telecomunicações foram alvo de reformulação, de modo a assegurar resposta às exigências feitas pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho Europeu.

Do consenso entre as partes conseguido no início de Novembro de 2009, resultou um texto final com 12 pontos, com vista a contribuir para uma maior competição entre os operadores de telecomunicações e reforçar os direitos dos consumidores, nomeadamente, na telefonia móvel e Internet.

Entre as medidas previstas está a criação do Organismo de Reguladores Europeus das Comunicações Electrónicas (ORECE), através do qual se pretende aumentar a cooperação entre os reguladores nacionais e entre estes e a Comissão Europeia.

Foi igualmente aprovada a directiva que altera a legislação sobre privacidade, serviço universal e defesa do consumidor, reforçando a protecção do consumidor e os direitos dos utilizadores dos serviços de comunicações electrónicas, nomeadamente dos utilizadores com necessidades especiais.

Entre os 12 pontos abrangidos pelo pacote das telecomunicações está o direito de mudar de operador fixo ou móvel em 24 horas, mantendo o número antigo, e - uma das questões que gerou mais polémica - a garantia que, embora sob ameaça da suspensão sem recurso aos tribunais, o acesso à Internet é assegurado dentro dos direitos fundamentais e liberdades dos cidadãos.

Face às dúvidas de interpretação geradas pela linguagem demasiado formal dos órgãos europeus, o Parlamento colocou online um conjunto de perguntas e respostas onde explica os contornos das medidas de suspensão do acesso à Internet mediante a nova lei para as telecomunicações.

Numa página do seu portal, o PE explica que as leis nacionais não terão de prever um processo judicial, ou seja, a suspensão não tem de ser declarada por um tribunal, mas os Governos estão impedidos de cortar automaticamente o acesso.

Polémicas de corte do acesso à Internet à parte, a criação do ORECE está prevista para a Primavera de 2010, e a transposição do “pacote das telecom” para a legislação nacional dos 27 Estados-Membros da UE terá de acontecer até Junho de 2011.

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Direitos de parte a parte
Direito de autor, direito à privacidade e direito à liberdade de expressão misturaram-se ao longo de 2009 numa luta para a qual não parece existir final anunciado.

Por um lado temos os “suspeitos do costume” a exigirem o retorno financeiro que lhes é devido por representarem os autores dos conteúdos que circulam na maior parte das vezes de forma ilegal na Net – e que também acabarão por receber a sua, embora na maior parte das vezes muito pequena, quota-parte de recompensa. Por outro temos internautas ameaçados de corte de Internet, sem recurso aos tribunais, pelo uso supostamente menos próprio das larga capacidade de acesso contratada.

Mas as violações dos direitos relacionados com a condição humana não se esgotam nestas duas vertentes. O Google Street View parece ter nascido numa das vezes em que a fronteira da privacidade ficou ligeiramente esquecida no ciberespaço, a contar pelo número de queixas apresentadas, durante este ano, pelos países onde marca presença

Juntando à privacidade o direito à liberdade de expressão, com certeza que se lembrará da China. Desde as medidas extremas no combate à dependência da Internet e dos jogos à filtragem do acesso e dos conteúdos online, são várias as restrições impostas pelo regime político chinês aos internautas e fornecedores de serviços em nome da “moral e dos bons costumes”.

Depois do polémico Green Dam - Youth Escort - que por fim, e graças à forte pressão internacional acabou por ser instalado apenas nos computadores de acesso público -, as últimas notícias de Pequim dão conta do bloqueio de mais de 500 sites peer-to-peer e do encerramento de milhares de páginas pessoais.

Já a mais recente investida das autoridades chinesas à Internet resultou na exigência de criação de uma lista de sites cuja utilização carece de aprovação. Os endereços que não constem da lista de "autorizados" não estarão acessíveis aos internautas chineses.

Numa decisão polémica, a Austrália também anunciou que irá adoptar um sistema de filtragem do acesso à Internet. O sistema tem vindo a ser testado nos últimos sete meses e terá mostrado eficácia no bloqueio ao acesso a sites de pedofilia, crime, violação e detalhe de utilização de drogas.

Dias difíceis para a liberdade de expressão e para a privacidade do outro lado do mundo...

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Microsoft reforça armas num mercado cada vez mais aguerrido
A pressão sobre a Microsoft tem vindo a aumentar também do lado da concorrência. Embora nos sistemas operativos este não tenha ainda sido o ano da explosão do Linux, como esperavam alguns dos comentadores do TeK no fecho de 2008, a empresa da Redmond continua a não conseguir liderar em áreas tão importantes como a pesquisa e publicidade na Internet e as plataformas móveis.

Nestas duas áreas a empresa fez importantes modificações da sua oferta em 2009, com o lançamento do motor de busca Bing, e a aliança com a Yahoo, que não passa pela compra proposta no ano passado mas por uma parceria comercial. Mas apesar da aposta da Microsoft, o domínio da Google parece continuar incontestado.

Já no âmbito das plataformas móveis o número de concorrentes continua a aumentar e a Apple lidera ainda em inovação com o iPhone. O modelo de negócio diferente que a Microsoft tem mantido para o Windows Mobile não ajuda à notoriedade deste sistema operativo móvel e por isso a empresa lançou uma “marca”, o Windows Phone, que pretende conseguir maior reconhecimento dos utilizadores mas também fundir de forma mais eficiente a produtividade empresarial e o lazer, mas as alterações introduzidas à versão 6.5 não foram suficientemente profundas e o mercado parece estar a fazer um compasso de espera para a versão 7, que só chegará no final do próximo ano.

Num ano cheio de novidades da linha de produtos, a Microsoft lançou também a 22 de Outubro o novo sistema operativo Windows 7, procurando apagar a má imagem deixada pelo Vista e conquistar os utilizadores finais e as empresas com um sistema mais robusto e mais rápido, que garante retrocompatibilidade com as aplicações do XP.

No topo da lista das aplicações mais rentáveis, o Office foi também renovado, com novas propostas também online, mas a versão final só chega em 2010. A beta que foi lançada em Novembro está porém a ter grande disseminação , trazendo já para os computadores os benefícios da melhor ligação entre aplicações e funcionalidades avançadas de edição e colaboração.

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Mobilidade em toda a linha

Em 2009 os portáteis perderam peso e ganharam elegância para dar ânimo a uma nova tendência, a dos netbooks. Na mobilidade de colocar ao ouvido marcaram o ano as opções crescentes ao nível do software.

Dos portáteis aos smartphones a mobilidade é um conceito que faz cada vez mais sentido, no mundo as empresas e entre utilizadores privados. Na informática mais tradicional os netbooks são a buzzword do ano. Não que os primeiros produtos deste novo segmento de mercado sejam uma exclusividade de 2009, mas foi sem dúvida no ano que antecede a primeira década do milénio que se instalaram como segmento de relevo no mercado de forma tão vincada, que acabaram por se tornar no motor de crescimento de um universo afectado pela crise económica e pelo prolongar, além do que é habitual, dos prazos de renovação de equipamentos nas empresas, com impacto positivo inclusive no mercado dos processadores.

O conceito de netbook é tão emergente que já o peso nas vendas de portáteis era grande ainda se discutia o que é afinal um netbook e qual a diferença relativamente a um notebook.

No fecho do ano podemos dizer que não há fabricante que se preze que não tenha oferta nesta área. Olhando para todas as propostas e fazendo um apanhado das principais características são habituais preços abaixo dos 500 euros, uma aposta na autonomia das baterias e nas aplicações que facilitem a experiência online, para além da conectividade 3G e da câmara integrada.

O design e a capacidade de processamento destas mini-máquinas, em boa parte dos casos usadas como segundo PC, são provavelmente as evoluções que mais marcaram o ano.

Em Portugal e um pouco em contra-ciclo com o resto da Europa, as vendas de portáteis mantiveram-se em alta e até aumentaram 30 por cento face ao ano anterior, de acordo com o Observatório da Toshiba. A fabricante explica a evolução com a já referida venda crescente de netbooks e também com o impacto de programas governamentais como o e-escola, menos intenso este ano, mas nem por isso menos importantes na performance do mercado. Estes programas governamentais também deram um empurrão decisivo à banda larga móvel, que continua a escalar ranking e a afirmar-se como alternativa aos tradicionais ADSL e cabo.

Mas é na área dos dispositivos móveis, dos smartphones, que há mais história para contar. A Apple lançou a terceira geração do Iphone, 2ª em Portugal, com menos "burburinho" que em versões anteriores mas igualmente importante para enraizar a moda dos touch-screen, que lançou para o mercado e este, em 2009, definitivamente adoptou. Optimus e Vodafone continuaram a parceria com a marca da maçã e a TMN manteve a aposta em alternativas "tocáveis".

Foi também a meados do ano que chegou a Portugal o primeiro equipamento com sistema operativo da Google, vendido em operador, o HTC Magic. TMN e Vodafone disputaram quase ao minuto o pioneirismo do lançamento que seria o primeiro entre vários com o software da Google. Envolto desde o início, o Android acabou no fim de contas por não descolar este ano. Vários estudos asseguram que o lançamento de uma oferta mais vasta de equipamentos com o SO da Google em 2010 dará o empurrão necessário.

Ainda assim, já é certo que o mercado de sistemas operativos nunca mais será o mesmo depois de 2009. Não só porque o Android foi lançado, ou o sistema operativo por trás do iPhone, ou porque a Nokia - uma das principais promotoras do Symbian, que este ano passou para o domínio de uma Fundação - reforçou a aposta no open source com mais um lançamento de um telemóvel baseado no sistema operativo de código aberto Maemo - já à venda em Portugal -, mas porque subjacente a tudo isto estão novos modelos de operação. O sistema operativo móvel passou a ser uma base que se completa com o mundo de aplicações disponíveis nas lojas online associadas às plataformas.

A loja de aplicações da Apple continua a ser a líder na quantidade da oferta, mas a concorrência é cada vez maior. Mesmo os actores mais tradicionais deste mercado se adaptaram à nova realidade. Como a RIM ou a Microsoft, que durante o ano também lançaram lojas próprias. Localmente também houve novidades a este nível, com os lançamentos das App Stores da TMN e da Vodafone.

E mais novidades se esperam para 2010 como o bada, um sistema operativo desenvolvido pela Samsung já mostrado mas ainda não lançado, que no próximo ano deverá substituir a utilização do Symbian, que actualmente "alimenta" os telefones da marca.

Tudo indica que o futuro seja sinónimo de personalização, à luz do que oferecem as propostas já disponíveis ou prestes a chegar ao mercado. Cada utilizador escolhe as aplicações que mais lhe agradam e completa a base de software já contida no dispositivo. A isto juntam-se um conjunto de funcionalidades onde as opções de conectividade têm destaque. Seja para dar acesso à Internet, ligar dispositivos entre si ou oferecer serviços de georeferenciados. Nesta área merecem especial destaque no ano que agora termina os serviços de mapas que as capacidades GPS levaram para os telemóveis, tornando-os cada vez mais populares e "desprendidos" dos dispositivos que os popularizaram e que os limitavam ao tabliet do carro, para se afirmarem como mais uma funcionalidade do smartphone, como fez a portuguesa NDrive.

No próximo ano mais passos serão também certamente dados ao nível da convergência entre smartphones e portáteis. De 2009 segue o exemplo do Booklet apresentado pela Nokia.

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E-escolas e e-escolinhas: de ferramenta educativa a polémica política

Mais ligado a este cantinho à beira mar plantado, a evolução da mobilidade fez-se também pelo grande impacto do programa e-escola e e-esc olinha, um programa governamental que levou à distribuição de mais de 1 milhão de computadores portáteis entre os estudantes e professores portugueses a preços reduzidos, recorrendo aos fundos criados pelas operadoras móveis para a Sociedade da Informação.

Primeiro pensado para os alunos do secundário e Novas Oportunidades, mas depois alargado sucessivamente a outros escalões de jovens, o e-escolas previa a distribuição de computadores portáteis a um custo máximo de 150 euros com fidelização a serviços de banda larga móvel pelo período de um a três anos, dando aos estudantes uma ferramenta essencial para a Sociedade do Conhecimento.

Reconhecido o sucesso desta iniciativa, o Governo decidiu avançar também com o e-escolinha (ainda em 2008), para alargar ao primeiro ciclo do ensino básico o uso de portáteis, com o famoso Magalhães. Mas este programa esteve longe do sucesso do e-escola, pelas dificuldades de logística e pelas dúvidas que a própria adjudicação directa da compra de meio milhão de equipamentos à J.P. Sá Couto levantou, até da própria Comissão Europeia.

O assunto está longe de estar plenamente resolvido e já no início de Janeiro o Magalhães vai estrear os inquéritos parlamentares de 2010, onde as contas da Fundação criada para gerir os dois programas vão ter análise atenta.

Com a mudança do ciclo político em Setembro, embora com a reeleição de José Sócrates para Primeiro Ministro, os dois programas entraram em banho maria, com o atraso na entrega de novos códigos aos alunos e a promessa de garantir novos portáteis para o primeiro ciclo a ficar dependente de um concurso público internacional cujo caderno de encargos tarda a ver a luz do dia e que deverá remeter a entrega dos eventuais computadores seleccionados para o terceiro período escolar.

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Acesso reservado a “pagantes”
Anuncia-se como uma tendência incontornável, mas tem vindo sucessivamente a ser adiada. Os conteúdos pagos são um objectivo para muitas empresas prestadoras de serviços online, embora continuem a ser encarados como uma espécie de pesadelo pela maior parte dos internautas.

A música e os filmes lideram este “ranking” de desejo, por um lado, e receio por outro. Em determinado momento de 2009 temeu-se uma alteração de fundo na tendência em direcção aos conteúdos pagos, até então por confirmar: o dia em que foi anunciada a compra do The Pirate Bay pela empresa de software sueca Global Gaming Factory X (GGF).

O negócio, avaliado em 60 milhões de coroas suecas (cerca de 5,5 milhões de euros), preocupou os seguidores daquele que é considerado um dos marcos resistentes do peer-to-peer, já que se anunciavam alterações ao modelo de negócio, que passaria da partilha gratuita para o download pago, de modo a compensar todas as partes, justificavam na altura os responsáveis da GGF.

Onze meses volvidos após o anúncio de compra, a polémica em redor do serviço e dos seus criadores mantém-se, tal como a troca de ficheiros gratuita, apesar de todos os boicotes entretanto promovidos, como foi exemplo o bloqueio - que resultou na saída “do ar” do TPB - promovido por uma das empresas que geria o tráfego para o site, acatando uma ordem do tribunal.

A área é diferente, mas a luta pelos conteúdos pagos é idêntica. Serviços do Google como o News e o Books ensombram quanto baste as aspirações de autores, editoras e empresas de media que ao longo de 2009 fizeram notar o seu descontentamento.

A polémica levou a que a gigante da Internet alterasse a sua estratégia, por exemplo no projecto de digitalização de livros, optando por estabelecer parcerias locais para a disponibilização de conteúdos.

Na vertente das notícias, foram conhecidas há pouco tempo algumas alterações, com o Google a anunciar a reformulação do serviço , que entre outras novidades passou a facilitar a remoção de conteúdos por parte de quem os produz, e a limitar o número de notícias gratuitas a que os utilizadores podem ter acesso a um máximo de cinco por dia.

As alterações surgiram na sequência de críticas por parte dos editores de conteúdos jornalísticos. A empresa estava a ser acusada de lucrar em publicidade ao promover o acesso gratuito, a partir do seu motor de busca e do Google News, a conteúdos pagos.

A indústria dos media tem sido um dos sectores que nos últimos tempos mais tem discutido - e em alguns casos optado - a cobrança no acesso aos “produtos” que disponibiliza online.

Esta será uma tendência a confirmar durante 2010 que em Portugal já tem seguidores, atendendo às declarações recentes de responsáveis de dois grandes grupos de media nacionais, que alegaram querer ser os primeiros a cobrar por conteúdos digitais logo que exista oportunidade para isso.

Caso para perguntarmos: “Não há notícias grátis no futuro?”

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Redes sociais ao rubro

As redes sociais foram inegavelmente um dos temas centrais do ano que agora termina, na área da tecnologia. A competição entre plataformas está acérrima e os esforços para estender a abrangência e as formas de lhes aceder também.

Focando na realidade portuguesa, dados de Novembro da Marktest mostram que 1,36 milhões de portugueses acediam a este tipo de plataforma, cerca de 16,4 por cento da população, com mais de 15 anos. Por esta altura ainda o Hi5 dominava as preferências dos portugueses, mantendo uma tendência já com alguma tradição.

Mas o ano não fecha sem que Portugal se junte a uma espécie de febre mundial de Facebook e mesmo em vésperas de Natal chega a confirmação da mesma fonte: o Hi5 foi passado para trás pela rede social que já soma mais de 350 milhões de clientes em todo o mundo. Em utilizadores únicos o Hi5 continua a liderar em Portugal, mas em número de páginas visitadas o Facebook liderou em Dezembro.

A renovação que o serviço tem vindo a fazer e a rede de parcerias e aplicações que suporta no seu ecossistema explicam a crescente capacidade para atrair utilizadores e, sobretudo, mantê-los activos durante mais tempo e a saltar entre páginas.

As redes sociais tornaram-se um caso tão sério de popularidade que algumas empresas até começam a ver nisso um problema. Ao longo do ano foram surgindo várias notícias dando conta da proibição do uso em locais de trabalho.

Em Outubro um estudo dava conta que metade das empresas americanas já bloqueavam o acesso a redes sociais, com medo do impacto na produtividade. Na Europa também houve nota de medidas idênticas/a>, na Suíça, por exemplo. Também surgiram algumas contas exactas do peso desta nova forma de entreter online na actividade das empresas.

Falar no sucesso de serviços sociais online em 2009 é também sinónimo de Twitter. Com um conceito diferente de plataformas como o Facebook, o Hi5 ou o MySpace, o serviço do passarinho azul é uma espécie de diário ao minuto com não mais de 140 caracteres por desabafo. O pássaro ganhou asas ao longo do ano e transformou-se numa moda. Pelo que dizem os estudos, focada numa faixa etária ligeiramente superior àquela que predomina nas redes sociais "tradicionais", mas nem por isso menos capaz de tornar ténue a linha entre a realidade e o virtual. Isso mostra o facto de em 2009 ter sido emitida a primeira decisão judicial na plataforma contra o responsável anónimo de um perfil em nome de alguém que não era.

Outro indicador claro de sucesso das redes e serviços sociais online é o facto de terem também ao longo deste ano chegado em força aos telemóveis, permitindo aos utilizadores através destes dispositivos actualizar o perfil ou receber mensagens colocadas na plataforma online. Há também novas ferramentas de pesquisa para esta área - como lançou a Google ou a Microsoft, através do Bing. E muitos outros exemplos poderiam ser dados de ferramentas que foram surgindo para tirar partido deste sucesso que até fez destas plataformas um dos locais de eleição para chorar a morte de famosos, como aconteceu com Michael Jackson.

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Redes de Nova Geração assentam arraiais

O tema das redes de nova geração entrou em 2009 já "aquecido" pelas polémicas que transitaram do ano anterior. Já com investimentos anunciados no mercado, mesmo sem uma clara definição regulatória, as empresas apelavam a uma clarificação do modelo proposto pelo Governo e pelo regulador para Portugal. A Sonaecom com um plano de investimentos a três anos estava ao lado dos restantes operadores alternativos na defesa de um modelo de partilha de infra-estruturas. Uma proposta que continuava a não ser do agrado da PT, que manteve uma posição sobre o tema com alguns pontos de convergência com a da Zon.


Ao longo do ano as decisões avançaram, logo em Janeiro foi assinado com vários operadores um protocolo que facilitava condições de acesso ao crédito para investimento nas RNG, mas como o tempo havia de mostrar as posições divergentes mantiveram-se e voltaram a ser tema de discussão no Congresso das Comunicações da APDC, em Novembro. Mais tarde em Dezembro, Vodafone e Optimus acabaram mesmo por juntar-se num acordo para esta área.


Maio acabaria por ser o mês de todos os anúncios sobre as RNG. O Governo dedicou-o às Redes de Nova Geração e já com algum impulso pré-eleitoral percorreu o país de lés-a-lés desdobrando-se em iniciativas para mostrar interesse e projectos de investimento nas redes de nova geração. Foi nesta altura que foram anunciados vários protocolos, já estava claro que o Governo escolhia como linha estratégica para Portugal no desenvolvimento destas infra-estruturas a possibilidade do mercado multiplicar infra-estruturas e concorrer com ofertas de nova geração em toda a linha, desde a infra-estrutura aos serviços finais ao cliente. A indústria foi chamada a assinar um protocolo para lançar as bases de um cluster para as RNG, sobre o qual até à data não houve muitas mais notícias e a PT anunciou finalmente o seu plano de investimento e estratégia.


Para as zonas rurais, onde o apelo económico e a densidade populacional dificilmente levam o mercado por iniciativa própria o Governo anunciou que vão ser usados os fundos comunitários para lançar as infra-estruturas de acesso aberto que alguns operadores defendiam para todo o país.
Aos poucos foram avançando os concursos para encontrar propostas de desenvolvimento de RNG para os vários pontos do país. Primeiro na região centro, depois na região norte, Algarve e Alentejo e ilhas. Os resultados deverão ser conhecidos durante o primeiro trimestre do novo ano.


Sobre o tema das RNG foram também ao longo do ano surgido vários números a quantificar as receitas que as RNG serão capazes de provocar ou, num sentido mais lato, o impacto económico e social da chegada da tecnologia.



No final do terceiro trimestre a Anacom dava a conhecer que já existiam em Portugal 36 mil utilizadores de redes de nova geração. Na contabilidade misturam-se clientes de serviços de fibra e de serviços híbridos de fibra e cabo, como aquele que oferece a Zon.


Nos protocolos assinados no início do ano com o Governo a meta era levar as redes de nova geração a um milhão de casas até final do ano. Os números da Anacom mostravam que no fim de Setembro a fibra estava em 731 mil casas e o cabo com suporte para o protocolo EuroDOCSIS 3.0 em 1,3 milhões de casas.



No mesmo mês ficou formalizado o crédito do BEI a dois dos mais activos investidores nas redes de nova geração ao longo do ano. A Zon e a PT, que alinhou a revelação da sua estratégia para esta área com o mês eleito pelo Governo para o tema.
Ao nível europeu o tema das redes de nova geração também marcou o ano. Num plano mais institucional a Comissão Europeia sublinha o potencial destas tecnologias para ajudar na recuperação económica da Europa, ainda que mantenha o habitual ritmo burocrático em aspectos tão essenciais como a decisão da forma como devem ser aplicados os fundos usados para apoiar estes projectos que, aliás, já estão a ser aplicados. Ao nível da indústria, vários anúncios animaram o ano. Outra tecnologia, a mesma visão de futuro, o LTE está na rua, lançado pela TeliaSonera já na recta final de 2009.



De volta a Portugal avança em 2010 outra promessa antiga que pode vir a desempenhar um papel de relevo nas comunicações de um futuro não muito longínquo, o WiMax. Empresas como a Oni estão na corrida às licenças que vão a leilão já no início do ano.




Muito mais haveria a dizer sobre os temas, polémicas e tendências que marcaram 2009 e que tiveram espaço cativo nas notícias do TeK, mas, como em todas as escolhas, há selecções que têm de ser feitas e era impossível abranger toda a diversidade de milhares de notícias numa única retrospectiva.




Convidamos porém todos os leitores a aproveitarem as caixas de comentários e deixarem as suas impressões sobre cada um dos temas, ou sugestões de outras temáticas que consideram importantes neste ano que agora acaba.