O processo de transição para o Acordo Ortográfico de 1990 parece ser inevitável. As novas regras já entraram em vigor em muitas empresas e meios de comunicação, com a Agência Lusa, o jornal Record e o semanário Despertar - o mais antigo jornal de Coimbra – a alistarem-se como pioneiros ainda em Janeiro de 2009, mas sendo seguidos por muitas outras publicações e mesmos canais de televisão. Nas escolas este é também um ano de transição, embora muitos manuais ainda não tenham adotado o acordo, e Janeiro de 2012 foi a data marcada para a mudança na Administração Pública.

O SAPO e todos os canais da rede – incluindo o TeK – marcaram a mudança para Julho de 2011 e desde então temos convivido na redação com as ambivalências de algumas regras, e as inconsistências de ferramentas que levantam dúvidas quanto à formulação correta que, em vez de ajudarem, tornam (ainda mais) complicada a harmonização da escrita.

Apesar das múltiplas ferramentas que existem, e de que já demos conta em vários artigos publicados no TeK, nomeadamente sobre recursos online, é no dia-a-dia que as dúvidas se tornam mais prementes, mesmo com a utilização dos principais processadores de texto disponíveis mercado, que deixam várias “pontas soltas” nesta alteração da grafia.

Voltamos por isso ao tema, partilhando a nossa experiência para que possa evitar erros desnecessários e a duplicação de tarefas que complicam o processo de validação de documentos.

Para a maioria das pessoas a criação de um texto começa no processador de texto, ou eventualmente num programa associado às ferramentas de produtividade, como o programa de correio eletrónico, por exemplo. E é aqui que as correções devem ser feitas, independentemente da existência de vários recursos de que nos podemos fazer valer na Internet para tirar dúvidas, como o Portal da Língua Portuguesa.

O TeK já tinha dado conta de que os principais processadores de texto já implementaram as regras da nova grafia, mas há muitas falhas e inconsistências de sugestões de mudança dos vocábulos antigos que tornam todo o processo ainda mais “doloroso” para quem escreve e também para quem lê.

A Microsoft disponibilizou no ano passado, de forma gratuita, as ferramentas de correção ortográfica e gramatical para o Office, de forma a que tudo fique bem escrito no Word, nos emails e nas apresentações. Estas foram preparadas com o ILTEC e podem ser descarregadas a partir deste site, mas só para as versões do Office 2007 e 2010.

[caption]corretor ortográfico word[/caption]

Mas a experiência mostra que não é tudo fácil. Um dos problemas surge com a possibilidade de dupla grafia em algumas palavras, cuja escrita fica ao critério do utilizador, ou da empresa. O Office não permite a aplicação desta lista de palavras e por isso na mesma redação ou empresa uma pessoa poderá escrever “apocalíptico” e outra “apocalítico”, ou “aspecto” e “aspeto”. Neste último caso é provável que o Office aponte mesmo um erro, sugerindo o uso de "espeto", e induzindo um utilizador menos atento em erro, já que as duas formulações estão corretas.

Entre as sugestões incorretas está também a permissão de formas que já não são hifenizadas, e que o corretor do Office deixa passar, como "décimo-primeiro" ou "casa-de-banho", por exemplo, que agora perdem o hífen. Problema semelhante se passa com os clíticos, como "atribuí-lo-á", identificado como incorreto, quando está certo.

O LibreOffice, o pacote de aplicações open source para Windows, Mac e Linux , sofre de alguns problemas semelhantes. A opção neste caso foi de não permitir alternar entre os modos pré-acordo e pós-acordo, pelo que tem de instalar logo o corretor adequado, que pode ser encontrado aqui e foi desenvolvido pelo Projecto Natura em parceria com o ILTEC.

Não foi também prevista a seleção da forma preferida pelo utilizador no caso das duplas grafias, voltando a repetir-se a mesma questão apontada no Office para "apocalítico" e "apocalíptico", "setor" e "sector". E o processo é semelhante para as formas compostas e os clíticos, também apontados como erros em muitos casos.

Mesmo sem ser à “prova de bala”, o recurso a uma ferramenta de apoio, que trabalha em conjunto com o processador de texto e as restantes aplicações de produtividade, pode ser a solução certa para evitar estes problemas. O Flip da Priberam tem dado provas ao longo das várias versões da sua “resiliência” e tem sido atualizado para o novo Acordo desde 2009, suportando a compatibilidade com as aplicações do Office da Microsoft, com o OpenOffice/LibreOffice e software da Adobe. Atualmente é usado por muitas empresas e entidades públicas, como o Diário da República e publicações do Grupo Impresa, por exemplo.

A aplicação permite fazer a correção ortográfica de um texto e tem uma funcionalidade que faz a conversão automática de um texto, ou de uma parte selecionada, para a nova ortografia. Ao contrário do Office e do LibreOffice permite aos utilizadores fazerem a pré-seleção de uma lista de palavras preferenciais nos casos de dupla grafia e inclui ainda outras ferramentas, como o auxiliar de tradução, um dicionário e um dicionário de sinónimos.



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Em caso de dúvidas pontuais pode sempre recorrer online ao conversor ortográfico da Priberam que disponibiliza também um Guia gratuito para a Nova Ortografia .

Como alternativa pode usar o conversor da Porto Editora , mas não se esqueça de que a partir do momento em que adotar o novo Acordo convém que todos os documentos tenham uma grafia harmonizada, o que não é compatível com soluções ad hoc para dúvidas isoladas, até porque o hábito vai fazer com que continue a usar muitas das formas de grafia antigas sem se aperceber…

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Fátima Caçador

Nota da Redação: O texto foi originalmente publicado em janeiro de 2012