A ideia de criar uma loja independente de aplicações para Android, com um foco na comunidade, surgiu durante um estágio de verão em 2009, dentro da Caixa Mágica, uma empresa de software Linux, mas em 2011 autonomizou-se como uma spinoff que tem somado sucessos, clientes e que até já fez frente à “todo-poderosa” Google.

Paulo Trezentos, cofundador da Caixa Mágica, e Álvaro Pinto, são os “pais” do projeto e dois dos responsáveis pelo trabalho de desenvolver a ideia e ganhar escala, conquistando developers de aplicações para a loja que é uma alternativa à Google Play e também utilizadores. Muitos milhões de utilizadores.

Faz agora um ano que a Aptoide atingiu o break-even, antecipando em seis meses a data prevista, mas a empresa já está a preparar novos voos e finalizou ontem mais uma ronda de investimento que junta duas coisas positivas: o dinheiro e o apoio para entrar com maior força no mercado asiático e estabelecer relações com parceiros estratégicos, como explicou ao TeK Paulo Trezentos.

“O esforço para conseguir esta ronda de investimento começou há pouco mais de um ano”, adiantou o co-fundador da Aptoide, que inicialmente estava mais focado no mercado europeu e nos Estados Unidos, mas que decidiu alargar o âmbito para incluir a Ásia. Os 4 milhões agora garantidos são subscritos por quatro investidores, a e.ventures que tem uma presença global, a Portugal Ventures que acompanhou o investimento e duas empresas asiáticas, a Gobi Partners e a Golden Gate Ventures, que trazem competências específicas neste mercado e a entrada num ecossistema que pode potenciar o crescimento da Aptoide.

Paulo Trezentos não detalha o valor do investimento de cada uma das empresas, mas garante que este é um “acordo saudável para a empresa e para os fundadores”, apesar das diferenças culturais que existem. A entrada de capital é imediata e o investimento estende-se entre 2016 e 2017, sendo aplicado no reforço da equipa, da área de marketing e da internacionalização.

A Aptoide conta já com 30 pessoas na equipa de engenharia e até final deste ano quer chegar às 50, mantendo bem presente que o crescimento deve ser sustentável para manter a cultura e a qualidade dos recursos, assim como o foco na qualidade do produto. “O que queremos é ter uma app store excitante, friendly, fácil e segura”.

Os números de dezembro apontam para a existência de 97 milhões de utilizadores únicos da loja independente de aplicações, que conta com mais de 500 mil apps e que já soma mais de 2 mil milhões de downloads.  

Prioridade à internacionalização

A empresa tem a sede de desenvolvimento em Lisboa mas já abriu escritórios em Singapura e Shenzhen (China). E embora o mercado asiático seja uma das prioridades, dado o potencial que alguns países apresentam e a importância de trabalhar com as fabricantes de smartphones, tablets e TVs para que a aplicação da loja esteja já pré-instalada, a América Latina está também no top do investimento.

Atualmente o México está em primeiro lugar entre os principais mercados da loja independente de aplicações, seguindo-se o Brasil e os Estados Unidos, mas outros países como a Colômbia e a Venezuela estão no mapa das prioridade pelo potencial que têm. A Aptoide já desenvolveu mesmo uma versão light da sua app, especificamente para se adaptar às condições das redes destes países.

Outra das áreas onde Paulo Trezentos e a sua equipa estão a colocar “as fichas” é a das smart TVs com sistema operativo Android, onde acreditam existir um grande potencial para utilização de lojas independentes, que podem vir já pré-instaladas em equipamentos de fabricantes de Tier 2, com um volume de vendas elevado mas com marcas menos conhecidas.

E quais são as próximas metas? Há potencial para se tornar um Unicórnio, com um valor acima dos mil milhões de dólares? Paulo Trezentos prefere não pensar tanto em dinheiro, nem na valorização da empresa como metas, mas na forma como a Aptoide toca a vida das pessoas. “É muito excitante poder contar com esta equipa e entusiasmante pensar no caminho que podemos fazer para aumentar a base de utilizadores e chegar a mais pessoas”.

Processo contra a Google sem fim à vista

Para além do trabalho de desenvolvimento do projeto de loja de aplicações independente para Android o processo apresentado na Comissão Europeia contra a Google foi uma das iniciativas que deu notoriedade à Aptoide. Na altura os argumentos da startup portuguesa centravam-se na concorrência desleal no mercado móvel, mas os obstáculos à instalação de uma app store independente era o que conseguia maior atenção. E os obstáculos mantêm-se.

“Tentámos a entrada da Aptoide Light na Google Play e não foi autorizada”, explica Paulo Trezentos, que afirma que se mantém a política de não autorizar lojas independentes nem a utilização de aplicações que não sejam descarregadas através da loja oficial, o que faz com que os utilizadores que querem usar a Aptoide tenham de contornar as definições do sistema operativo móvel.

O cofundador da Aptoide diz que o processo na Comissão Europeia está “a seguir os trâmites” e que têm sido solicitadas novas informações à empresa, especialmente sobre dados de utilizadores e market share, mas que não há qualquer indicação de quando poderá haver uma decisão.

Mesmo com o crescimento que a Aptoide tem registado, com uma quase duplicação de utilizadores únicos no espaço de um ano, Paulo Trezentos admite que o potencial da loja de aplicações independente poderia ser muito maior se estas barreiras não existissem.