A contestação em relação ao novo smartphone da Apple tem sido grande, e já há muito quem aponte problemas nas vendas. Não houve filas nem empurrões na abertura das lojas nos primeiros países a receber o equipamento, e na Europa o entusiasmo também não tem sido grande pelo iPhone SE que começou esta semana a ser vendido em Portugal.

Onde falhou a empresa? Parece que em quase tudo. O TeK falou com Francisco Jerónimo, diretor de research da IDC EMEA e especialista na área de mobile, que diz que as primeiras impressões que está a receber das lojas e dos operadores são de que este está longe de ser um sucesso de vendas.

Francisco Jerónimo lembra que o mesmo aconteceu com o iPhone 5C, que acabou por ter mais sucesso no segmento empresarial, até porque a diferença de preço entre os modelos que estão no mercado – o iPhone SE custa 499 euros e o iPhone 6S custa 749 euros – pode não justificar a opção para a maioria dos utilizadores.

“Para além do lançamento das cores dourado e rosa, não percebo porque a Apple não fez nenhuma mudança no design em relação ao iPhone 5S”, adianta o analista em conversa com o TeK.

A estratégia da marca é de procurar atrair utilizadores Android, que podem ver no iPhone SE o seu primeiro iPhone, como Tim Cook explicou na apresentação, mas Francisco Jerónimo tem dúvidas de que funcione. “As pessoas não se importam de pagar mais um pouco para ter um smartphone melhor […] Quem tem um smartphone de 5 polegadas não vai passar a ter um de 4 e o mercado de quem ainda tem um feature phone é pequeno”, admite.

Para o analista a questão está mesmo na escassa mobilidade que existe atualmente entre utilizadores de iOS e Android. A maioria das pessoas está já na segunda ou terceira geração de smartphones, com modelos de 5 polegadas ou acima, e estão adaptados ao seu sistema operativo, com os conteúdos, contactos e outras definições, pelo que dificilmente mudam de plataforma.

A oportunidade de mudança pode estar ainda em utilizadores de Blackberry ou Windows Phone, mas são números marginais e Francisco Jerónimo não acredita que sirvam para trazer novo alento às vendas do iPhone como o CEO da Apple deseja.

“A Apple vai ter de entrar numa gama de preço mais baixa. Não vão ter outra hipótese”, afirma, defendendo que isso não é uma desvalorização da marca mas uma forma de mostrar que a Apple está disponível para chegar a novos mercados e utilizadores. O analista lembra que a Apple já fez isso mesmo com o iPod mas também com as linhas de computadores portáteis MacBook e os iPad, com as versões mini.

A fasquia de preço desses iPhones low cost terá de estar entre os 200 e os 300 euros, estabelecendo uma diferença clara com a linha de topo de gama e tornando-se acessível a mercados emergentes.

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E quando poderá acontecer esta mudança? Provavelmente não este ano, mas sim no próximo. “As vendas não vão continuar a subir. O mercado está saturado e é preciso mudar de estratégia”, avisa Francisco Jerónimo.

A opção pode não passar por ecrãs pequenos, não só pela falta de adesão dos utilizadores mas pelo próprio racional económico. Se há alguns meses havia uma diferença significativa no preço de fabrico entre equipamentos de maior dimensão e as 4 polegadas, a situação está a esbater-se e até, em alguns casos, a inverter-se, dado que a procura pelas 5 polegadas está massificada. “Temos fabricantes a dizer que já é mais caro fabricar ecrãs mais pequenos do que modelos de 5 polegadas”, justifica.

Fátima Caçador