Os professores de informática estão preocupados com a falta de condições para o ensino da disciplina de TIC no próximo ano letivo. Depois de se terem mostrado - num parecer a que o TeK teve acesso a semana passada - apreensivos em relação às metas definidas para o ensino da disciplina, vêm agora questionar a nova forma de organização das escolas.

Num comunicado que pretende fazer eco das preocupações sobre o ensino da disciplina de Tecnologias da Informação e Comunicação, os docentes criticam questões como o número excessivo de alunos por turma, as aulas de 45 minutos e a possibilidade de, com o aumento do número de professores com "horário zero", o ensino da disciplina possa ser atribuído a professores não especializados.

"Com a enorme quantidade de professores com "horários zero" que resultam da nova organização escolar, corre-se o risco de ser atribuída a esses docentes a docência indevida desta e de outras disciplinas", lê-se na nota enviada aos meios pela Associação Nacional de Professores de Informática (ANPRI).

"É óbvio que, pedagogicamente, esta área da docência exige conhecimentos técnicos específicos, pelo que dificilmente professores de outros grupos de recrutamento estarão corretamente preparados", defendem os docentes.

A questão das aulas de 45 minutos, que já tinha sido aflorada no parecer emitido no final de junho, é agora detalhada, com a ANRI a defender que não faz sentido a possibilidade de estarem previstas aulas com esta duração. Segundo explicam, todos os procedimentos inerentes ao início da aula (fazer a chamada, escrever o sumário, ligar o PC, autenticar os utilizadores e resolver eventuais problemas) reduz para 20 a 25 o tempo útil da mesma.

Outro dos problemas associados à possibilidade de redução do tempo das aulas de TIC está relacionado com o que isso pode acarretar ao nível das "condições para o exercício da docência".

Podendo estar previstas aulas semanais de 45 minutos para cada turma e sabendo que o tempo letivo para cada professor são 22 horas semanais, este terá que ter, no mínimo, 24 turmas de 30 alunos, este terá a seu cargo cerca de 720 alunos, descreve a ANRI, classificando a situação como uma "enormidade". A esta preocupação acresce a de que, com os novos mega agrupamentos de escolas, as turmas poderão estar distribuídas por três, quatro ou mais escolas, situadas a uma distância de até 50 Km entre si.

Os docentes notam ainda que as salas de aulas não estão preparadas para turmas com tantos alunos, até porque o próprio programa de modernização do parque escolar teve por base a preparação de salas para 24 alunos. Normalmente existem em cada sala entre 10 e 14 computadores, se as turmas passarem a ser de 30 alunos, "isso implica um computador por cada três alunos, o que é retrocesso evidente em termos pedagógicos", afirmam.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Joana M. Fernandes