Drones, drones por todo o lado. Não acredita? Basta olhar para o que aconteceu na Consumer Electronic Show deste ano: as aeronaves não tripuladas foram um dos grandes destaques daquela que é uma das maiores feiras de tecnologia do mundo.

Lá havia propostas para diferentes gostos, mas destacamos aqui duas. A primeira é o Parrot Disco, um drone pensado para a produção multimédia. O destaque deste UAV é o seu formato em asa única e que se assemelha a um avião.

Tem um sistema de descolagem automático que assume automaticamente um voo estabilizado assim que é lançado no ar e pode ser desmontado em peças para ser mais fácil de transportar.

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Mas o drone que roubou as atenções na CES foi o Ehang 184, o drone de transporte de um único passageiro. Leu bem - um drone feito a pensar no transporte pessoal.

Toda a ação do drone é automática e controlada a partir de um dispositivo móvel, pode levar uma carga máxima de 100 quilogramas e tem uma autonomia de voo próxima aos 25 minutos. Consegue ainda atingir velocidades máximas de 100 Km/H e voar até uma altitude máxima de 3,5 quilómetros.

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Não diriamos que estes dois equipamentos vão marcar o passo para outras empresas de drones, mas mostram certamente aquelas que são duas tendências para os próximos tempos.

Fora deste âmbito mais pessoal do consumidor, os drones também estão a conhecer um grande crescimento no segmento empresarial, isto é, da prestação de serviços.

“O segmento civil comercial está a tornar-se cada vez mais interessante, porém continua muito limitado pela falta de legislação específica. Ainda assim, iremos iniciar projetos de investigação e desenvolvimento com parceiros empresarias, por exemplo no âmbito de fiscalização de obras, mas também no combate a doenças da vinha”, adiantou o diretor executivo da Tekever, Pedro Sinogas.

Os serviços de drones ligados à natureza estendem-se ainda à prevenção de fogos florestais e de espécies protegidas ou até à agricultura de precisão.

O CEO da tecnológica vê no entanto uma outra grande tendência para o ano de 2016: o da vigilância marítima. E por um motivo muito simples - “com a crise dos refugiados e dos imigrantes esta parece-me ser uma questão que continuará crítica”, explicou o executivo.

Se no ano passado a tendência passava pelo uso dos drones para um controlo do fluxo migratório já em terra, em 2016 o objetivo é ter uma atitude muito mais pró-ativa. E a portuguesa Tekever vai ter um papel fundamental nessa atividade, como detalha Pedro Sinogas.

“O nosso equipamento de maior dimensão, o AR5, irá realizar missões de vigilância marítima no Mar do Norte, Mediterrâneo e Oceano Atlântico, ao serviço da EMSA (Agência Europeia de Segurança Marítima) e da ESA (Agência Espacial Europeia), naquele que será o primeiro projeto Europeu de vigilância marítima com recurso a drones”.

Podíamos saber um pouco mais sobre as tendências do mercado dos UAVs para 2016, mas a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) e a empresa Uavision não responderam à solicitação de participação feita pelo TeK para este artigo.

Agora que sabemos para onde podem 'voar' os drones, resta resolver um ‘detalhe’: a questão da legislação que pemitirá ao mercado dar finalmente um salto qualitativo.

A legislação sempre a sobrevoar

Desde que ouvimos falar de drones em Portugal que ouvimos imediatamente outra ideia logo a seguir: a falta de legislação. Existe uma regulação própria - como a necessidade de fazer um requerimento à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) para operar drones que vão captar imagens -, mas está longe de ser satisfatória.

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“A posição mais previsível dos legisladores portugueses será a de aguardar por legislação europeia, porém vemos vantagens numa clarificação célere do enquadramento legal à semelhança do que se passa, por exemplo, no Reino Unido – país onde a Tekever realiza testes. É natural que a legislação deva ser especifica de cada Estado para os drones abaixo dos 150 quilos e que varie de acordo com o tipo de equipamento, missão e operador”, defende Pedro Sinogas.

Não é a primeira vez na história da indústria aeronáutica que a inovação surge primeiro do que a legislação. O mesmo se passa noutros mercados, como é caso da Uber e do modelo disruptivo de transporte pessoal ou da Airbnb e do arrendamento de casas.

Para o responsável da Tekever será inevitável ter um quadro regulatório já este ano. “Porém, é certo, que a ausência de regulamentação do sector, acrescida de algum desconhecimento em torno do vasto catálogo de equipamentos existente no mercado – com maior ou menor complexidade – e das missões a estas associadas, faz com que a indústria dos drones cresça sem segurança e de costas voltadas para as empresas que pretendem criar produtos distintivos e tecnologicamente avançados”.

Formação do operador, salvaguarda da segurança do equipamento e finalidade dos equipamentos são elementos críticos na elaboração de uma legislação completa.

Um país de navegadores e quem sabe dronadores

Portugal já tem, além da Tekever, bons exemplos de empresas e projetos que dão cartas no segmento dos drones. Existe a SkyEye na componente multimédia. Existe a Quarkson na componente de drones-satélites. E existe o projeto do investigador da Universidade de Aveiro, Jan Keiser, que consegue saber se as florestas estão doentes.

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Além da questão da não-legislação que parece ser uma pedra no caminho de toda a gente - tanto dos drones de entretenimento como dos que têm fins comerciais -, o que mais pode Portugal fazer para sobressair nesta área tecnológica emergente?

Investir. Tão simples quanto isto. Sem investimento não existe o mesmo grau de retorno do que se fossem investidos vários milhares de euros em investigações e projetos específicos.

“Considero que é necessário uma mudança de mentalidade que veja a aposta em I&D e o financiamento à investigação como parte de uma cadeia de valor para a produtização e, consequentemente, para a internacionalização das empresas”, defende a Tekever.

“O nosso processo de desenvolvimento de produto começa com trabalho em investigação e desenvolvimento de tecnologia base, muito em parceria com universidades e institutos internacionais. Depois, ‘produtizamos’ essa tecnologia e levamo-la para o mercado. E quando se faz isto bem, veem-se os resultados”.

Por isso já sabe: durante este ano ponha os olhos no ar. Será o Super-Homem? Será um cometa? Não, possivelmente pode ser o seu vizinho a brincar com um drone.

Confortável com a ideia?

Rui da Rocha Ferreira