A maior rede social do mundo não serve só para partilha de conteúdos, troca de mensagens apaixonadas, encontrar velhos conhecidos ou ajudar a acabar com casamentos - como afirmam estudos recentes. Entre os mais de 500 milhões de utilizadores do Facebook, existe um grupo (mais ou menos) discreto que já aprendeu a rentabilizar as horas passadas online.

"Há tempos ganhei um filtro para a água daqueles todos "XPTO". Ora, como comprei casa há relativamente pouco tempo, foram 300 euros que poupei e que deram para comprar mobiliário", exemplifica uma bem sucedida utilizadora do serviço… e do mecanismo de "Likes" frequentemente usado em passatempos. Actualmente, ganha em média dois passatempos por mês. Mas costumavam ser mais.

Há cerca de um ano, Cátia Lourenço (nome fictício) andava à procura de emprego e passava "muitas horas" online. Na altura, ganhava "pelo menos" um prémio por semana, segundo as contas da jovem, que agora trabalha "oito horas por dia", como secretária, e tem "um filho para tratar" e, por isso, menos tempo para a rede social.

"Basicamente, umas duas horas à noite" onde vai ganhando "banalidades femininas: perfumes, champôs, malas…", exemplifica.

"Eu só participo em passatempos para ganhar coisas que realmente vá usar ou precise. Os passatempos são uma maneira de poupar dinheiro em coisas que podem muito bem ser supérfluas mas que de vez em quando nos dão jeito", explicou ao TeK.

A Cátia é uma das habitués nas lides dos passatempos por "Like" (ou "Gosto") no Facebook, em que o famoso botão com o polegar para cima é usado para que os visitantes votem nos comentários - ou fotografias, por exemplo - que mais lhe agradam.

Há muito que as marcas perceberam que quase todos os canais são válidos para chegar aos consumidores e, atendendo ao público-alvo, os mais informais podem ser os mais eficazes. Com a expansão e popularidade alcançadas pelo Facebook, não tardou a que cada vez mais empresas procurassem assegurar a presença na plataforma. Mas não basta criar uma Página no Facebook, é preciso levar os utilizadores até ela.

Assim, e mesmo que as boas práticas de utilização do serviço por parte de empresas o desaconselhem, os passatempos que implicam fazer "Gosto" em Página de empresas têm vindo a multiplicar-se, constituindo um terreno fértil para os "papa-passatempos".

Se, em teoria, as iniciativas das marcas serviriam para trazer novos visitantes à página e premiar os mais criativos, na prática acaba por ganhar quem consegue mobilizar mais gente para "votar". Mesmo que isso implique recorrer a perfis falsos ou comprar votos.

[caption]captura de site destinado à venda de contas falsas em redes sociais[/caption]

Foi com esta realidade que o TeK se deparou durante os passatempos organizados recentemente para impulsionar o lançamento da sua página no Facebook. Sites que vendem perfis falsos, internautas que vendem lotes de "Gosto(s)" e participantes que enviam mensagens trocando acusações entre si.

Paulo Gonçalves dizia-se injustiçado porque se via ultrapassado por concorrentes que, segundo garante, recorrem a perfis falsos. Ele não recorre a esse tipo de expedientes "ilegais", assegura. Vai antes "a sites com muitos visitantes, como o da Cidade FM e envia emails a pedir votos". Descreveu-nos também como recorre às contas da mulher e filhas para remeter mais pedidos de "ajuda" quando o seu email ou caixa de mensagens do Facebook bloqueiam por excesso mensagens enviadas.

À medida que se vota em alguém, "vai-se criando uma certa amizade, não nos importamos de votar outra vez, noutro passatempo, trocam-se votos", explica.

"Eu, ao aperceber-me disso, inscrevo-me nisso também", contou este militar, que encara os passatempos no Facebook como uma espécie de hobby... mas "se a pessoa participa, também gosta de ganhar! Não é?".

Quando diz "isso", Paulo Gonçalves pode estar a referir-se à troca de votos entre utilizadores do serviço que se conhecem no decurso destes passatempos, ou aos grupos de troca de votos, que pululam na rede social. Se não acredita, experimente escrever "votos" na caixa de pesquisa do Facebook.

[caption]grupos/páginas no Facebook para troca de gostos[/caption]

Nestas páginas, às quais não faltam membros, é possível encontrar propostas simples, do género "eu voto em ti, tu votas em mim", mas também quem ofereça dezenas de votos para troca. É aqui que entram os perfis falsos, que segundo afirmam os utilizadores contactados, podem ser programados para fazer "Gosto" de forma automática.

Quanto custam 500 perfis falsos no Facebook?

Cátia Lourenço é uma das participantes mais vezes referidas nas denúncias. Tal como Vanessa Fernandes, Toino Emilio, Maria João Ferreira, Inês Albuquerque, Mafalda Perdigão, Orlando Rodrigues ou Fernando André, todos eles referidos nas listas dos "delatores".

É difícil saber quem recorre ou não ao método, mas a verdade é que, para comprar umas centenas de contas falsas, 35 dólares chegam (cerca de 25 euros). Os preços variam consoante se prefira uma conta com ou sem foto de perfil, por exemplo, mas o produto está online e pode ser encontrado em sites como este, e este - onde 10 contas falsas custam a módica quantia de 17 dólares (12 euros).

[caption]captura do site Account Headquarters[/caption]

A jovem secretária assegura que nunca recorreu a perfis falsos, mas confirma saber que existe quem os use.

Cátia tem 3.417 "amigos do Facebook", muitos deles não conhece pessoalmente mas, "quando precisa", "eles reúnem os amigos deles" e votam nela. "Imagine, eu preciso de likes num certo sítio, mando mensagem aos meus amigos todos e peço no chat para que passem o link a quem estiver online no momento", detalhou. E pensar que tudo começou com um fim-de-semana no Algarve, que ganhou "por 300 e poucos likes".

Joana Martins Fernandes