Com a supressão de filtros entre as intenções de publicação de milhares de milhões de utilizadores e o efetivo carregamento online, o Facebook lida diariamente com a tarefa de eliminar milhares de posts da sua rede social. E os diretos vincaram o problema. Desde a sua integração, em 2015, os relatos de violações, homicídios, assaltos, suicídios e torturas transmitidos em direto acumulam-se já a uma velocidade superior à capacidade de absorção da comunicação social.

Este último domingo, o jornal britânico The Guardian revelou um conjunto de diretrizes secretas pelas quais a plataforma de Mark Zuckerberg se orienta para lidar com conteúdos desta natureza, evidenciando que a linha que separa a liberdade de expressão e a pretensa proteção dos utilizadores, é uma difícil de desenhar.

A dimensão da equipa que está encarregue de lidar com este processo de seleção atesta a dificuldade e a proporção do trabalho. Neste momento, já são cerca de 4.500 os colaboradores do Facebook que se ocupam de filtrar conteúdos diariamente. O CEO da empresa, no entanto, já prometeu juntar mais 3 mil pessoas à equipa de forma a conseguir monitorizar diretos de forma mais eficiente. É que neste momento, a rede social em questão já conta com mais de 1,8 mil milhões de utilizadores ativos mensalmente.

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De acordo com os mais de 100 manuais publicados, que definem linhas de ação contra temas como a pornografia, o terrorismo, a pornografia, o racismo, a automutilação e até o canibalismo, as ameaças endereçadas às chamadas "categorias protegidas" devem ser protamente eliminadas. Na prática, a regra impede que permaneçam online frases como "alguém mate o Trump", ao mesmo tempo que reações mais emotivas sem identificação de alvo, como "vai para o c****** e morre", devem manter-se na plataforma. Ameaças de outra índole, como aquelas "que não são consideradas credíveis" também não devem ser alvo de qualquer filtragem. "Para partir o pescoço a uma c****, assegura-te que concentras toda a pressão no meio da gargante", é um dos exemplos citados neste último caso.

De acordo com os documentos, "na maior parte das vezes, a linguagem violenta não é credível até que seja dado um argumento razoável para se concluir que esta deixou de ser apenas uma expressão da emoção do utilizador e passou para a delineação de um plano de ataque". Com base nesta premissa, acrescenta, "expressões como "vou matar-te" ou "vai para o c****** e morre", são apenas formas de exprimir frustração e desagrado com uma dada situação.

No caso dos vídeos, o Facebook determina que estes não têm de ser eliminados a não ser que haja um elemento "sádico de celebração" sobre o ato. De acordo com o The Guardian, gravações de mortes violentas, abusos físicos, bullying ou auto-mutilação devem ser marcados como "perturbadores", mas não devem ser eliminados apenas pela sua natureza.

As razões, justificam os documentos, prendem-se com a possível integração destes conteúdos em campanhas de sensibilização que podem ser importantes na consciencialização dos utilizadores em torno de temas mais sensíveis. O mesmo acontece com imagens onde são exibidos abusos contra animais.

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Os diretos de auto-mutilação, no entanto, devem permanecer online por uma razão diferente. Segundo o Facebook, os utilizadores "em risco de suicídio" não devem ser castigados de alguma forma. Os vídeos, no entanto, deverão ser eliminados quando "já não houver forma de ajudar a pessoa em causa".

A nudez e as atividades sexuais são também elas encaradas em perspetiva do contexto em que são partilhadas. Se forem partilhadas no âmbito de um trabalho artístico, as imagens devem permanecer online. Porém, se estas forem digitalmente criadas, o Facebook determina a sua eliminação.

A diversidade de conteúdos publicados determina que será sempre difícil de alcançar o equilíbrio entre aquilo que é considerado aceitável de permanecer online e aquilo que integra os limites do aceitável do Facebook. E é claro, em muitos casos, que o princípio da subjetividade se mantém soberano para quase todo o tipo de publicações.

Ao CNET, Monika Bickert, responsável máxima pela gestão da política global do Facebook, afirmou que "manter as pessoas seguras [no Facebook] é a terefa mais importante" que desempenham. É por isso, garante, qua continuam a ser feitos investimentos nesse sentido. "Vamos fazer com que seja mais simples relatar problemas e com que seja mais rápido, para os nossos colaboradores, determinar quais as publicações que violam os nossos padrões" e "contactar as autoridades se alguém precisar de ajuda", concluiu.