A maioria dos utilizadores não tem noção do rasto digital que deixa todos os dias através da partilha de informação que faz online, nas redes sociais, nos serviços de alojamento na cloud mas também nas apps, entre outras. Luis Antunes, professor do INESCTEC da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, traçou, na sua apresentação no seminário, um cenário da forma como facilmente se pode aceder a dados que estão armazenados em bases de dados, e lembrou que todos os objetos que estão à nossa volta estão continuamente a partilhar informação sobre nós, que é preciso controlar, anonimizar e até "baralhar" com dados falsos. O direito ao esquecimento, aplicado de forma global e não apenas ao espaço Europeu, foi também defendido pelo investigador.

Estas são áreas de investigação e desenvolvimento a que o INESCTEC se tem dedicado, e o Instituto desenvolveu já várias ferramentas que permitem gerir a informação de uma forma mais segura. Mas há ainda um caminho a fazer em termos de educação, porque se cada utilizador deve ser “curador” dos seus próprios dados, validando o que é partilhado, se não está a ser excessivo e se está correto.

O tema foi retomado durante o debate onde estiveram presentes também Magda Cocco, jurista da Vieira de Almeida e Associados, e Jorge Duque, inspetor da Polícia Judiciária com duas décadas experiência na área do Cibercrime.

A adequação da legislação nacional, e o enquadramento da proteção de dados e privacidade num mundo cada vez mais global, centraram o debate onde não deixaram de ser referidas também os impactos positivos do Big Data, a nível do acesso à informação mas também de impacto de organização e melhoria de sistemas que a análise de dados pode ter. Mas de forma anonimizada, defendeu Luís Antunes.

Magda Cocco acredita que em termos de enquadramento legal, Portugal, e a Europa, dispõem de ferramentas adequadas para proteger a privacidade dos cidadãos e proteger os dados. A jurista trabalha com o sector privado e afirma que as empresas estão cada vez mais sensibilizadas para a necessidade de salvaguardarem a informação dos clientes, até porque as multas do novo enquadramento regulatório são pesadas e podem ir até 4% do rendimento global das empresas.

Alertando para os riscos que existe, e para a necessidade de sensibilização do que se pode e não se deve partilhar online, o Inspetor Jorge Duque partilhou alguma informação sobre a forma como as autoridades atuam em casos como a partilha de imagens de pedofilia e a atuação em redes de streaming destas imagens, que estão a proliferar. Mesmo assim o Inspetor da PJ defende que as autoridades deviam ter mais ferramentas e que é preciso mais celeridade no acesso à informação, advogando também a existência de uma entidade que possa ter a gestão dos dados das comunicações e a quem não seja revelado o móbil da investigação, e a acusação em causa, de cada vez que é preciso aceder a esta informação.