Desde o primeiro dia, o Portugal Digital Summit, organizado pela ACEPI, deixou bem claro uma coisa: as empresas portuguesas, ou que atuam em Portugal, estão a preparar-se para um mercado cada vez mais global, e muitas jogam com as mesmas cartas que as suas congéneres internacionais. Apesar do atraso ainda reconhecido no tecido empresarial português, e que foi destacado no estudo da Economia Digital, há muito quem faça bem, e muitas dessas empresas participaram nos vários debates, contando as suas experiências.

O último painel da conferência foi espelho disso mesmo. A Chronopost, a SIBS e a Mastercard são empresas que se destacam pela inovação na Economia Digital, e são também facilitadores do comércio eletrónico, na área da logística e dos pagamentos.

Um dos traços claros que as três empresas têm em comum é a visão global. Christophe Zehnacker, Digital Payments Head da Mastercard para a Europa Ocidental, lembrou que o mundo está cada vez mais conectado e que a tecnologia avança a um ritmo alucinante, mas que isso oferece oportunidades para a reinvenção. E a empresa tem vários exemplos da forma como se está a preparar com soluções para substituir o tradicional cartão de plástico, nomeadamente com wearables, como a pulseira e o anel de que já falámos no TeK.

A segurança é também uma das preocupações, e por isso a Mastercard investe na tokenização e na biometria, soluções que passam em muitos casos pelos Labs antes de chegarem ao mercado.

A segurança está igualmente no centro da estratégia da SIBS Forward Payments Solutions, mas Teresa Mesquita, diretora do departamento de gestão de produto, defende que esta deve ser tratada em backoffice, porque o que é necessário é simplificar a vida ao consumidor e ao comerciante, e garantir que tudo funcione bem. Por isso mesmo a SIBS assume toda a componente de segurança, páginas de pagamento e monitorização de fraude do seu lado.

Teresa Mesquita recorreu a informação de um inquérito da SIBS e da Marktest aos consumidores para mostrar as principais preocupações, que dão pistas sobre o que tem de mudar para levar mais utilizadores às plataformas online. A importância da confiança foi ainda destacada pela diretora do departamento da SIBS, lembrando que muitas vezes a “localidade” ajuda o consumidor a dar o passo final na compra. “A ‘last mile’ pode fazer a diferença para a confiança nos sistemas de pagamentos”, sublinha.

A simplificação, mas na componente de logística, esteve também no centro da apresentação de Olivier Establet, CEO da Chronopost, que aproveitou para referir os mais recentes serviços que a empresa desenvolveu para apoiar os clientes no momento de receberem as suas encomendas, e reduzir o número de devoluções. O sistema de envio de mensagens antes a entrega, designado por Predict, que permite comunicar por email ou SMS a previsão de entrega e também dá ao utilizador a possibilidade de interagir com a operadora, mudando alguns parâmetros. “O Predict evita que o destinatário perca tempo e aumentar a taxa de sucesso na primeira tentativa de entrega”, justifica.

A Chronopost está também a apostar na sua rede de proximidade e já tem mais de 500 lojas Pickup, pretendendo chegar às 600, e hoje as lojas já permitem que 95% da população esteja a  menos de 15 minutos de distância de uma destas lojas.

Está ainda previsto o lançamento de um serviço low cost para logistas, o Shop2Shop que permite expedir encomendas entre lojas. Até fim do ano a Chronopost vai também lançar um novo serviço de devoluções para a “simplicidade absoluta” com um website www.return-my-parcel.com, onde um cliente pode tratar de devolver a sua encomenda através de uma loja pickup ou por recolha no domicilio.

Para  Olivier Establet as tendências passam por entregas cada vez mais rápidas, e depois de ter sido pioneira nas entregas ao sábado a Chronopost vai também fazer entregas ao domingo. E num futuro próximo será possível entregar uma encomenda em poucos minutos, ou poucas horas, através de um serviço urgente.

A China cada vez mais perto

O protocolo hoje assinado entre a ACEPI e a sua congénere chinesa, a CIECC – China International eCommerce Center, abre novas portas para um mercado de grande dimensão, onde as empresas portuguesas podem encontrar novos consumidores para os seus produtos, mas também é uma oportunidade para vender serviços a empresas chinesas que pretendam vender em Portugal, e na Europa.

LI Mingtao, Diretor do Ecommerce Institute, CIECC, afirmou que se estão a abrir novas pontes em várias áreas e referiu a visita de António Costa, o primeiro-ministro português, que decorreu nos últimos dias à China e que deu azo à assinatura de vários protocolos com empresas portuguesas.

O desejo de aprofundar ainda mais a relação com Portugal, a todos os níveis, ficou bem claro na intervenção do responsável do organismo chinês que vê com bons olhos a entrada de empresas portuguesas no mercado e a cooperação estreita com Portugal.

Já a encerrar a sessão, Luis Laginha de Sousa, Presidente  do Conselho Consultivo da ACEPI partilhou com a audiência o seu misto de frustração, esperança e apelo para que a revolução silenciosa referida ontem por Marcelo Rebelo de Sousa não continue em silêncio. Esta conjugação da digitalização e globalização abre oportunidades que agora começamos a compreender melhor, mas há ainda obstáculos. Mesmo assim Luis Laginha de Sousa diz acreditar que muitos problemas do desenvolvimento económico do país mais não são do que resultado de maus incentivos ou desincentivos aos agentes económicos.

Defendendo que precisamos de ter em Portugal muitos back offices, como alguns que já cá estão. Mas “para acelerar o crescimento da economia temos de saber atrair e manter muitos front offices e head offices”, alerta, e não é preciso inventar a roda. Comparando com a forma como se atrai população sénior para passar a sua reforma em Portugal, o presidente do conselho consultivo afirma ser necessário um quadro que não apresente riscos de investimento e riscos regulatórios ao risco económico que já existe.