Pela Direcção da APDC


Em tempos ímpares, de profundas mudanças e de enorme imprevisibilidade, não só ao nível económico como político e social, 2016 é visto pelo setor das TIC e Media com um otimismo moderado desejando que se verifique alguma retoma da economia num contexto internacional de grande complexidade.

Depois de anos de congelamento dos investimentos, o tecido empresarial nacional terá que aprofundar a mudança para o digital. Mais do que uma opção, esta transformação é agora um imperativo para garantir a sobrevivência num mundo cada vez mais global.

2015 foi um ano marcado por uma crescente aposta nas tecnologias e na inovação. Especialmente com as novas startup’s, que apostam no seu business case e numa economia cada vez mais global. Mas também nas empresas menos recentes que continuaram a sua política de trabalhar cada vez mais para mercados internacionais, para crescer e compensar a perda de receita doméstica.

Esta retoma, ainda ténue, registada ao longo de 2015, teve impactos positivos nas TIC e Media. Depois de anos de perdas acentuadas de receitas, decorrentes do congelamento dos investimentos e da retração do consumo, houve no ano passado sinais de reanimação: nas Tecnologias de Informação, já se registou crescimento, ainda tímido; nas comunicações, desacelerou o ritmo de queda das receitas; e nos media a publicidade voltou a reanimar.

Em paralelo, o setor voltou em 2015 a registar novos movimentos de consolidações, aquisições, parcerias, reorganizações e reestruturações. Não apenas ao nível nacional – onde se destacou a entrada da Altice como novo acionista único da PT Portugal e a consequente venda da Cabovisão e Oni - como internacional. Operações como a compra da Alcatel-Lucent pela Nokia, num processo de fusão que será finalizado a 14 de janeiro, dando lugar a um novo gigante mundial, a cisão da HP (em novembro último) em duas empresas ou a parceria global entre Cisco e Ericsson terão certamente impactos no mercado português.

Ajustar-se, ganhar escala, garantir capacidade de investimento e ter as respostas mais diferenciadoras e inovadoras a um mundo em mudança continuam a ser prioridades e objetivos de todos os players do ecossistema, que se posicionam para ‘agarrar’  as novas oportunidades de negócio decorrentes da necessidade de transformação para o digital.

O setor dispõe hoje de uma oferta de infraestruturas de comunicações que está entre as melhores do mundo. Os operadores vão investir no seu reforço, tanto em capacidade como em abrangência, como mostram os recentes anúncios da PT e da Vodafone. A inovação é cada vez mais central no setor, garantindo uma oferta de soluções TIC das mais avançadas do mundo, com produtos e serviços cada vez mais centrados nas necessidades concretas do mercado e em propostas que acrescentem valor.

São estas soluções TIC que têm estado na base da multiplicação dos exemplos de sucesso de projetos inovadores. Especialmente vindas de novas empresas que pensam ‘fora da caixa’ e se assumem desde o arranque como globais e que colocam cada vez mais Portugal em destaque no panorama mundial, em termos de empreendedorismo e inovação tecnológica.

A presença do Web Summit, o maior evento de tecnologia e empreendedorismo europeu, nos próximos três anos na cidade de Lisboa, confirma a boa imagem que o País está a construir. Muito também graças ao facto de serem cada vez mais os projetos de investimento de várias multinacionais em centros de competências e de serviços internacionais sediados em Portugal. Aliás, a consultora Gartner reconhece o País como um dos mais atrativos para o fornecimento de serviços de TI e outsourcing/nearshoring.

Casos como estes inspiram-nos e mostram que é possível mudar de paradigma e apostar com sucesso no digital. A Europa não garantiu uma posição de liderança neste domínio face às grandes regiões do mundo que são suas principais concorrentes, já que, se há novos grandes players globais no setor, são quase todos de origem norte-americana e asiática. O projeto da Comissão Europeia de criar um verdadeiro Digital Single Market (DSM) está em marcha e traz com ele alguns receios pelo seu impacto negativo para algumas áreas. Como as decisões sobre a neutralidade da rede e o roaming, que entrarão em vigor em abril próximo. No roaming, cujo preço voltará a descer em abril e desaparecerá em 2017, o impacto negativo para Portugal, dadas as assimetrias verificadas entre os países do Norte e do Sul, é evidente, criando desequilíbrios na balança de pagamentos (minutos de roaming entre os países).

Destaca-se ainda o processo de revisão do quadro regulatório europeu, iniciado pela Comissão em setembro de 2015, prosseguirá ao longo de 2016, sendo expectável que surjam propostas legislativas durante o segundo semestre. Tendo em conta a realidade convergente e digital da década 2020-2030 e a necessidade de promover o investimento em redes de acesso de alta velocidade, a expetativa é que o novo quadro seja mais simples e não discriminatório, menos interventivo e com menos regulação ex-ante. Cedendo espaço a instrumentos horizontais, quer no âmbito da regulação ex-post, no domínio do Direito da Concorrência, quer através de legislação específica de aplicação transversal.

Salvaguardadas estas condições, que garantirão a capacidade dos players do mercado e a concorrência sã, a construção de um mercado digital europeu assume-se como uma grande oportunidade. Não apenas para a Europa como um todo, mas também para o nosso País, que pode e deve agarrar apostar na sua transformação para o digital. E há fundos disponíveis para investir, nomeadamente através de programas comunitários estruturais, para a mudança. Como o ‘Portugal 2020’, orientado para a competitividade, inovação e internacionalização, ou o programa europeu ‘Horizonte 2020’. Por isso, desejamos uma retoma do investimento, que seja transversal a todos os setores de atividade e dimensão das empresas.

Sabemos que este é um processo que não será fácil nem rápido, que exige novas formas de pensar e de fazer negócio e que implica agilidade e capacidade de adaptação permanente. Mas está ao nosso alcance. Mobilidade, cloud computing, tecnologias sociais, big data, analítica e Internet das Coisas (IoT) terão que ser olhadas como ferramentas essenciais para o futuro e que terão que estar cada vez mais na agenda de todos os gestores de todas as áreas. Porque só elas garantem a mudança, a eficiência e a competitividade.

E o setor está preparado, como ficou bem evidente no 25º Congresso das Comunicações, da APDC, o maior evento nacional das TIC e Media, que se realizou no final do ano passado. A regulação setorial tem pela frente desafios e dossiers a resolver. Como a decisão final sobre a o preço das ligações entre o Continente e as Regiões Autónomas, contribuindo para dar às populações mais e melhor escolha, reforçando o acesso destas regiões à revolução digital.

Nas comunicações, haverá mais investimento em fibra. E as opiniões dividem-se entre os players que apostam em redes próprias e os que defendem a adoção de um modelo de coinvestimento, com vantagens como garantir um investimento mais racional, assegurar mais e melhor concorrência para o país e maior cobertura de territórios e populações mais desfavorecidas, além de minimizar os inconvenientes ambientais decorrentes da construção desregrada de infraestruturas.

Na guerra da diferenciação, a luta entre os grupos com plataformas de comunicações trava-se agora nos conteúdos, com destaque para os desportivos. Há quem defenda a aposta em conteúdos exclusivos. Há quem esteja completamente contra, argumentando que a concorrência deve estar centrada na relação preço/qualidade de serviço e não deve ser desvirtuada pela exclusividade de conteúdos relevantes. Até porque limita a maximização das audiências num mercado já de si reduzido como é o Português.

No setor postal, o digital é também cada vez mais central e estratégico. A tecnologia está disponível e pode ajudar a pensar novos e disruptivos modelos de negócio, aportando cada vez mais valor à economia. Para além da aposta na diversificação, como o arranque este ano do Banco Postal por parte dos CTT. Nos media, há formatos completamente inovadores de consumo que colocam desafios renovados e obrigam a respostas inovadoras, num mercado cada vez mais digital e ainda à procura da rentabilização.

Este poderá ser o ano do verdadeiro início da era “all-connected” e do Big Data. Muitos projetos ganharão vida porque não podem esperar mais. A interoperabilidade e o cruzamento de informação entre todas as entidades do Estado português será uma realidade e o novo Ministério da Modernização Administrativa permite antever um maior investimento em TIC a caminho de uma verdadeira cidadania digital.

Hoje, todos os setores estão a ser e serão cada vez mais impactados pelo digital. E muito mais estará para vir. Cidades cada vez mais inteligentes - há casos concretos de pensamento e ação – que importa replicar. Estratégias adequadas de privacidade e segurança da informação. Novas formas de Ensino e de Aprendizagem. Novos conceitos de empregabilidade. Novos negócios, como os sociais. Reforço da exportação dos serviços tecnológicos. A captação de talento, que continua a sair de Portugal, assim como a necessidade crescente de recursos humanos qualificados nas áreas tecnológicas, subsistem como um entrave que se impõe ultrapassar. Se bem que perspetiva de médio prazo, a exploração atual de talentos possa trazer vantagens competitivas associadas à globalização e ao retorno destes recursos.

Para Portugal tudo será possível. Mas exigem-se novas atitudes. E uma estratégia nacional, que permita colocar o País no seu verdadeiro lugar. Na Europa e no Mundo. O setor das TIC e Media está apostado neste objetivo e em assumir um papel central na construção do nosso futuro enquanto nação.