Por Carolina Marçalo (*)

A tecnologia Blockchain tem o potencial para causar disrupção, em qualquer ecossistema existente, de formas que ainda não conseguimos definir atualmente. Falo, não só de indústrias com bastante histórico como a Saúde ou as Finanças, mas também de indústrias mais jovens, fruto da inovação tecnológica.

Um exemplo chave disto é a indústria dos videojogos. Os jogos Blockchain estão a redefinir completamente a relação entre os jogadores e os developers, por variadíssimas razões. Torna-se neste momento possível criar uma pertença autêntica e real de materiais dentro do jogo, sejam eles itens, personagens, ou outros materiais.

A troca desses mesmos itens entre jogadores, se feita com recurso à Blockchain, torna-se mais barata e segura, pois todos os processos são criados e publicados numa public ledger. Claro, não esquecendo ainda, a compatibilidade cruzada entre jogos dos itens e da moeda, transações peer-to-peer… enfim, um mundo de oportunidades.

Desta forma, existem várias estratégias que podem ser adoptadas, utilizando tecnologia Blockchain, para melhorar a estratégia de monetização para os jogadores. A missão do protocolo AppCoins é justamente essa, oferecer mais flexibilidade e acesso aos utilizadores - especialmente aqueles que estão em mercados onde, apesar de possuírem um smartphone, não têm acesso ao PayPal ou a uma conta de crédito.

Para isso, aplica-se o conceito de Proof-of-Attention (agora disponível na versão Ada da Aptoide): os developers investem AppCoins na promoção de uma app, sendo que os utilizadores receberão exatamente o montante investido nas suas carteiras digitais, desde que descarreguem e utilizem a app por dois minutos.

O valor descarregado através deste método não pode ser convertido em dinheiro fiat, podendo apenas ser utilizado em compras in-app, promovendo assim o mercado circular e, ao mesmo tempo, recompensar os developers com o mesmo investimento.

E se olharmos para os developers, vemos que, exemplos como o da Epic Games com o seu jogo Fortnite apenas reforçam o impacto que a Blockchain pode ter na indústria. A história é sobejamente conhecida: a Epic não só queria ter o seu jogo acessível para toda a comunidade Android, como ainda argumentava - e com razão - de que merecia uma parte mais justa de todo o lucro que advém das compras in-app.

Este exemplo é perfeito para podermos perceber como a Blockchain pode ser uma alternativa. Não só conseguiriam, com recurso à mesma, ter um sistema de pagamento que fosse transversal a várias lojas de apps de terceiros, como ainda cortariam os intermediários, receberiam uma quota ainda maior do seu lucro e dariam incentivos aos utilizadores, aumentando a sua já enorme conversão.

O brilhante, na tecnologia Blockchain, é a sua fácil adesão e potencial uniformização. Não são apenas as grandes casas de desenvolvimento, como a Epic, que poderão tirar o máximo partido desta tecnologia. Os developers indie podem, desta forma, ganhar uma plataforma de lançamento muito mais forte do que perder-se no meio do “ruído”, sem perspectivas de sucesso para a sua app.

(*) Diretora Executiva da App Store Foundation