Por Duarte Miguel Freitas (*)

 

Está previsto o fim das taxas de roaming na União Europeia em 2017, no culminar de um processo que se arrasta já há alguns anos. Nos últimos tempos, estas taxas têm vindo a diminuir de valor e hoje já não se comparam ao que eram quando surgiram inicialmente. O custo tem baixado de forma significativa e tem o seu fim anunciado para o final do primeiro semestre de 2017, provavelmente a 15 de junho. Na prática, isto vai abranger todo o tráfego de voz, dados e SMS.

O final das taxas de roaming está sujeito a uma utilização responsável, cujos limites ainda estão em negociação. Estuda-se se será um mês seguido de utilização ou três meses interpolados, durante um ano. Seja qual for a opção adotada, a verdade é que um cidadão europeu, quando for para um país estrangeiro, vai deixar de ter tarifas de roaming, o que vai permitir circular sem restrições de mobilidade em toda a União Europeia, trabalhando como se estivesse no seu país natal, sem alterar as suas rotinas. Por outro lado, é uma barreira psicológica que cai, deixando de haver a sensação de se falar para um país estrangeiro.

Na prática, as vantagens para o mundo dos negócios são muitas. Desde logo, a maior de todas, que e a comunicação. O email, o Messenger, o WhatsApp, o Skype, tudo isso são aplicações que, seja ao nível do trabalho, seja a nível familiar, vão facilitar sobremaneira a vida às pessoas que viajam pela Europa.

Cada vez usamos menos a voz e o SMS e recorremos mais aos dados. A partir do final do primeiro semestre de 2017, estando em Portugal, na Alemanha ou na Grécia, vou poder trabalhar da mesma forma, sem alterar rotinas e derrubando a barreira psicológica que afeta, em parte, a circulação laboral no continente uropeu. Os custos podem nem ser extraordinários, sobretudo se falarmos em empresas, mas, ao alterarmos as rotinas, isso prende os nossos movimentos e evita que tomemos muitas iniciativas.

O final das taxas de roaming pode ser também muito importante para a área do turismo. Na dúvida, um europeu poderá muito bem optar por um destino turístico no seu continente apenas por poder comunicar à vontade e ter acesso aos dados, como se estivesse no seu país. O argumento de poder falar livremente com a família, partilhar fotografias nas redes sociais e comportar-se como se estivesse no seu próprio país, pode ter peso suficiente que o faça optar pelo turismo na Europa. E isso pode ter um peso real na economia europeia.

Esta alteração pode também ser muito importante para a internacionalização das empresas. Isto porque os custos de enviar business managers para outros países em prospeção, em visitas a clientes ou em análises de mercado passa a ser substancialmente menor. Essas tarefas passam a ser mais simples, sem ser necessário alterar, uma vez mais, rotinas de trabalho, formas de comunicar e de interagir nos negócios. Passamos a sentir que a União Europeia é um só país, que é aquilo que foi concebida para ser. Está é uma grande barreira que cai, além da abolição das fronteiras físicas.

Para quem tem negócios à escala global, pode ser ainda mais importante. Imagine-se, por exemplo, um cliente que vai para outro país europeu e que, em vez de chamar um táxi/transporte local, pode chamar a Uber, Cabify ou similares. Isto aplica-se a tudo o que são aplicações móveis, seja ao nível do lazer, seja ao nível profissional. Vai haver, certamente, um boost de faturação para muitas empresas nesta gama.

Imaginemos, por outro lado, que pretendemos abrir um escritório noutro país europeu. Vamos estar deslocados nesse país e, sem tarifas de roaming, vamos trabalhar exatamente da mesma forma como trabalhávamos em Portugal. Temos o email no telemóvel, o WhatsApp para os clientes, o Skype, e por aí fora. O que acontece hoje é que, quando estão deslocadas, as pessoas alteram os seus hábitos totalmente. Lembro-me bem, de há poucos anos, ter gasto quase 50 euros em roaming numa chamada de pouco mais de 20 minutos que fiz da Holanda.

Como o final das taxas de roaming, vai haver mais propensão para a internacionalização de empresas europeias no espaço europeu, vai ganhar a mobilidade e a livre circulação, o que só pode ser bom para os negócios. Muitas consultoras de TI portuguesas que têm escritórios em França ou na Polónia têm dezenas de trabalhadores deslocados em projetos. O fim das taxas do roaming é menos uma barreira para que as pessoas de desloquem para esses projetos. É quase como um visto, que deixa de ser necessário. 

 

(*) CEO da Anturio