Risco por Conta Própria
Por Nuno Batista (*)

Numa altura em que batemos recordes sucessivos com elevadas taxas de desemprego, muitas são as pessoas que optam por abandonar o país à procura de melhores condições de vida e trabalho, fazendo lembrar as vagas de emigração dos anos 70, onde se atingiram cerca de 180 mil saídas anuais de portugueses para o estrangeiro. Apesar dos trabalhos pesados serem na altura o principal destino destes emigrantes, a actual geração possui o mais elevado grau de qualificações da nossa história, o que me faz crer que se estas pessoas encontrarem condições de vida e trabalho estáveis, a possibilidade de ascensão na carreira e diminuição dos custos de transporte farão com que provavelmente nunca mais voltem definitivamente.

A ser verdade que o desemprego é uma oportunidade para mudar de vida, como nos é sugerido, os que ficam e não querem tentar a sua sorte fora do país, têm hoje uma das mais difíceis tarefas das suas vidas: encontrar trabalho.

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Um das alternativas para os desempregados sempre foi a criação do próprio emprego, apostando em áreas sobre as quais têm conhecimentos ou interesse. Ao criarmos o nosso próprio emprego estamos sujeitos a um conjunto de obrigações fiscais cada vez mais pesadas e que aliadas a uma economia cada vez mais global e emigração, certamente serão causas para a redução de 26% para 22.9% na taxa de empresários em nome individual entre 2000 e 2010 - dados da OCDE. Curioso que esta mesma organização conclui também que os trabalhadores "por conta própria" são muito mais em países de baixo PIB per capita, atingindo os 30% em estados como a Turquia, México e Grécia, contrastando com cerca de 8% da Noruega e Estados Unidos, apesar do forte incentivo à concretização de novas ideias pelo menos neste último.

Eis que chegamos a uma conclusão interessante: Economias mais fracas tendem para que os desempregados procurem o seu próprio caminho dada a falta de oportunidades de trabalho, que é o que tem vindo a acontecer em Portugal ao longo dos anos. Então se é muitas vezes a necessidade própria e não do mercado que os faz criar empresas, corremos o risco de muitas pessoas poderem daqui a algum tempo vir a ficar pior do que estão hoje, pois não estudaram devidamente o enquadramento do seu negócio. O Risco, por definição, é uma situação em que estamos expostos a um perigo, que neste caso é basicamente o facto de estarem expostos a um mercado que pode não ter lugar para eles.

Tendo por base estes mesmos dados que indicam que os países com maior PIB per capita têm menor percentagem de trabalhadores por conta própria, facilmente concluímos que o incentivo a esta prática não é o caminho para uma economia mais forte, mas sim fomentar o investimento em áreas existentes e onde somos fortes quer em produtos manufacturados, quer em serviços, caso da educação.

Durante a semana passada surgiram algumas notícias que denunciavam um atraso propositado do estado no pagamento dos subsídios de desemprego como forma de colocar pressão nos desempregados a aceitarem qualquer trabalho ou a iniciar actividade por sua conta. A ser verdade, para além dos problemas que causa no seio das famílias, é também atirar os desempregados aos leões que perante a necessidade vêm-se obrigados a agarrar a primeira oportunidade de trabalho, ou mesmo criar a sua própria empresa, contribuindo assim para um tecido empresarial mais frágil e menos preparado.

(*) Webmaster & IT Manager na Medinfotec, SA

Fontes:
OECD iLibrary: Statistics / OECD Factbook / 2012 / Self-employment - http://bit.ly/Rf7jR4