Cem Yener é senior manger business development da Cisco Healthcare e passou por Lisboa para participar na conferência Saúde CUF, organizada pelo grupo José de Mello Saúde e realizada na passada sexta-feira em Lisboa.



O evento esteve ficado na discussão da Mobile health e no impacto das tecnologias móveis nos vários domínios da prestação de cuidados de saúde.




TeK: Do que conhece da realidade portuguesa e europeia qual é o "estado da arte" no que se refere ao impacto das tecnologias móveis na saúde na região. Reconhece diferenças muito significativas face aos Estados Unidos, ou nem por isso?
Cem Yener:
Podemos categorizar a utilização das tecnologias móveis na saúde por cuidados à distância, workflows clínicos, BYOD e Business Collaboration. No que se refere aos cuidados à distância, temos as soluções que usam tecnologias móveis para estabelecer uma ligação vídeo, áudio ou de dados entre um paciente e um prestador de cuidados de saúde, ligando-se a dispositivos médicos que permitem examinar o paciente à distância.

Os dispositivos que permitem isto funcionam principalmente sobre redes Wi-Fi, embora algumas também estejam suportadas em ligações 3G ou ligações de satélite. Nesta área dos cuidados à distância destacam-se ainda as tecnologias de monitorização remota ou monitorização ao domicílio. Usam sensores e dispositivos para monitorizar, avisar e reportar sobre sinais vitais; ou garantir que a medicação é tomada a horas.

[caption]Cem Yener[/caption]

Esta [cuidados de saúde á distância] é uma área nova onde vamos assistir a uma grande evolução nos próximos anos, a par de um grande crescimento no que se refere à segurança e fiabilidade.
Na área dos workflows, as tecnologias móveis estão sobretudo a ser usadas para automatizar ambientes de trabalho num hospital, ao mesmo tempo que suportam a filtragem e fornecimento de informação clínica, que fica acessível a quem presta cuidados de saúde em qualquer local. Podem considerar-se também como parte destes workflows clínicos as soluções que permitem serviços baseados na localização, combinando tags de RFID e conectividade das redes Wi-Fi para facilitar a localização de pessoal, doentes ou dispositivos.

Esta é uma área mais madura, onde as empresas só têm de saber definir o que querem e implementar fluxos de trabalho e mecanismos de comunicação.

No que se refere ao fenómeno do BYOD (Bring Your Own Device), o tema transformou-se num tópico importante também na área da saúde, com o número crescente de profissionais a quererem usar os próprios dispositivos eletrónicos para trabalhar. Isto tem criado necessidades de plataforma que simplifiquem a gestão de dispositivos e sistemas operativos e garantam os meios para tratar cada utilizador com base no seu perfil e nos privilégios a ele associados.
Por último, destaco a tendência da colaboração, que é endereçada por aplicações - agnósticas em relação ao dispositivo de suporte - de mensagens instantâneas, voz e videoconferência.

Comprando Europa e Estados Unidos nestas áreas encontro diferenças na utilização das tecnologias, mas sobretudo porque umas são mais utilizadas num local e outras noutro. Mas o que também noto é que na própria Europa há diferenças. As questões culturais, económicas e mesmo o facto de estarmos perante um operador público e privado gerem diferenças muito significativas.



TeK: Uma questão que tem alimentado algum debate aqui na Europa - no que se refere à adoção de aplicações móveis na saúde e ao benefício que daí podia advir - é a falta de normas que garantam um nível mínimo de qualidade e segurança. Concorda que este é um factor penalizador do desenvolvimento do mercado?

Cem Yener:
Não me parece que seja possível normalizar aplicações móveis, sistemas operativos ou dispositivos. As organizações é que têm de ser flexíveis. Estamos numa era em que é preciso construir para mudar e não construir para durar. Temos de trabalhar com arquiteturas capazes de se adaptarem a necessidades em mudança, que ao mesmo tempo consigam garantir os meios para simplificar a gestão de ecossistemas complexos de aplicações, sistemas operativos ou dispositivos.
Um exemplo nesta área é a nossa Prime Infrastructure, que permite uma gestão de dispositivos com e sem fios, a partir de uma consola única e recorrendo a um ISE (Identity Services Engine), que ajuda a definir perfis de utilizador e direitos de acesso com base na informação de cada utilizador, do local a partir do qual este acede, de quando o faz e de como se liga.



TeK: Mesmo tendo em conta as questões que permanecem por resolver, em que áreas nota hoje já um impacto ou interesse mais vincado nas tecnologias móveis ao serviço da saúde?

Cem Yener:
Uma das áreas onde reconhecemos maiores progressos é a dos workflows clínicos. Há muitos exemplos de implementações de tecnologias móveis que ajudam enfermeiras a atender chamadas mesmo quando estão em movimento ou serviços baseados na localização que ajudam organizações a maximizar a utilização dos seus ativos, ao mesmo tempo que aumentam a eficiência do seu pessoal e melhoram a experiência do utilizador.
Há muitos benefícios tangíveis nestes projetos, testados o suficiente para justificar o investimento.
O vídeo em alta definição como suporte às atividades de telemedicina é outra área. Ai contamos já com várias implementações das soluções Cisco HealthPresence e Tactical Robots, que são uma forma de facilitar cuidados de saúde especializados a quem não tem esse acesso.

TeK: Já mencionou as soluções Cisco. O grupo tem estado muito ativo nesta área da saúde. Quais são as grandes prioridades para este ano?

Cem Yener:
As nossas prioridades são sempre determinadas pelas dos nossos clientes. Quando olhamos para aquilo que as empresas e os governos hoje enfrentam na área da saúde encontramos um conjunto de desafios comuns: população envelhecida, doenças crónicas e aumento dos custos com os cuidados de saúde; escassez de especialistas; satisfação e experiência do paciente; e melhorias ao nível da produtividade, permitindo novas utilizações das TI para endereçar questões como a segurança.
Outra questão que identificamos como crítica para os hospitais e clínicas a nível nacional é o tema da interoperabilidade, que pode ser entendido como a acessibilidade a dados dos pacientes a partir de diferentes sistemas e instituições, mantendo o respeito pela privacidade e segurança dessa informação. Embora não esteja diretamente relacionado com as tecnologias móveis, a interoperabilidade é uma grande prioridade para nós e para os nossos clientes.

TeK: Nestas áreas que identificou há algum projeto vosso que mereça um destaque especial, pela inovação?

Cem Yener:
Um excelente exemplo de inovação é o Netcare na Suíça, revelador de como a tecnologia permite a transformação de processos e inovação.
O projeto responde à necessidade de garantir um acesso fácil a serviços médicos especializados e nasceu para colmatar falhas em períodos de menor oferta, como a noite ou os fins de semana.
Permite que, em vez de se dirigir a uma urgência, o paciente vá a uma farmácia e a partir daí se ligue a um serviço médico através de vídeo ou áudio. O pagamento da consulta e o avio da receita subscrita fazem-se na mesma farmácia onde decorre a teleconsulta. O projeto reúne a seguradora Helsana, a Medgate (empresa de telemedicina) a Swisscom e a Cisco. Dos casos atendidos 66% são resolvidos na teleconsulta realizada na farmácia, os restantes são encaminhados para o hospital ou para um especialista.
Estamos agora a trabalhar também num projeto semelhante, em versão mais alargada, em Itália.

TeK: Num período de cinco anos acredita que o sector será capaz de resolver as questões que hoje tem pela frente e tirar melhor partido dos ecossistemas móveis?
Cem Yener:
Continuaremos a ter cada vez mais opções e meios para resolver questões e isso vai trazer novos desafios às TI, mas essa é a beleza da evolução. É por isso que os CIO precisam de pensar a médio-longo prazo enquanto resolvem as questões de curto prazo. Acreditamos em arquiteturas capazes de se adaptarem a necessidades que vão mudando e que sejam capazes de ajudar a simplificar a gestão de ecossistemas complexos de aplicações, sistemas operativos e dispositivos.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Cristina A. Ferreira