Depois de dois anos de crescimento extraordinário no mercado de PCs, os números do segundo trimestre mostram uma quebra que Francisco Jerónimo, vice-presidente de Data & Analytics da IDC Europa da IDC, classifica como brutal. “As vendas em Portugal caíram 34% em unidades, de portáteis e desktops”, explicou ao SAPO TEK,

Os números refletem o fim do programa de educação, mas também a nova fase de necessidade das empresas e consumidores, que nos últimos dois anos reforçaram investimento nesta área devido à permanência dos profissionais em teletrabalho na sequência da pandemia de COVID-19, que impôs trabalho em casa ou modelos híbridos, e as aulas à distância, com o investimento do Governo no programa Escola Digital que deu lugar à compra de milhares de portáteis para alunos e professores.

“A quebra principal vem da área da educação, onde as vendas caíram 86% com os programas de compra de equipamentos a terminarem”, justifica Francisco Jerónimo. Mas também o consumo caiu mais de 14% e as vendas no segmento de pequenas e médias empresas está também a sofrer efeitos de retração no investimento, com quebras de 32%.

Um outro elemento relevante é a subida do preço médio dos computadores, acima de 20%. “Os fabricantes focaram-se na produção de equipamentos mais caros”, aponta o vice-presidente de Data & Analytics da IDC Europa, lembrando que nos últimos dois anos houve falta de produtos para responder à procura, e que isso teve também efeito na suspensão das campanhas de promoção, ao mesmo tempo que os consumidores passaram a valorizar mais a qualidade dos seus equipamentos e a investir mais para ter um produto melhor.

“Até final do ano vamos assistir a quedas de preços e fortes campanhas para os fabricantes se libertarem de stocks”, antecipa Francisco Jerónimo.

Em temos de números, no segundo trimestre foram vendidas em Portugal 176 mil PCs, portáteis e desktops, quando nos primeiros meses do ano o número ultrapassou os 465 mil e no último trimestre de 2021 chegou aos 606 mil. A Lenovo liderou os números de vendas, com 37,9% do total, seguida da HP com 19,9% e da Asus com 9,5%. A Dell com 8,7% e a Apple com 3,8% completam um top 5 que este trimestre está muito mais desequilibrado do que é habitual, já que nos últimos períodos de análise a HP esteve várias vezes na primeira posição, que agora cedeu para a Lenovo.

Um recuo para a normalidade?

Pedro Coelho, gestor da categoria de PCs na HP Portugal, reconhece a alteração da tendência no segundo trimestre mas lembra que “o mercado tem vindo a recuar para os níveis de procura que se registavam nos períodos pré-pandemia nomeadamente no ano de 2019” e que embora isso se reflita em taxas negativas de 15 a 20% em unidades, relativamente a 2020 e a 2021

“É de salientar que a procura continua mais forte do que se registou nos anos imediatamente anteriores à pandemia”, afirma Pedro Coelho.

O crescimento impar nos últimos dois anos, alavancado pela transição para o trabalho remoto e o ensino à distância acabou por ajudar os consumidores a equiparem-se. A conjuntura económica, com a guerra e a inflação a gerarem mais incertezas quanto ao futuro, fez com que os orçamentos pessoais e familiares tivessem de ser repensados.

Do lado das empresas há uma nota positiva e Pedro Coelho reconhece que nas companhias de média e grande dimensão e nas organizações públicas se mantém maior estabilidade. Só as PME estão a ter mais impacto negativo face à menor capacidade de investimento.

A mesma tendência é assinalada por Carlos Cunha, diretor comercial da Dynabook Portugal, que reconhece que apesar da procura continuar a existir no segmento corporativo, de forma a equipar as equipas para o trabalho híbrido, e por isso a expectativa é positiva, mas “da aceleração da execução do programa PRR bem da consecução dos programas de transformação digital em perspectiva”.

No caso da Huawei os números de vendas são positivos e não acompanham a tendência do mercado. Yin Lingyun, gestor de produto da categoria de portáteis da unidade de consumo da Huawei Portugal refere um crescimento contínuo de vendas e uma subida de 18% YoY, com um market share de quase 9% nos portáteis. Ainda assim, a falta de componentes, a subida da inflação com a guerra e problemas de logística também tiveram impacto, mas o responsável afirma que a Huawei se tem sabido diferenciar.

“Ainda que com a guerra e o fim da pandemia os consumidores não tenham priorizado o investimento em tecnologia, a verdade é que a Huawei tem continuado a crescer e a marcar a sua posição nos pontos fortes que a distinguem de outras marcas do mercado”, defende Yin Lingyun.

Também a Microsoft Portugal diz que tem conseguido, em conjunto com os parceiros, mitigar uma parte significativa destes fatores negativos. “No mercado empresarial a evolução dos dispositivos Surface tem sido sólida, sendo que fechámos recentemente o ano fiscal a crescer a dois dígitos, em cima de um crescimento igualmente de dois dígitos no ano anterior".

"A transição para modelos de trabalho híbrido veio reforçar a visão da Microsoft de que o trabalhador dos dias de hoje necessita de mobilidade e produtividade – a partir de qualquer lugar”, explica João Moura, líder do segmento empresarial de Surface na Microsoft Portugal.

Preços mais altos e consumidores mais exigentes

As tendências de compra são também afetadas pelo perfil dos consumidores portugueses. Carlos Cunha refere que “os compradores portugueses, tentam obter o maior equilíbrio entre a portabilidade, performance e qualidade de construção. Ao contrário do que acontece com outros tipos de equipamentos, o ciclo de compra de novos computadores é maior do que é por exemplo com os smartphones, por isso os portugueses tentam maximizar estes três pontos no momento da escolha”.

Como a Dynabook está focada apenas em B2B, tendo assumido a herança da marca Toshiba, o diretor comercial admite que o preço médio está acima do mercado e que nos últimos meses aumentou cerca de 3%. A linha mais vendida é a gama Tecra  e na generalidade os consumidores procuram um equipamento que assegure uma vida útil mínima de 3 a 5 anos.

Também na HP o preço médio subiu, na sequência do aumento dos custos de produção “mas sobretudo porque os últimos anos reforçaram a importância do PC enquanto ferramenta pessoal para entretenimento, trabalho e socialização. Como consequência, aumentou a exigência sobre as características do PC e registou-se uma movimentação significativa da procura para as gamas de média e alta gama”, afirma Pedro Coelho.

Os valores estão também agora “fortemente dependentes das circunstâncias externas, sobre as quais os fabricantes não têm uma influência direta”, entre as quais a evolução da guerra na Ucrânia, com consequentes impactos no cenário macro-económico, e, em particular, a valorização cambial do euro.

O responsável da HP reconhece também uma mudança de comportamento e maior exigência dos clientes. “Os últimos 2 anos e, em particular, os períodos de confinamento demonstraram-nos que os PCs não são todos iguais. Percebemos a importância de ter um PC com uma câmara integrada de boa resolução que nos permita ter uma boa presença remota perante amigos, colegas ou mesmo clientes”, afirma.

“Somos menos tolerantes com PCs que bloqueiam quando estamos a ouvir música ao mesmo tempo que retocamos uma fotografia e exigimos qualidade de som quando estamos a ver uma série em streaming ou quando precisamos que o PC elimine o ruído que nos rodeia enquanto nos focamos numa reunião com a nossa equipa de projeto”, adianta Pedro Coelho, dizendo que este comportamento acontece a nível pessoal e empresarial.

A questão da segurança é mais valorizada no mercado empresarial, como sublinha João Moura. A adaptação ao trabalho, a valorização de formatos mais leves e facilmente transportáveis são características que se conjugam nesta visão das empresas. “Vemos também cada vez mais os responsáveis de uma empresa a olharem para o investimento como um posto de trabalho completo (hardware e Cloud management) e não apenas para as características físicas versus preço”, justifica o responsável pelo segmento empresarial de Surface da Microsoft Portugal.

Expectativas em alta para o final do ano?

Depois de um mercado mais valorizado, a tendência de descida de preço para o final do ano é referida por Francisco Jerónimo da IDC EMEA,  que antecipa campanhas da parte dos fabricantes para libertarem stocks.

Yin Lingyun já identifica uma redução de preços que acompanha as campanhas de regresso às aulas, um dos momentos mais importantes do ano para a venda de PCs. “Temos algumas campanhas em vigor para assinalar esta data, que vão desde a redução de preço (como é o caso do HUAWEI MateBook D 15 i3, que se encontra neste momento na casa dos 479€ com oferta de rato Bluetooth e mochila) à oferta de produto (que no caso do novíssimo Huawei MateBook 16s é o monitor HUAWEI Display 23.8)”, justifica. Os valores ficam abaixo do preço médio de venda habitual da Huawei, que tem estado entre os 500 e 600 euros.

No mercado empresarial as expectativas são mais positivas, com as empresas a continuarem a investir na renovação do posto de trabalho, o que pode ser ajudado pelo financiamento de projetos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

João Moura admite que a perspectiva é continuar a crescer a dois dígitos na linha da Microsoft Portugal. “Continuamos a ver uma tendência de crescimento neste arranque do nosso ano fiscal ainda que estejamos numa fase do ano naturalmente mais calma devido às férias de verão. O regresso ao trabalho trará, mais uma vez, uma necessidade de reforço do parque instalado, já que há ainda muita transformação a acontecer nas empresas no que diz respeito à forma de trabalhar e aos recursos oferecidos aos colaboradores para que possam desempenhar as suas funções da melhor forma”, afirma.

Da mesma forma, Carlos Cunha, tem uma visão positiva para a Dynabook Portugal.

“Honestamente a expectativa é positiva e depende da aceleração da execução do programa PRR bem da consecução dos programa de transformação digital em perspectiva”, afirma Carlos Cunha.

A tendência terá ainda de confirmar-se, até porque as notícias para a economia não são animadoras e antecipam uma maior retração do consumo, apesar da reconhecida necessidade dos consumidores pessoais e das empresas de renovarem os parques de equipamentos e da maior exigência com o design e a qualidade dos materiais.

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