O mês de outubro é dedicado às competências digitais e hoje decorre o Fórum das Competências Digitais, que deve começar pelas 9h30 no ISCTE, em Lisboa, com uma agenda por onde passam debates e apresentações de vários projetos,  a apresentação da nova plataforma Digital Skills e Jobs e o estudo de empregabilidade digital.

Maria Manuel Leitão Marques, eurodeputada, ex-ministra e promotora do programa InCoDe,2030 ainda em 2018, é a presidente do Fórum e em entrevista ao SAPO TEK detalhou as suas expectativas para a evolução das competências digitais em Portugal.

"A nossa primeira preocupação é não deixar ninguém para trás", explica a eurodeputada que lembra que "as competências digitais são hoje essenciais para uma vida ativa", lembrando que durante a pandemia, o domínio das ferramentas digitais foi quase uma necessidade de sobrevivência para aceder a informação, marcar testes fazer compras e contactar com amigos e familiares.

"O que seria não saber ler ou escrever há alguns anos é agora não saber usar as ferramentas digitais", afirma, defendendo que desta forma as pessoas ficam privadas dos seus direitos e dependentes de outras para aceder a serviços básicos.

Para além das áreas de educação dos mais jovens, onde é óbvia a necessidade de continuar a investir, Maria Manuel Leitão Marques sublinha a importância de aumentar as competências digitais da população ativa, no sector privado, público e social, permitindo a adaptação a novas formas de prestar serviços que estão a surgir. "Há empregos que vão desaparecer e é necessário preparar as pessoas para novas funções que vão surgir", reconhece.

A área de formação avançada, com a especialização em tecnologias de informação, é também uma das preocupações do programa. A eurodeputada lembra que na Europa faltam 500 mil profissionais nas áreas de TIC e que estes são os perfis mais procurados e mais bem pagos, pelo que é importante reforçar a oferta.

Um atraso que é urgente recuperar

Maria Manuel Leitão Marques explica que o programa do InCoDe.2030 é adaptável às evolução das necessidades ao longo do tempo, mas que nesta fase a inclusão e as competências básicas são ainda muito necessárias. "Partimos de com atraso com uma população menos qualificada [...] se fosse mais qualificada já podiamos estar a investir em formação mais avançada", admite. Mesmo assim aquilo que é hoje considerado formação básica não é o mesmo que há 5 a 10 anos, e não será o mesmo que no futuro. "Por isso o programa foi criado em ciclo", explica.

Mesmo assim a eurodeputada tem uma visão positiva, e acredita que daqui a 10 anos não vamos precisar do mesmo tipo de iniciativas. "A evolução vai acontecer naturalmente à medida que as novas gerações crescem", lembra a eurodeputada que defende que podem existir programas dedicados às competências digitais mas que "não será preciso empurrar tanto este temas", embora a formação e atualização de competências seja sempre essencial.

Em relação à operacionalização do programa, Maria Manuel Leitão Marques admite que esta é a parte mais difícil. Os eixos da investigação e da educação vão avançando mas a qualificação e inclusão têm mais dificuldades. "É preciso saber quem são as pessoas [infoexcluídas] e motivá-las para as competências digitais", justifica, apesar de contar algumas histórias que mostram que pela experiência que tem tido no terreno as pessoas não resistem a aprender, mas que muitas vezes estão fora das redes de apoio.

A eurodeputada defende que a qualificação e especialização têm de ser trabalhadas com as empresas, a administração pública e as organizações sociais, e também com as empresas do digital que podem criar academias de código. Para que o programa InCoDe.2030 tenha sucesso Maria Manuel Leitão Marques alerta que é preciso "trabalhar em rede e com muita cooperação entre empresas e a sociedade civil".

"O Governo tem um papel importante de garantir acesso a fundos e liderar projetos, mobilizar as universidades, empresas e a sociedade e de dar este empurrão", afirma, admitindo que com o tempo não será necessário empurrar tanto e que o objetivo de estabelecer uma meta para 2030 está também ligado a essa evolução.

A presidente do Forum das Competências Digitais mostra também expectativa que a conferência de hoje seja uma forma de partilha de experiências e boas práticas do que está  a ser feito e dos vários projetos, assim como de mobilização dos vários parceiros e organizações.