A desinformação é um dos grandes problemas do mundo online e para o qual ainda não parece existir uma resposta exata. Neste universo, qual é o papel da sátira na sociedade de informação online? Para responder à pergunta, a Google trouxe para a mesa de debate José Pedro Silva, fundador do Imprensa Falsa, numa sessão online onde também estiveram em destaque as medidas tomadas pela tecnológica de Mountain View na luta contra a desinformação.

O fundador do jornal satírico afirma que, hoje, os utilizadores estão muito habituados a ler os títulos das notícias que encontram enquanto navegam online, uma questão que torna tudo mais complicado quando se considera que existem pessoas que têm dificuldade em perceber que o que está publicado não é verdadeiro.

José Pedro Silva dá a conhecer que, apesar do alerta presente no nome da publicação e das próprias temáticas “absurdas” retratadas, são vários os casos de quem olha para as “notícias” da Imprensa Falsa como se fossem reais, em particular, quando há artigos que se tornam mais virais e que acabam por chegar a um público mais fora do habitual e que não está habituado à sátira.

“Por mais que se seja claro e que se tenham os alertas todos, o que no meu caso é o próprio título, isso nem sempre resulta na plenitude”, enfatiza.

Há toda uma “arte” no que toca à produção de notícias satíricas, num misto de atualidade e absurdo, com este último elemento a ser considerado pelo fundador da Imprensa Falsa como uma ferramenta fundamental para diferenciar uma “notícia” satírica de uma verdadeira.

“Se alguém for enganado por uma notícia minha eu tenho responsabilidade”, sublinha, motivo pelo qual o absurdo assume um papel de revelo, isto num contexto marcado por “scroll infinito” nas redes sociais, onde são apenas absorvidos os cabeçalhos das notícias que vão aparecendo e onde, muitas vezes, não há motivação para investigar mais e verificar que a informação é fidedigna.

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Um recente estudo do International Computer and Information Literacy (ICILS), onde foram inquiridos 3.000 jovens portugueses, revela que apenas 1% conseguia selecionar informação mais relevante, sendo também capaz de avaliar se a informação era de confiança.

Quando questionado acerca do é necessário para ensinar a informação de uma forma correta, José Pedro Silva sublinha que é preciso um ambiente online “mais claro”, caso contrário, os utilizadores serão prejudicados, assim como a esfera das notícias e a dos conteúdos noticiosos satíricos.

Para combater a disseminação de informação falsa e prejudicial online, o fundador detalha que é necessário um esforço conjunto: por um lado, entre meios de comunicação social, organizações e empresas na área do digital e, por outro, dos próprios utilizadores, que precisam de desenvolver a sua literacia mediática e digital para poderem navegar adequadamente na Internet. José Pedro Silva realça ainda a necessidade de existir uma maior união entre as pessoas que produzem conteúdos.

O que está a Google a fazer para combater a desinformação online? 

Tal como detalha, Helena Martins, responsável por políticas públicas da Google, o combate à desinformação é uma das principais missões da Google. “Se não passamos informações de qualidade para os utilizadores, estamos a falhar na nossa missão”, enfatiza.

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No contexto da pandemia de COVID-19, o acesso à informação tomou-se numa “tábua de salvação”. Para contribuir para uma transição digital mais bem-informada, a tecnológica aposta na formação, com iniciativas que se estendem a Portugal e que prometem “não deixar ninguém para trás” no processo de transformação.

Para a Google, a luta contra a desinformação passa por três eixos principais: apoio a investigação e construção de programas que promovem a literacia digital; melhorias nos produtos que desenvolve; e colaboração com jornalistas para divulgar informação o mais exata possível.

A responsável destaca que o combate à desinformação não é algo que se possa fazer isoladamente. Assim, as iniciativas que juntam empresas, organizações, instituições e sociedade desempenham um papel de relevo no processo.

Para lá do seu motor de busca, que, de acordo com Helena Martins não é um “oráculo da verdade”, mas sim uma espécie de biblioteca que apresenta o que está disponível online, a Google também tem focado as suas atenções no YouTube, procurando aprofundar as informações disponíveis para os utilizadores acerca dos vídeos e apontar para fontes noticiosas de confiança.

A sua estratégia passa ainda por mobilizar esforços para trazer mais transparência à publicidade política, assim como impedir publicidade em websites de editores que violem as suas regras. Ainda neste ano, a Google removeu anúncios de 1,3 mil milhões de páginas e impediu anúncios em mais de 1,6 milhões de sites que violavam as suas regras.

Já no que toca ao terceiro dos seus eixos, a Helena Martins enfatiza que a Google está a tomar uma série de medidas para apoiar os jornalistas: do envio de tráfego através dos seus produtos à Google News Initiative, passando pelo apoio às receitas e a editores.

Nota de redação: Foi feita uma correção à notícia. (Última atualização: 15h51)