O negócio que a Microsoft hoje anunciou com uma subsidiária da Foxconn é mais um peso no enterro da marca que durante tantos anos liderou no mercado móvel e que parecia inabalável. A compra do segmento de telemóveis à Nokia em 2014 foi perdendo gás e depois de anunciar o abandono da marca Nokia nos smartphones a empresa de Redmond vende agora os feature phones, os equipamentos de gama baixa que se destinam sobretudo aos mercados emergentes.

Os rumores de que a Microsoft pode abandonar o mercado móvel de forma definitiva são mais do que muitos, e com a aposta no Windows 10 Mobile limitada a alguns equipamentos de topo de gama parece ainda mais consistente. Sobretudo se olharmos para o peso cada vez mais reduzido que a plataforma tem no mercado.

Para trás fica um facto inegável: a marca da Nokia na história dos telefones móveis, e na história de utilização de muitos de nós. Não faltam neste percurso modelos icónicos, daqueles que uma vez vislumbrados nos remetem imediatamente para a adolescência… ou para bem antes disso.

O que propomos aos leitores é que olhem para trás, para os telefones que marcaram a nossa história e recordem os recordes de Snake - o original, que em nenhum telefone se jogou com tanta destreza como no 3210 - e a "pinta" que sonhámos ter quando nos meteram o "telefone do Matrix" nas mãos - pela primeira vez carregámos no botão que disparava a tampa, qual Neo entre batalhas Cyberpunk.

[caption][/caption]

Todas as histórias têm um início e a da presença da Nokia no mercado de telemóveis não é exceção. Assim, começamos por apresentar aquele que foi o primeiro telefone GSM da marca. O Nokia 1011 foi lançado em 1992 e tinha autonomia para 1h20 em conversação ou 12 horas em espera e pesava quase meio quilo (475 gramas).

[caption][/caption]

O tamanho do dispositivo valeu-lhe algumas críticas. Numa altura em que os telefones analógicos já começavam a "encolher", o design do equipamento era visto como uma espécie de retrocesso, mas as funcionalidades terão prevalecido na análise: a ligação GSM era mais estável.

O modelo continuou a ser produzido até 1994, altura em que foi introduzido o Nokia 2110 como seu sucessor. Entre as suas particularidades conta-se o facto de ter sido o primeiro a chegar ao mercado com o Nokia Tune, o toque que haveria de ficar para sempre associado à marca.

Outro dos modelos considerados "míticos" pelos adeptos da marca é o Nokia 8110, que trazia uma tampa deslizante (e metalizada) que protegia o teclado - e lhe dava alguma dose de "coolness". A ajudar à dose de estilo acima do habitual, estava o facto de se apresentar como o primeiro a contar com uma antena interna, escondida no corpo do aparelho. Podia pesar 118 gramas ou 99, consoante a bateria incluída fosse standard ou de lítio.

[caption][/caption]
Mesmo que este modelo nos tivesse deixado impressionados, nada nos poderia preparar para o que aí vinha. Adeus acabamentos metalizados, olá cor indefinida - em variações de verde, talvez - que mudava consoante a luz e a orientação que dávamos ao telefone. Olá Nokia 7110.
[caption][/caption]
Aquilo não era um telemóvel. Foi todo um romance que nos venderam. Quando a tampa, como que por magia, descia ao nosso toque discreto no botão lateral, éramos Neo e Trinity. Tínhamos sobretudos e calças de cabedal e liamos linhas de código tão bem como nos desviávamos de balas no ar. Ainda que ao cabo de poucos meses o botão deixasse de funcionar e a tampa ficasse lassa.
Desvarios à parte, este foi também o primeiro terminal da Nokia equipado com browser WAP, para navegar na Web. Podia não ser a uma velocidade alucinante, mas era possível. Estávamos em 1999. O equipamento ficou ainda caracterizado pela roda colocada abaixo do ecrã, no centro do dispositivo, que auxiliava a navegação.
E isto, alguém sabe o que é?
[caption][/caption]

Esqueçamos o estilo e foquemo-nos na produtividade. Talvez tenha sido um raciocínio semelhante que levou a Nokia a apresentar este dispositivo, ainda em 1996 - mas tememos que não, até porque ele foi usado por Val Kilmer no remake do Saint, em 1997.

Na altura, era o que empresa tinha de mais aproximado a um telefone/computador de bolso, condensando funções de agenda e permitindo a ligação em rede a outros terminais, por via do protocolo Telnet. A máquina em questão é a primeira de uma linha a que a fabricante finlandesa chamou Communicator, e que tem no E90 o atual sucessor. Pesava cerca de 400 gramas.

E como nem só de topos de gama e assuntos sérios é feita a vida, passamos agora aos modelos que começaram a democratizar o acesso a este tipo de terminais, tanto às camadas mais jovens como àqueles que simplesmente não tinham possibilidade ou necessidade de fazer o investimento necessário à aquisição de alguns dos modelos acima referidos.

[caption][/caption]

Um dos nossos preferidos neste portefólio será, sem dúvida, o Nokia 3210, lançado em 1999. Nunca outro telemóvel como este nos permitiu jogar Snake com tanto afinco e devoção. E a possibilidade de mudar as capas do telefone (se estivesse a ser apresentado agora aposto que estaríamos a falar em "personalização") esteve para os donos de um terminal destes como a introdução dos toques polifónicos noutros tempos: era toda uma geração a precisar de se expressar.

Considerado um dos mais bem-sucedidos modelos da marca, o 3210 vendeu 160 milhões de unidades em todo o mundo. Depois veio o 3310, mais pequenino, com apontamentos em dois tons e direito a screensaver (e com menos mística?).

[caption][/caption]

Com poucos meses de diferença seria lançado o Nokia 3330 que já permitia (preparem-se!) o envio de mensagens de imagem animadas. E não, não estamos a falar de fotografias, são imagens a preto e branco - verde, neste caso, devido ao fundo do ecrã - a lembrar as fornecidas com o Word há muitos anos.

Provavelmente inspirada na febre dos jogos e da troca compulsiva de SMS que deixava os adolescentes agarrados a modelos como estes, a Nokia lançaria em 2001 um telemóvel com um teclado completo - metade colocado do lado direito e outra metade colocada do lado esquerdo do ecrã - dirigido ao mesmo público-alvo.

[caption][/caption]

O Nokia 5510 contava também com funcionalidades como o leitor de música e rádio e ganharia em 2003 um sucessor à medida daquilo em que se tornou: um aspirante a híbrido entre consola de jogos portátil e telemóvel. Falamos do NGage, que vinha equipado com um ecrã a cores de 2,1 polegadas (TFT 4096 cores e 176x208 pixéis). Um processador de 104 MHz da ARM, acesso ao email. WAP 2.0 e toques MP3 eram outros dos trunfos a seu favor, mas não costuma ser apontado como um sucesso de vendas.

[caption][/caption]

Como seria de esperar, a selecção é subjetiva e não haverá dúvidas de que os lançamentos impactantes da Nokia não se ficam por aqui. Optámos, porém, por destacar alguns dos equipamentos icónicos da marca e temos uma certa dificuldade em incluir no nosso lote de ícones aqueles que contam com menos de uma década de existência...

Nota da Redação: Este regresso ao passado foi originalmente publicado quando foi anunciada a venda do negócio móvel da Nokia à Microsoft e foi recuperado agora para relembrar os principais equipamentos que fazem parte da história dos telemóveis.