As aplicações de encontros recolhem mais dados que nunca, para atrair os utilizadores da geração Z e não estão cumprir as boas práticas de privacidade, refere um estudo promovido pela Mozilla. Os investigadores já tinham demonstrado preocupação numa análise sobre a privacidade destas aplicações em 2021 e agora concluem que as aplicações de namoro se tornaram “mais famintas por dados e intrusivas”.

A propósito do Dia de São Valentim, em fevereiro, a Mozilla tinha eito uma listagem de chatbots de namoro com IA e apontado as menos recomendadas em matéria de privacidade.

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Agora a empresa avaliou 25 aplicações de encontros e rotulou 22 delas como "Privacy not included" (a nota mais baixa no jargão da Mozilla). Apenas a Lex, da Queer, obteve nota positiva. A Harmony e a Happn obtiveram uma classificação aceitável.

Segundo o estudo, 80% das aplicações podem partilhar ou vender os dados pessoais para fins publicitários.

Há casos ainda, como a Bumble, que têm cláusulas de privacidade pouco claras e que poderão vender os seus dados dos utilizadores a anunciantes: "Utilizamos serviços que ajudam a melhorar as campanhas de marketing. Ao abrigo de determinadas leis de privacidade isto pode ser considerado venda ou partilha das suas informações pessoais com os nossos parceiros de marketing", diz um pop-up na aplicação, observado pela Mozilla.

O relatório refere que a maioria das aplicações, incluindo a Hinge,  Tinder,  OkCupid,  Match,  Plenty of Fish,  BLK e  BlackPeopleMeet, têm acesso à geolocalização precisa dos utilizadores.

Aplicações, como a Hinge, recolhem mesmo dados de localização em segundo plano quando a aplicação não está a ser utilizada. "Se recusar a recolha da sua geolocalização exacta, não a recolheremos e os nossos serviços que dependem da geolocalização exacta poderão não estar disponíveis para si", afirma a política da Hinge.

As aplicações de encontros afirmam que recolhem uma quantidade significativa de dados para encontrar os melhores pares para os utilizadores. No entanto, se esses dados acabarem nas mãos de “data brokers”, as consequências podem ser graves.

"Se as aplicações de namoro pensam que as pessoas vão continuar a disponibilizar os seus dados mais íntimos - basicamente, tudo menos o nome de solteira da mãe - sem encontrar o amor, estão a subestimar os seus utilizadores. As suas práticas predatórias de privacidade são um fator de rutura", afirmou Zoë MacDonald, investigadora e uma das autoras do relatório, num comunicado.

De acordo com dados da empresa de análise data.ai, os downloads de aplicações de namoro estão a diminuir. Em 2021, os utilizadores gastavam 42 mil milhões de dólares em apps de encontros a nível global, revelou no ano seguinte a data.ai.

Um outro estudo da Pew Research publicado em 2023, sugere que apenas três em cada 10 adultos já usaram um site ou uma aplicação de namoro, um número que se mantém desde 2019.

A Mozilla acrescenta que as aplicações já usam IA para combinar algoritmos. Com o aparecimento da IA generativa, os investigadores não estão confiantes de que as aplicações de encontros terão proteções suficientes para a privacidade dos utilizadores.

Misha Rykov, investigador de privacidade da Mozilla, afirma que, à medida que as aplicações de encontros recolhem mais dados, têm o dever de proteger esses dados de serem explorados.

No início deste ano, a Mozilla também avaliou uma série de bots de IA que poderiam agir como parceiros românticos e encontrou algumas preocupações sérias sobre a segurança e as práticas de partilha de dados destes bots.