A distância entre os ligados digitalmente e os “outros” continua a aumentar. A exclusão digital afeta atualmente 45% da população mundial, mas se afunilarmos a questão um pouco mais, percebemos que entre os países mais pobres o valor baixa para apenas 25%. Hoje estamos assim, mas “pelo andar da carruagem” prevê-se que em 2050 a exclusão digital surja como o principal identificador de pobreza e de desigualdade.

Numa altura em que os governos do mundo respondem às contingências da COVID com a disponibilização de serviços online é preciso lembrar que há muitas pessoas que não têm acesso à internet e, consequentemente a esses serviços”, alertou Robert Opp, Chief Digital Officer da UNDP, na sessão "Digital divide: The new face of inequality" do Web Summit.

O combate à exclusão digital deverá passar por uma aproximação centrada nas pessoas, defendeu Anabela Pedroso, Secretária de Estado da Justiça.

“Temos de perceber rapidamente as necessidades das pessoas e ter as respostas certas para as perguntas”, acrescentou.

A Secretária de Estado também defendeu que é preciso focar no tipo de serviços que é possível oferecer, lembrando que há países onde podem existirem poucos computadores, mas cresce o acesso aos telemóveis e aí a aposta deve passar pelos serviços mobile.

Anca Bogdana Rusu concordou e foi um pouco mais longe, alegando que é preciso começar a pensar mobile first quando se fala em resolver a exclusão digital. A Head of Strategy da cLabs referiu igualmente os números que falam na existência de 6.000 milhões de smartphones no mundo “e a subir”.

“O mais importante na aproximação adotada é sermos humanos: a tecnologia é crucial para aquilo que queremos fazer, mas no final estamos a falar de pessoas e de como usar a tecnologia para um bem comum”, afirmou Anabela Pedroso.

Educação, desinformação e regulação

É um dado adquirido que o acesso à internet, por si só, não resolve o problema da exclusão digital. Para 'Gbenga Sesan, Executive Director da Paradigm Initiative devemos dar atenção à tecnologia como plataforma para educar, “para melhorar os números da educação”.

E o que poderá ser feito para evitar que as pessoas passarem de vitimas que têm os seus dados explorados a detentores dos seus dados para os poderem monetizar?

“Ligar alguém à infraestrutura não é garantia de que esse alguém obtenha um uso produtivo dessa infraestrutura”, referiu Robert Opp.

Para o Chief Digital Officer da UNDP é importante o foco no uso produtivo: “ter acesso aos serviços e usar esses serviços de forma a podermos melhorar as nossas vidas” sem, o entanto, descurar “os desafios de estar ligado”. E aqui entra a desinformação.

A questão neste capítulo poderá não ser a literacia, mas passar antes pela educação, apontou Anabela Pedroso. “A desinformação sempre existiu e vai continuar sempre a existir. Em Portugal até temos uma palavra que retrato o ‘espírito’: coscuvilhice”, referiu a Secretária de Estado da Justiça.

Para Anca Bogdana Rusu a desinformação “vai estar sempre lá”, a não ser que ajudemos a construir espírito critico. “Temos de dar skills de espírito crítico às pessoas”, sublinhou.

Sobre a regulação, a Head of Strategy da cLabs defende que é necessário conversação e educação mútua do universo tecnológico para os reguladores e dos reguladores para o universo tecnológico. “Mais troca de impressões entre os dois universos”.

A solução passa por pôr governos, empresas e organizações sociais a trabalharem conjuntamente, na educação, literacia e regulação. “Temos de criar uma joint venture e só assim poderemos pensar em acabar com a ‘coscuvilhice’ que temos, digital ou não”, apontou a Secretária de Estado da Justiça. Também é preciso falar mais e melhor. “Não apenas dizer coisas, mas dizer coisas que sejam interessantes e importantes para as pessoas”.

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