O digital é uma das áreas onde deve haver consenso e não deve depender da conjuntura política, defende Marcelo Rebelo de Sousa que diz que temos de nos habituar a esta política de consenso, um apelo feito na abertura da Portugal Digital Summit que decorre entre hoje e amanhã em Lisboa, na Fundação Champalimaud.

"Portugal está a vencer no digital e tem de continuar a vencer no digital" e defende que devia haver um dia em que as televisões "abrissem com o sucesso digital mostrando como tudo mudou em 16 anos e as vantagens que isso representou na economia do país, na saúde e na educação", e como isso se converteu numa revolução que deixará de ser silenciosa quando todos perceberem o que se está a passar, justifica.

Recordando o início da ACEPI, Marcelo Rebelo de Sousa recordou que eram "meia dúzia de carolas", que falavam do digital e do futuro numa altura em que a sociedade portuguesa ainda vivia várias transformações, da descolonização, da entrada na Europa. "Tenho de louvar a ACEPI por ter sido pioneira", sublinhou ainda, dizendo que é preciso aproveitar a onda destes anos de ouro, potenciados pelo Web Summit, e converter esta onda numa realidades estrutural na economia e sociedade portuguesa, tirando partido não a 30% mas a 100%.

Seguindo uma lógica conhecida de quando era comentador, o Presidente falou nas coisas boas, destacando não só o papel da ACEPI, como o desenvolvimento do selo de confiança Confio.pt e o acordo com a China, mas também de desafios. 

Em relação ao acordo com a China, com quem a ACEPI assina amanhã um protocolo de colaboração no eCommerce, Marcelo Rebelo de Sousa diz que não podemos ser ingénuos. "A China está a fazer uma grande opção estratégica em Portugal e Portugal na China", mas não por gostarem muito do país e sim porque a China não encontrou nenhuma sociedade europeia onde possa entrar em sectores altamente protegidos como entrou em Portugal, e admira-se como ambos os países demoraram tanto tempo a perceber isso. 

O Presidente lembra ainda que "não há almoços grátis", e que este investimento tem contrapartidas a prazo, mas como se trata de uma sociedade oriental essas contrapartidas são laboriosamente construídas. 

Desafios a ultrapassar em 2020 e não em 2025

O Presidente comentou ainda o estudo da Economia Digital, revelado esta semana pela ACEPI, notando sobretudo que há alguma coisa estranha quando se diz que os empresários estão mais atrasados do que os consumidores, até porque estes são também pessoas. "O principal problema ainda é dos portugueses", afirma, dizendo que 70% das pessoas tiram partido das tecnologias num patamar mínimo e que o número dos que usam mais efetivamente é reduzido. E volta a alertar para  facto de não poderem existir "dois portugais" um envelhecido ou a envelhecer, e outro mais desenvolvido.

Marcelo Rebelo de Sousa defende ainda que Portugal tem de resolver um grande desafio, que é o da digitalização das empresas, sobretudo das micro e pequenas empresas, que têm de chegar rapidamente ao digital. "Em 2025 é tarde, tem de ser já em 2020".

Apesar dos desenvolvimentos registados nos últimos 16 anos, Marcelo Rebelo de Sousa admite que uma das razões do digital não ter ido mais longe "é a crise dos últimos 5 anos", e reforça que não podemos continuar em crise. "A saída é difícil, mas temos de a abreviar e fomentar os fatores de crescimento", fomentando o investimento não só no digital mas na economia.

A Portugal Digital Summit é uma conferência da ACEPI que decorre entre os dias 11 e 12 de outubro no Auditório da Fundação Champalimaud. A conferência integra a Portugal Digital Week na qual a ACEPI condensou diversas iniciativas ligadas à Economia Digital.