O mercado de Tecnologias da Informação deverá este ano valer 5,3 mil milhões de euros em Portugal, número que representará um crescimento de 0,8%, face a 2022. No ano passado, a receita gerada pela despesa TI cresceu 4,4% e, um ano antes, 17,8%. Como explicou ao SAPO TeK Gabriel Coimbra, 2023 vai ser um ano de ajustamento, marcado pelo contexto macroeconómico e pelo “abrandamento muito significativo” do consumo, que se refletirá sobretudo nas vendas de computadores e smartphones. Também este abrandamento é um ajuste do mercado, depois da explosão nas vendas destes equipamentos, para responder às necessidades de trabalho e ensino à distância impostas pela Covid.

Dos três fatores que influenciam a previsão da IDC Portugal para este ano, o presidente da consultora admite que o clima de incerteza económico é aquele que mais pesa no resultado da equação.“Não identificamos uma diminuição do investimento [associada a esses receios] mas há alguma contenção”. Se não existisse, a IDC admite que a despesa com TI este ano poderia crescer a um ritmo idêntico ao de 2022.

A transformação digital das empresas continuará a ser o grande motor de investimento em tecnologia. A IDC já tinha estimado que, até 2025, representará 50% do todo o investimento nacional em tecnologia e reitera.

Os esforços para transformar modelos de negócio e abrir novas oportunidades assentes no digital reflete-se no crescimento do investimento em diferentes áreas e tecnologias. Desde logo na cloud, que se converteu no modelo de referência para o consumo de soluções tecnológicas. Essa é uma tendência que a IDC vê como transversal às mais diversas áreas de modernização das empresas.

O investimento de 855 milhões de euros que este ano deverá ser realizado no mercado português em soluções cloud, mais 20,6% que em 2022, não é por isso mais do que a “consolidação da cloud como o principal modelo de consumo de IT”, sublinha Gabriel Coimbra.

Investimento em segurança ainda terá de crescer mais

O responsável lembra que dois fatores principais estão a marcar a adoção de cada vez mais tecnologia pelas empresas. “Por um lado há uma grande preocupação em conseguir criar novos canais de receitas, criar valor com o digital e incorporar tecnologia nos produtos e serviços, para ganhar competitividade”. Do outro, uma noção crescente da importância da segurança para acautelar os investimentos em modernização e proteger o negócio de novos riscos, mas também para cumprir requisitos de privacidade ou compliance.

Isso volta a refletir-se no crescimento dos investimentos em segurança, que este ano devem atingir os 302 milhões de euros, mais 13,9%. Para a IDC, tão relevante como o número absoluto é já a percentagem que o número representa no orçamento total de TI. Este ano ficará nos 7,5%, mais do dobro da quota atingida há poucos anos. A consultora acredita que nos próximos anos este peso relativo aumentará ainda mais e terá de passar dos 10%.

A grande tendência na segurança, como reconhece Gabriel Coimbra, passará cada vez mais pela “adoção de soluções mais sofisticadas, com inteligência artificial, e que consigam automatizar de forma inteligente todo o processo de segurança das organizações”.

Esta nova abordagem é também a via para fazer mais com menos e lidar melhor com a escassez de perfis especializados que hoje se verifica nesta área, como na cloud ou na área de data e analytics.

A IDC estima ainda que em 2023 também os investimentos em inteligência artificial, IoT e analytics cresçam significativamente. O mercado de soluções de inteligência artificial deverá valer 92 milhões de euros, num crescimento de 24,6% face a 2022. É um avanço que em boa medida traduz a adoção e entusiasmo em torno das soluções de IA generativa lançadas nos últimos meses, reconhece Gabriel Coimbra. Esta é, no entanto, apenas uma das áreas da IA a contribuir para uma “nova era de automação inteligente”, como também sublinha o responsável.

Em 2023, as soluções de IoT vão render 93 milhões de euros, a crescer 20,7%, e os investimentos em soluções de Big Data e Analytics ascenderão a 370 milhões de euros, mais 11,3% que em 2022, calcula a IDC Portugal.

Em 2024, a consultora acredita que o mercado português de Tecnologias de Informação terá condições para voltar a acelerar investimentos e crescer entre 5 a 6%.

As previsões atualizadas da IDC para o mercado português de Tecnologias de Informação serão um dos temas em destaque na conferência anual da consultora em Portugal que se realiza esta quinta-feira no Estoril. Pode ver aqui o programa completo do IDC Directions.