O tema do roaming já tinha sido largamente abordado no painel da regulação esta manhã, mas voltou a dominar grande parte do Estado da Nação, onde apenas os CTT ficou de fora das críticas e dos temas.

“Vejo sempre com preocupação as medidas regulatórias que fazem perder valor ao sector sem benefícios para o consumidor, e neste caso há um claro benefício dos países do norte da Europa”, afirmou Paulo Neves em resposta à primeira questão do painel, explicando que em Portugal os consumidores saem do país 1 vez por ano durante uma semana, enquanto no Norte da Europa 65% saem 2 vezes por ano, por duas semanas, o que desequilibra a equação.

A opinião é secundada por Miguel Almeida, CEO da NOS, que firma que “esta medida é um exemplo acabado do que não deve ser feito. É uma medida de burocratas europeus” lembrando que com a baixa taxa de viagem dos cidadãos normais só os burocratas europeus, que estão em Bruxelas o ano todo deslocados do seu país de origem.

Mesmo assim a ideia geral é que com as novas medidas do roaming, que serão conhecidas a 15 de dezembro, os preços não vão aumentar. Mas isso não quer dizer que o consumidor não seja prejudicado, como explica Mário Vaz, CEO da Vodafone. “Quando os preços não aumentam, para não prejudicar o cliente, o dinheiro tem de vir de algum lado”.

De qualquer forma este é um tema que a Vodafone considera encerrado. “Não devemos perder muito tempo com o roaming porque já está decidido, é uma derrota”, assume Mário Vaz, mesmo admitindo que está preocupado com os detalhes e o tempo de implementação.

O que realmente preocupa Mário Vaz são outros temas, como as decisões sobre os mercados de redes de nova geração (RNG) onde a decisão dos mercados de acesso residencial, nas várias tecnologias, mas sobretudo nas redes de fibra, “é uma decisão que demora 7 anos”, explica o presidente da Vodafone. E de quem é a culpa? Da Vodafone, brinca Mário Vaz, explicando que a empresa foi à procura de soluções quando “a vida era mais fácil se se tivesse feito de vítima”.

Por isso, esta decisão da Anacom é considerada “de fé e confiança na Vodafone”, porque a Vodafone vai resolver, não se sabe como. “Estou a fazer caricatura mas o tema é sério porque se não houver regulação para garantir concorrência nas zonas onde um operador vai investir para 3 milhões de casas [a PT] não garantimos o investimento”.

Em resposta Paulo Neves recorda que Portugal não tem um problema de investimento em redes de nova geração, “todos os operadores têm investido e a PT não é a maior rede, há um outro operador que está à frente [a NOS]. E agradeço a confiança quando a Vodafone diz que somos o único operador com capacidade de investir”, afirma. O CEO da PT lembra que a empresa anunciou que nos próximos 5 anos quer cobrir mais 3 milhões de casas, o que vai permitir ficar com mais de 5 milhões de casas e “cobrir praticamente o pais todo com fibra óptica”, mas garante que a empresa também utiliza rede de outros operadores, “e gostava de utilizar mais”. Nós temos uma oferta Wholesale e gostava de ver o mesmo…

Miguel Almeida, da NOS, não valoriza esta questão. “Todos os anos é a mesma coisa”, explica. Para o CEO da NOS o que é importante é o acesso às infraestruturas básicas, as condutas e os cabos submarinos. “O resto não, porque se isto não for resolvido não há investimento em fibra de ninguém”, justifica.

Apesar da pressão do moderador da sessão, ninguém quis falar das OTT, as over the top. Apenas Miguel Almeida referiu que não há as mesmas regras para todos, e que as operadoras têm que garantir acesso às redes por parte destas empresas, mas garante que não se queixa.

Numa última ronda de perguntas foi abordada a questão económica, onde surgiram críticas em relação ao ambiente de pouco incentivo ao investimento, mas Mário Vaz também lembrou que o estudo da APDC mostra que não é pelas infraestruturas de telecomunicações que o país não cresce.