Em 2020 vão existir 26 mil milhões de dispositivos conectados. Nestes, 15 mil milhões vão possuir suporte para vídeo, um cenário que pressupõe uma profunda alteração na forma como consumimos conteúdos de media. É uma mudança que já está a acontecer, sobretudo em países como Portugal, onde a apetência para a utilização de novas tecnologias – como os telemóveis – é grande e onde a utilização de conteúdos on demand e vídeo já está muito acima do registado noutros países.

Em quatro anos, o suporte para vídeo estará em mais de metade dos dispositivos conectados e a banda larga estará em todo o lado, defende a Ericsson. Metade dos conteúdos que consumimos estará gravada (on demand ou time-shift), por oposição ao que acontece na TV linear. Porquê? Porque procuramos experiências cada vez mais à medida dos nossos gostos.

Descobrir conteúdos de forma personalizada, garantir uma experiência de TV igual em todos os equipamentos e encontrar melhorias e inovação constante nas plataformas de media são características que definem já hoje quem consome conteúdos de media, identifica Rodolfo Correia, diretor de TV e Media para a região mediterrânea na Ericsson.

Para quem oferece serviços sobra um mercado cada vez mais competitivo, onde as empresas de serviços de TV por subscrição terão de saber transformar-se, adaptando os seus pacotes de conteúdos áquilo que os consumidores procuram, mas as oportunidades para o fazer existem, defende o responsável.

E como podem os operadores tradicionais vencer esta batalha, ou pelo menos não ficar fora dela? Rodolfo Correia acredita que os polémicos modelos de distribuição Over the Top, criticados pelos operadores tradicionais porque funcionam sobre as suas redes, com menos restrições regulamentares, muitas vezes para oferecer serviços concorrentes, são o futuro. “Se os estreantes no mercado conseguem construir um negócio de sucesso de vídeo online, baseado em sistemas de streaming adaptados e redes de fornecimento de conteúdos (Content Delivery Networks) então os restantes players devem fazer o mesmo”, defende.

Mas há mais regras de ouro, para vencer num tempo em que a televisão já não ocupa o lugar de outros tempos e o consumidor não se satisfaz sentando-se no sofá à espera de uma programação que outros definiram.

Criar ou gerir conteúdos apetecíveis, conseguir distribui-los globalmente tirando partido da Internet e saber entregá-los ao consumidor de forma a que este possa moldá-los ao seu gosto são algumas das tendências identificadas por Rodolfo Correia.

Neste leque, comecemos pelo trunfo dos conteúdos, que tende a ser cada vez mais valioso. Posicionar-se é comprar produtos fortes nas áreas identificadas como áreas chave, como o entretenimento e a informação, por exemplo. Também é produzir conteúdos com direitos de propriedade intelectual e apostar na procura de novos mercados para a distribuição de uns e outros, apostando em estratégias globais que tirem partido do poder da Internet.

 “Aqueles que têm conteúdos vão consolidar ainda mais a sua posição. É o caso da Netflix e de outros players que atuam no mesmo espaço da cadeia de valor”, acredita Rodolfo Correia.

Para os operadores com um posicionamento multisserviço, Rodolfo Correia também antecipa movimentos de consolidação que ajudem a ganhar escala em termos geográficos, melhorar a infraestrutura, ou o poder na negociação de direitos de conteúdos.

Outra estratégia que pode render pontos a quem oferece conteúdos de media passa por disponibilizar ferramentas que facilitem a procura de conteúdos, uma tarefa que se revela cada vez mais complexa, perante uma oferta que é cada vez maior.

“A capacidade de escolha está rapidamente a tornar-se a rainha no que respeita a media. Nesta enorme mudança em direção à liberdade de escolha, os consumidores de media estão sujeitos – ironicamente – a uma grande dor de cabeça: descobrir algo para ver”, sublinha Rodolfo Correia.

Quem fornece conteúdos pode ganhar pontos neste domínio apostando em soluções que combinem e aproveitem diferentes fontes de dados, desde metadados de conteúdo a recomendações sociais e baseadas no comportamento dos utilizadores. Tudo para ajudar a personalizar a experiência.

2016 já é um ano de mudança em que todas estas transformações dão sinais, num clima que é de crescimento para a indústria de media. O sector valia 530 mil milhões de dólares em 2014 em 2020 e deverá valer 750 mil milhões de dólares em 2020.