Por Gonçalo de Salis Amaral (*)

Com as suas raízes nos anos 50 do século passado, a verdadeira rutura ocorreu na última década com a utilização de algoritmos avançados e a exponencial capacidade de processamento de dados, surgindo as assistentes de voz, como a Siri da Apple, ou as viaturas quase autónomas da Tesla, que facilitam a nossa vida. A história da IA tem sido a de uma jornada de inovação e de possibilidades revolucionárias, transformando-se de uma mera promessa futurista para uma realidade essencial nos ambientes empresariais, sendo que ainda estamos no começo do que está por vir.

Inicialmente, os sistemas de IA eram utilizados para tarefas específicas e repetitivas, como a automação de processos. No entanto, com o avanço das tecnologias machine learning e processamento de linguagem natural, a IA começou a lidar com tarefas mais complexas, incluindo aquelas relacionadas com a gestão de pessoas.

Efetivamente, uma das áreas que já está a experienciar um profundo impacto da IA é, precisamente, o trabalho e a Gestão de Pessoas, ao estimar-se que 80% das atuais funções podem incorporar as tecnologias de IA no sentido de melhorar as práticas, os processos de tomada de decisão e a produtividade em geral.

Assim, sistemas de IA já estão a ser utilizados na análise de vastos volumes de dados e identificação de padrões, por exemplo nas trajetórias profissionais e competências dos candidatos, otimizando os processos de seleção e suportando a tomada de decisão no recrutamento. Da mesma forma, a IA já desempenha um papel vital no desenvolvimento de competências, personalizando programas de formação com base nas necessidades individuais.

O uso de chatbots alimentados por IA para interação com colaboradores também está a tornar-se comum, proporcionando um suporte instantâneo para questões rotineiras e libertando tempo para tarefas mais estratégicas. Esta integração da IA na gestão de pessoas está a moldar uma abordagem mais eficiente/produtiva, centrada no colaborador e na sua experiência e impulsionada pelo processamento de dados.

Não obstante, existem riscos que deverão ser mitigados dado os impactos que uma má utilização da IA poderá ter neste âmbito da gestão de pessoas, como sejam os Viés Algorítmico, que poderá ser herdado ou até mesmo amplificado no processo de machine learning, a Privacidade e Segurança, sendo essencial assegurar a proteção de dados pessoais e sensíveis contra acessos indevidos, a Transparência e Interpretabilidade, pelo que os sistemas deverão ser claros e a tomada de decisão critica reservada ao ser Humano para endereçar os Desafios Éticos, as Mudanças, que inevitavelmente esta transformação já está a impor quer ao nível das funções, como da cultura organizacionais, ou a Manutenção e Constante Atualização, que garanta que os sistemas de IA estejam alinhados com as políticas da organização, legislação e práticas éticas em vigor.

Em suma, potente, acessível e inevitável, a IA oferece eficiência, maior produtividade e personalização, pelo que adotá-la é essencial para as organizações que querem ter futuro. No entanto, é também imperativo que essas mesmas organizações adotem precauções rigorosas para mitigar os riscos associados, garantindo transparência, equidade e proteção da privacidade. Ao fazê-lo, as empresas podem alavancar a IA de maneira ética e eficaz na gestão de pessoas, promovendo ambientes de trabalho inovadores e sustentáveis no futuro.

(*) Head of People & Organization Consulting, CEGOC/Neves de Almeida HR Consulting