José Almeida Martins, diretor geral da NET - Novas Empresas e Tecnologias, S.A | Business and Innovation Centre Porto (BIC Porto) fala sobre as principais dificuldades que se colocam hoje a quem quer lançar um projeto e de que forma pode uma estrutura como a NET ajudar a responder a essas necessidades.



As condições de acesso ao crédito, o tipo de apoio que as empresas mais solicitam e a forma como encaram os riscos de criar uma empresa também foram tema da conversa.



Com 116 empresas apoiadas desde a criação, a NET foi recentemente distinguida a nível europeu com o do Best Soft Landing Incubator Award 2012. José Martins também fala disso e do papel da estrutura portuguesa na rede europeia.

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TeK: As empresas/empreendedores que vos procuram pretendem essencialmente que tipo de apoio? Entre as ferramentas que têm disponíveis quais são as mais solicitadas?

José de Almeida Martins:
A NET - Novas Empresas e Tecnologias, S.A, Business and Innovation Centre Porto (BIC Porto), tem como missão promover e apoiar o empreendedorismo inovador com elevado potencial de sucesso na Região Norte, bem como apoiar as PME já existentes na sua modernização. Quem nos procura, no primeiro caso, encontra não só apoio para o amadurecimento da ideia, como também para a criação da sua empresa, nomeadamente para a elaboração do plano de negócios. Muitas dessas novas empresas acabam por ficar incubadas nas nossas instalações, onde para além de um espaço físico, usufruem ainda de um acompanhamento especializado e de proximidade. Isto é o que designamos de incubação de valor acrescentado, que é sem dúvida o que os empreendedores e empresas mais procuram, porque vai muito além do arrendamento de um espaço. Engloba um conjunto de serviços transversais, adaptados às necessidades e fase em que cada empresa se encontra, desde apoio ao desenvolvimento do plano de negócios, apoio nas áreas da gestão e económico-financeira, marketing e comercial, nas áreas técnicas e tecnológicas, consolidação empresarial e internacionalização, entre outras.

No caso das empresas já constituídas, procuram fundamentalmente apoio para a sua consolidação, modernização e internacionalização.



TeK: Tendo em conta a experiência acumulada, quais são hoje as principais dificuldades sentidas por quem quer iniciar um novo projeto empresarial, na área tecnológica, por exemplo?

José de Almeida Martins:
Os promotores que pretendem lançar projetos na área tecnológica são normalmente profissionais com um elevado know-how da área. No entanto, revelam carências em áreas como a gestão ou mesmo na área jurídica, incontornáveis para qualquer empresa. O apoio na procura de ferramentas e programas de financiamento é também um dos motivos pelos quais os promotores procuram a NET - BIC Porto, para os aconselhar nesse âmbito e para os apoiar na elaboração das suas candidaturas. Por outro lado, dado o ambiente económico e financeiro, tem-se acentuado a aversão ao risco, mas apesar de tudo, os promotores de bons projetos têm vontade e capacidade para arriscar.



TeK: Nesta altura de crise têm tido mais ou menos solicitações de apoio? Para os serviços habituais ou outros?

José de Almeida Martins:
Devido ao nosso posicionamento, o apoio a empresas inovadoras e de base tecnológica, não notamos uma grande diferença na procura, por parte de promotores que pretendem criar as suas empresas. Detetamos sim, um aumento das empresas que nos procuram para usufruir de serviços como os de apoio na consolidação empresarial, nomeadamente para a procura de fontes de financiamento, bem como apoio à internacionalização.



TeK: Na área da tecnologia o posicionamento das empresas é - ou deve ser - quase invariavelmente orientado ao mercado global. Essa é uma aposta que as empresas conseguem fazer bem ou detetam aí com frequência lacunas? Quais as principais?

José de Almeida Martins:
Os promotores de negócios na área da tecnologia têm bem clara essa necessidade e, normalmente já estão muito orientados para o mercado global. Em muitos casos, e cada vez mais, as empresas começam imediatamente por se internacionalizar, mas necessitam de uma rede de contactos que lhes permita dar esse passo com maior segurança, rapidez e eficácia. Nesse âmbito, a NET - BIC Porto coloca ao dispor dessas empresas algumas ferramentas de apoio como é o programa Soft Landing. Este programa integra uma vasta rede de contactos em todo o mundo, da qual as empresas podem usufruir para se internacionalizarem, bem como um conjunto de apoios ao nível logístico, de acesso a negócios locais e apoio especializado. Em http://www.ebnsoftlanding.org/ é possível encontrar toda a informação sobre este programa da EBN - European Business & Innovation Centre Network, da qual a NET - BIC Porto é um membro muito ativo.



TeK: E ao nível do financiamento… Fala-se hoje muito das dificuldades de acesso crédito, por um lado, e da falta de capital para apoiar novos projetos numa fase embrionária. Qual é a vossa visão sobre esta questão do financiamento e em que medida isso é hoje um entrave para lançar novos negócios e para as empresas inovarem?

José de Almeida Martins:
Eu costumo dizer que para bons projetos há sempre financiamento. O importante é que os próprios promotores apostem também nos seus projetos, porque caso contrário, não há ninguém que aposte neles. Obviamente que não é fácil, mas cá estaremos para os apoiar na procura do financiamento de que necessitarem e sobretudo na construção de uma base sólida na qual possam crescer com sucesso.



TeK: Pode adiantar alguns números relativamente a projetos já apoiados pela vossa estrutura, áreas de atividade, ou tipo de apoio?

José de Almeida Martins:
Até ao final do ano passado, foram criadas 116 empresas, todas com perfil inovador e/ou tecnológico que acompanhamos e apoiamos desde a sua criação à consolidação, sendo que as mais recentes ainda continuam a receber o nosso apoio. Das empresas criadas, a maioria opera na área das Tecnologias de Informação e Comunicação, serviços de apoio às empresas e ambiente, não esquecendo a área industrial. Tudo começa com a validação do binómio ideia-promotor.
Depois de validarmos o binómio ideia-promotor, apoiamos na elaboração do plano de negócios, na constituição da empresa, na procura de investidores, na candidatura a programas de incentivo e na internacionalização. Temos as competências, meios e recursos humanos competentes e capazes de prestar este acompanhamento transversal, desde o amadurecimento da ideia até à consolidação e internacionalização da empresa. Para além disso, e ainda no âmbito da nossa atividade, apoiamos a modernização de 67 PME já existentes na região, aos mais diversos níveis.

Atualmente, estamos a promover o EIBTnet, um programa de apoio ao empreendedorismo inovador e de base tecnológica para a criação, consolidação e modernização de empresas.



TeK: Ganharam recentemente um prémio pelo apoio prestado à internacionalização. O que representa este prémio para a NET e que principais apoios têm fornecido às empresas portuguesas a este nível?

José de Almeida Martins:
A atribuição do "Best Soft Landing Incubator Award 2012" distingue a NET - BIC Porto entre as incubadoras ao nível europeu, reconhecendo assim o seu mérito e esforço na operacionalização de apoios à internacionalização junto das suas empresas, no âmbito do programa Soft Landing. Todo o apoio das incubadoras e outras entidades protocoladas no âmbito do Soft Landing foi fundamental para alcançarmos esta distinção. Temos um país, uma região, um Business and Innovation Centre (BIC) e uma empresa que necessita de apoio noutro país, numa determinada região.
O BIC da região, tendo em conta as necessidades específicas da empresa, entrará em contacto com o BIC do local de destino, ou outra entidade associada, que prestará à empresa o apoio de que necessitar. É aí que intervimos enquanto BIC, numa perspetiva bilateral, sempre na procura de novos contactos que possam suprir as necessidades das empresas. Na maioria dos casos, os apoios mais prestados dividem-se pelas três áreas de abrangência do programa. No caso da logística, a disponibilização de uma sala para reunião e um escritório virtual, que inclui a prestação de serviço de endereço postal, telefone e número de fax e endereço eletrónico. No que respeita ao acesso a negócios locais, estamos a falar, por exemplo, do agendamento de reuniões e da participação em eventos. O apoio especializado que temos prestado relaciona-se com a pré-organização de reuniões com profissionais, especialistas ou consultores, qualificados de acordo com as necessidades de cada empresa e em vários países europeus e de outros continentes.

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico




Cristina A. Ferreira