Desde que entraram em vigor as novas regras europeias do Digital Markets Act - Regulamento dos Mercados Digitais, o número de utilizadores dos browsers alternativos ao Safari da Apple e ao Chrome da Google, para smartphones, está a aumentar. A Reuters falou com seis empresas do sector e algumas confirmam já com números concretos uma subida no volume de downloads das respetivas apps, que associam à entrada em vigor da medida, no início de março.

O Aloha, um browser desenvolvido por uma empresa de Chipre, que aposta na privacidade como principal argumento alternativo aos principais navegadores, reporta um aumento de utilizadores de 250% em março. O Aloha gere uma média de 10 milhões de utilizadores mensais e tem um serviço de subscrição. Garante que no último mês o mercado europeu passou a ser o segundo mais importante da operação. Antes era o quarto.

Estamos a registar um número recorde de utilizadores na União Europeia neste momento”, admitiu à agência Jan Standal, vice-presidente da Opera, que soma 324 milhões de utilizadores em todo o mundo. Antes do final de março, a Opera já tinha divulgado que os downloads na App Store da Apple tinham aumentado 164% desde que o DMA entrou em vigor.

Vivaldi, Ecosia e Brave, outras opções desenvolvidas na Noruega, Alemanha e Estados Unidos também relatam um aumento mais acelerado do número de utilizadores depois da entrada em vigor da regulação. Outros concorrentes deste “campeonato” confirmam também o impacto positivo da medida, mas sublinham que seria maior se a exigência europeia estivesse a ser implementada completamente e sem truques, como destacou à reportagem o DuckDuckGo, um browser de origem americana com cerca de 100 milhões de utilizadores em todo o mundo.

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A Mozilla, dona do Firefox, aponta a mesma questão, estimando que só 19% dos utilizadores de iPhone na UE já receberam a atualização que vai desencadear o aparecimento do ecrã de escolha do browser e estranhando o ritmo destes lançamentos, face às práticas da empresas noutras situações.

O DMA obriga as empresas a facilitar aos utilizadores a possibilidade de escolherem entre o seu próprio browser e opções de outros fabricantes, através de um menu com uma lista de possibilidade, que permite pré-definir a opção que mais agrada quando o telemóvel é configurado ou já durante a utilização. Quando o utilizador escolhe uma opção alternativa na lista e carrega nela é conduzido à loja de aplicações do sistema operativo móvel para poder descarregar o software em questão. Antes, as principais plataformas seguiam uma lógica idêntica e pré-instalavam os seus navegadores com o sistema operativo móvel. A opção de usar um browser alternativo já existia, mas não era exposta nem facilitada. Era o utilizador que tinha de procurá-la.

A Apple apresenta já 11 opções de browsers, para além do Safari, numa lista que será revista uma vez por ano e pode não ser igual entre países, já que a lógica é mostrar as opções mais relevantes em cada mercado. A Google ainda só está a apresentar o ecrã de escolha nos seus próprios equipamentos Android. As atualizações que levarão a opção para os equipamentos Android de outros fabricantes serão lançadas nos próximos meses, ainda sem data definida. Provavelmente por isto mesmo, os dados reportados pelos concorrentes da Apple e da Google na navegação online reportam que a maior fatia do crescimento registado no último mês fez-se em sistemas iOS.

A nova regra europeia não se aplica só aos navegadores. Os fabricantes de sistemas operativos móveis devem também facilitar a escolha de alternativas de assistentes pessoais e motores de pesquisa aplicando a mesma lógica de serem eles a levar as opções de escolha disponíveis aos utilizadores.

A Comissão Europeia também tem dúvidas sobre a forma como as empresas estão a aplicar no terreno as exigências do DMA e, depois de várias audições, abriu processos  para investigar o tema. O processo visa várias questões, incluindo esta dos navegadores.