A Cruise decidiu suspender as suas operações de condução autónoma em todos os Estados Unidos, depois de ter sido forçada a suspendê-las no Estado da Califórnia, na sequência de um acidente com um dos seus veículos, envolvendo um pedestre.

O tema acaba por reacender a discussão sobre o assunto, que nos últimos meses tem subido de tom, sobretudo em regiões do país como São Francisco, onde uma parte cada vez maior da população vê com reticências o alargamento que tem vindo a ser feito das zonas de circulação de veículos autónomos.

O incidente com um veículo da Cruise no início de outubro levou as autoridades da Califórnia a suspender temporariamente a licença da empresa em todo o Estado, e a considerar que os veículos da empresa são uma ameaça para a segurança dos cidadãos.

“O mais importante para nós neste momento é tomar medidas para reconstruir a confiança do público... Nesse espírito, decidimos fazer uma pausa proativa nas operações sem condutor em todas as nossas frotas, enquanto analisamos processos, sistemas e ferramentas", refere um comunicado divulgado pela empresa, em reação à decisão.

O incidente que deu o mote para a suspensão é um entre vários que os veículos da Cruise já registaram. As autoridades revelaram que estão a analisar outros cinco incidentes com carros autónomos da Cruise. Também nestes casos, os incidentes aconteceram depois dos veículos travarem de forma inesperada ou desadequada. Em dezembro já tinham sido dados a conhecer três incidentes deste tipo, que resultaram em dois feridos, depois de carros da Cruise pararem inesperadamente, provocando a colisão dos veículos que seguiam atrás.

Neste último incidente, no início de outubro, uma mulher foi atropelada por outro carro e atirada para a frente de um dos veículos sem condutor da Cruise. O robotáxi parou em cima da perna da mulher e manteve-a presa até que chegasse socorro.

O acidente veio colocar em causa os mecanismos de segurança do sistema de condução dos táxis autónomos da Cruise para proteger os pedestres, dizem as autoridades, que também acusam a empresa de não ter partilhado todos os dados solicitados do acidente, nomeadamente vídeos.

Na foto pode ver o Cruise original nas ruas de São Francisco

tek Cruise Origin

Em agosto, o Governador da Califórnia decidiu ignorar várias petições que mostravam desagrado com a intenção de reforçar a operação dos veículos autónomos em São Francisco, onde tanto a Cruise como a Waymo operam.

Esta nova decisão levantou as restrições ao número de veículos que as empresas podem ter a operar na cidade, bem como às áreas geográficas onde podem estar e aos horários de operação, mas não foi pacífica e o desacordo não vem só da população. Uma semana depois da decisão, o procurador da cidade apresentou duas moções à Comissão de Serviços Públicos da Califórnia, pedindo aos reguladores que a revertessem.

A adaptação das operações das empresas às novas regras, no entanto, não foi imediata. A Cruise seguia mais avançada. Tanto no âmbito das autorizações já garantidas para cobrar pelas viagens em táxis autónomos, como em termos de escala da operação. Na terça-feira tinha expandido serviços a toda a cidade. Dois dias depois teve de recuar.

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A Cruise é uma subsidiária da General Motors, com operações de transporte de passageiros em veículos autónomos em Phoenix, Houston, Austin, Dallas e Miami. Para a GM este é um duro revés numa área onde a empresa tem investido em força e que posicionou como uma forte oportunidade de negócio.

A Waymo é a principal concorrente da Cruise, aqui com um modelo em protótipo

O debate sobre a segurança dos carros autónomos na Califórnia, uma das cidades mais abertas a experiências nesta área, estende-se aos pesados. Em Outubro, o Governador da cidade vetou uma proposta de lei que previa que, até 2031, todos os pesados autónomos com mais de 4.200 quilos tinham de circular com um humano ao volante por questões de segurança.

A proposta foi vetada com medo de afastar do Estado as empresas que a têm escolhido para testar as suas tecnologias nestas áreas e sem pensar na segurança das pessoas. Também não teve em conta os empregos que serão perdidos com a condução autónoma de pesados, acusam os opositores da lei que prometem não desistir de impôr a medida por outras vias.