O 5G e o seu potencial estiveram longe de ser o tema central do congresso da APDC, mesmo nos debates específicos sobre comunicações, até porque as preocupações são outras, mais ligadas à fibra e aos conteúdos. Mas vários protagonistas dos debates olharam para o futuro, com expectativa sobre o que a nova geração de redes pode trazer, mas também com preocupação.
Esse foi, aliás, o toque dominante na intervenção dos operadores de telecomunicações sobre a tecnologia no debate do Estado da Nação das comunicações, que encerrou ontem o Congresso da associação.
“Quando falamos de 5G, temos que ter em consideração o nível de exploração dos recursos 4G. Há muito para crescer no 4G, que está muito longe de estar esgotado”, lembrou Miguel Almeida, presidente do conselho executivo da NOS, recordando ainda que a tecnologia e os próprios equipamentos de suporte ainda não estão desenvolvidos.
Mas para além das questões técnicas, a preocupação centra-se nos custos e acesso às licenças. “Viemos de um processo de leilão de 4G que foi muito caro, e já não falo do 3G, e viemos de sucessivos aumentos de taxas de espetro, que mudaram as regras a meio do jogo”, explicou ainda o gestor.
A Comissão Europeia já fez uma recomendação para que os custos de licenciamento não venham a pesar demasiado na atribuição do espectro. E os operadores já admitiram que 2020 pode ser um objetivo demasiado ambicioso para o 5G.
Também no congresso Miguel Almeida avisa que “esperamos que não seja cedo demais e que não seja caro demais”, lembrando que é importante não retirar aos operadores a capacidade de investimento para manter o país na linha da frente da capacidade de infraestruturas de comunicações que sustentam o desenvolvimento da sociedade gigabit na Europa.
Na mesma linha, Mário Vaz, CEO da Vodafone, defende que o Governo tem de ser consistente e não olhar para os operadores como uma solução financeira, nem para as novas tecnologias como mais uma célula no Excel que pode ajudar a combater o défice. “Se é estrutural [a aposta nas infraestruturas] temos de ser consistentes e têm de ter sucesso, e isso é importante para o país. Temos de ter empresas sólidas com capacidade para investir”, afirma, recordando que retirar dinheiro é decisão de curto prazo que onera o longo prazo.
Numa mensagem final, Mário Vaz faz ainda um apelo: “Peço ao Governo como um todo que o País tem que compreender o que é estrutural para o sucesso da economia digital. Não podemos ser o País que discute o País e não o constrói. Para construir o futuro digital, é preciso infraestruturas e recursos humanos”.
Em Portugal a Altice e a Vodafone já estão a avançar com testes de 5G com a Ericsson e no próximo mês o Tech Days, que se realiza em Aveiro, vai ser palco de uma demonstração da tecnologia.
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