
A 20 de Janeiro de 2025 a Cegid anunciou a compra da totalidade da PHC Business Software, uma notícia de uma operação que surpreendeu o mercado e também os colaboradores das empresas, mas que já estava a ser preparada há vários meses. Os valores não foram revelados, e em entrevista ao SAPO TEK, Josep Maria Raventós e João Sampaio, respetivamente o Diretor Executivo de Pequenas e Médias Empresas e Contabilistas Certificados da Cegid em Portugal e África e o Diretor Geral da PHC Business Software, explicam que é uma “operação grande”, que foi preparada com cuidado e que teve também várias fases de preparação da comunicação, em especial junto dos colaboradores, parceiros e clientes da PHC, com uma mensagem de tranquilidade.
Os rumores de uma possível venda da software house que foi criada em 1989 já corriam no mercado, mas sem se antecipar quem seria o comprador. “A PHC era a última software house independente”, adianta João Sampaio, explicando que essa cultura fazia parte do ADN da empresa que sempre assumiu uma postura de ambição. A empresa foi fundada por Ricardo Parreira quando tinha apenas 23 anos e o gestor manteve-se como CEO até à venda, aplicando uma visão de gestão pouco habitual em Portugal e preparando a transição do negócio.
“Agora temos uma realidade nova, com o benefício de integrarmos um player europeu de grande dimensão que abre o espectro e traz novas oportunidades de negócio e de carreira para a equipa”, sublinha João Sampaio, que assumiu entretanto o cargo de diretor geral.
O “namoro” entre as duas empresa começou em maio, mas no processo houve vários “noivos” a querer casar com a PHC. A reputação da software house e a sua posição no mercado português e na África lusófona tornam-a mais apetecível, sendo as suas soluções de gestão reconhecidas pela gama alargada de produtos e adaptabilidade, assim como a capacidade de apoiar as áreas críticas em empresas de pequena e média dimensão de diversos sectores.
“Em 35 anos a PHC nunca deu prejuízo”, adianta João Sampaio, sublinhando que as várias propostas foram analisadas e que “o acionista optou pela Cegid pelo projeto ambicioso e muito complementar à visão da PHC”.
De concorrentes a parceiros
A compra de empresas não é novidade para a Cegid que nos últimos três anos comprou 23 empresas, entre as quais se conta a Primavera BSS, em 2021. Esta foi a primeira empresa portuguesa adquirida pela Oakley Capital no âmbito da sua estratégia de investimento no mercado ibérico, onde contava com 8 companhias espanholas, seguindo-se a Eticadata que se juntou pouco depois ao portfólio de empresas que assumiu a marca de Grupo PRIMAVERA. Mais recentemente comprou também a EBP, em França, a Microdata em Espanha e assinou um acordo de exclusividade para a compra da sevdesk na Alemanha.
“Esta empresa vive com uma intensidade enorme nos últimos dois a três anos. Veja o que é a integração de empresas de culturas e gestão diferentes, mercados diferentes […] Para nós não é um processo novo mas foi surpresa acontecer com a PHC”, explica. “Como sabe éramos concorrentes e algumas pessoas da nossa casa viram com surpresa o negócio”, admite.
O negócio com a PHC foi “uma negociação difícil, pela exigência dos acionistas, mas com um resultado feliz para nós”, justifica JM Raventós que esteve 18 anos na Sage e que acompanhou a integração do Grupo Primavera em 2022.
“No ano passado estivemos muito atentos à PHC. Queríamos reforçar a nossa posição como líder com integração de uma empresa emblemática e com produtos extraordinários”, destaca, adiantando ainda que “valorizamos muito o talento, a energia e a empatia que aqui encontramos”.
A ambição de liderar o mercado ibérico a curto prazo é clara, e a integração da PHC é vista como instrumental. Na altura da entrevista tinham passado 20 dias do anúncio formal, embora o ok para o negócio tenha sido dado em dezembro. JM Raventós garante que há um alinhamento e uma empatia especial e que a “integração decorreu de forma rápida e com êxito”, numa sintonia de ideias que também foi evidente durante a entrevista conjunta.
“Esta integração será a mais amável, tenho quase a certeza”, sublinha o diretor executivo para PME da Cegid. “Ainda estamos no início, mas já percebemos que há muito talento, e que a equipa tem muitas soft skills, motivação e liderança, o que vai ajudar no processo”.
Um mercado para crescer
A tecnológica que foi criada em França soma a história de 23 empresas que a Cegid integrou nos últimos anos, onde estão as portuguesas Vendus, Eticadata, Primavera BSS e agora a PHC. A ambição internacional é de liderar o mercado de soluções de gestão empresarial para profissionais das áreas financeira (tesouraria, fiscalidade e ERP), Recursos Humanos (processamento salarial e gestão de talento), contabilidade, retalho e empreendedorismo, com um modelo de negócio baseado na cloud.
Os números mostram a abrangência do negócio, com 750.000 clientes, 5.000 colaboradores e soluções em 130 países. Em 2023 o volume de negócios registado pela empresa liderada por Pascal Houillon foi de 852 Milhões de euros, mas em 2024 os valores voltam a crescer significativamente.
Com 35 anos no mercado, a PHC tem escritórios em Lisboa, Porto, Madrid, Maputo e Luanda, e conta com 260 colaboradores, tendo registado um volume de negócios de 17,6 milhões de euros em 2023. A rede de distribuição da empresa inclui mais de 315 parceiros certificados, contando com 170.000 utilizadores em aproximadamente 37.000 empresas clientes.
Josep Maria Raventós acompanhou os vários processos de integração na Cegid e admite que isso trouxe aprendizagens, assim como uma capacidade de avaliar a melhor forma de juntar o melhor das empresas.
“Uma das minha funções é identificar oportunidades de valor para integrar na empresa, e em Maio propus a compra da PHC”, adianta Josep Maria Raventós.
No início a proposta não foi muito bem acolhida junto da direção, em França, mas a análise mostrou que a fusão seria benéfica e muito complementar, nos produtos e no mercado.
“A PHC tem uma força de marca impressionante no mercado”, justifica. É essa marca que a Cegid quer proteger como ativo, como já aconteceu com as outras empresas adquiridas, passando os produtos por um período de transição nos nomes adotados, e também no posicionamento e interface dos produtos.
João Sampaio explica que já foi criado um grupo de trabalho para análise exaustiva do portfólio e funcionalidades e já está a ser estudada a incorporação do Cegid Pulse, com tecnologia de IA generativa, que traz valor adicional para os clientes na forma como a informação é rapidamente analisada e são mostrados os indicadores mais críticos. “É um facilitador da tomada de decisão”, sublinha o Diretor Geral da PHC Business Software.
Tecnologia para o futuro
O mercado das pequenas e médias empresas enfrenta vários desafios que os responsáveis da Cegid e PHC não minimizam, destacando a necessidade do software de gestão ser uma ferramenta fácil de usar e intuitiva. “Sabemos o que é ‘calçar os sapatos’ das pessoas que estão nas empresas”, afirma Josep Maria Raventós, lembrando que não têm de ser gestores profissionais com conhecimento de contabilidade e que têm de se focar no negócio. Aqui a Inteligência Artificial pode dar uma ajuda importante com ferramentas que apoiam o desenvolvimento das micro e pequenas empresas, com tecnologia que antes só era acessível a companhias de maior dimensão.
Apesar de reconhecer diferenças entre o mercado português e espanhol, lembra que houve saltos importantes na digitalização de processos, mas que ainda falta mais maturidade digital. Para o executivo era importante que o Governo aproveitasse os fundos europeus para investir na modernização do país.
A olhar para o futuro, Josep Maria Raventós sublinha a aspiração de continuar a crescer. Até onde? “Não há um teto”, admite, afirmando que o objetivo dos acionistas é continuar a investir e que há sempre um grupo de empresas “no radar” para serem adquiridas. Sem adiantar nomes, o executivo da Cegid diz que depende do momento, das circunstâncias e naturalmente do preço, e que o foco está em empresas com tecnologia que não exista no seu portfólio atual.
Mesmo assim não quer tomar conta de toda a concorrência. até porque é bom que haja desafios da concorrência, que permitem à empresa trabalhar sempre para ser melhor.
“Não estamos em posição de domínio do mercado mas temos aspiração de ser líderes”, afirma Josep Maria Raventós.
Para 2025 a meta de faturação global está nos 1,1 mil milhões de dólares, já considerando as empresas integradas. Sem revelar números para Portugal, Josep Maria Raventós diz que o objetivo de faturação na região da Ibéria, África e América Latina é de 225 milhões, com crescimento a dois dígitos.
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