Volta e meia surge um equipamento que é diferente de todos os outros. Pelo design, pela experiência de utilização, pela consistência da utilização, pelos serviços que vêm integrados.. são muitas as razões que podem causar uma boa impressão no utilizador.

Comigo aconteceu algumas vezes. Com o Xperia Z2 da Sony por exemplo, mais recentemente com o Surface Pro 3 da Microsoft e agora com o portátil HP Omen.

A própria história do portátil tornam-no num caso único. Em 2008 a HP comprou uma empresa de portáteis de gaming, a Voodoo. Desde então a marca foi fundida na gigante norte-americana e poucos produtos chegaram à superfície com o cunho dos criativos “da magia negra”.

Até que em novembro do ano passado surge o Omen, um portátil com a insígnia da Hewlett-Packard, mas com um ADN totalmente contrário. Os “magos” da Voodoo aplicaram-se para criar uma máquina diferente daquelas que os utilizadores encontram no mercado.

Olha-se para a Toshiba e para a linha Qosmio e não se encontra nada igual. Na Asus também não é fácil encontrar um equipamento tão arrojado. Mesmo na Razr, que tem no modelo Blade uma referência no mercado, visualmente não há nada que se aproxime muito do Omen da HP.

O portátil não é o melhor do mundo, esclareça-se já isso. Nem sequer é o melhor na sua categoria. E tem defeitos que facilmente se apontam. Mas o design alternativo, a construção de alta qualidade e as características muito respeitáveis tornam este dispositivo em algo que é realmente diferente.

Em português a palavra Omen quer dizer presságio, augúrio, um prenúncio. E se este portátil é de facto alguma indicação sobre o futuro que a HP pode vir a seguir no segmento, então encoste-se e aprecie o espetáculo.

Mas, claro, tudo tem um preço.

O espectro dos portáteis

O aspeto e a construção do HP Omen são de facto os elementos em evidência do portátil. Todo o dispositivo é um grande bloco maciço de metal preto, ponteado na tampa do ecrã, ladrilhado na parte inferior.

Quando o utilizador tira o dispositivo da caixa pode ficar arrepiado já que toda a estrutura é gelada, quase como se fosse um espectro, mas nada disto significa que o resultado final seja uma sensação negativa. Pelo contrário.

O peso, de quase dois quilos, aliado a uma estrutura robusta mas fina, tendo em conta os standards dos portáteis de gaming, causam uma boa impressão. A melhor sensação vem a seguir, quando o utilizador levanta o ecrã.

A leveza é tal que nem parece fazer parte da mesma máquina. Isto porque todo o peso está concentrado na base, deixando para a tampa apenas e só o ecrã.

O portátil segue um design de linhas quadradas, mas desalinhadas. O computador tem uma estrutura larga, que no entanto se vai afunilando à medida que aproxima-se da base, quase como se fosse uma pirâmide invertida.

A separar o ecrã da base está um cilindro de metal polido, que destoa completamente da restante estrutura. É aqui que podem começar as divisões. Alguns gostarão, outros não. AInda por mais porque a dobradiça tem um esquema de cores incorporado, como se imitasse metal que está a ser queimado.

E no meio de todo este aspeto sóbrio, eis que surge o teclado e o sistema de som retroiluminado. Ainda que luzes nas teclas sejam minimamente comuns, as luzes laterais das colunas têm um grande impacto. Ainda para mais são LEDs dinâmicos, que vibram consoante o som que estão a reproduzir.

Durante o dia notam-se, mas à noite dominam. São luzes que não são agressivas e ajudam a criar um ambiente envolvente entre o utilizador e o portátil.

E se tudo já parece diferente o suficiente, eis que o sistema de personalização da retroiluminação entra em funcionamento. O utilizador pode definir até seis cores diferentes para o teclado, entre teclas dedicadas ao jogo, tripartir o teclado ou, lá está, usar um tom diferente no sistema de som.

Pode optar pelo vermelho básico em todo o painel ou tornar o computador num arco-íris onde as cores são escolhidas por si - qualquer uma. Ouvir uma música no Youtube deixa de ser apenas ouvir música, passa a ser também um espetáculo visual.

Mas depois da experiência excêntrica, os utilizadores começam a descer à Terra, pouco a pouco, começando a descobrir as falhas que o computador apresenta.

Uma máquina que também sangra

O intocável e todo poderoso Omen tem defeitos. E durante as duas semanas que passámos com o equipamento descobrimos alguns.

No design há a destacar o facto de o metal da tampa ser um íman de dedadas. Para pessoas que não têm uma pele propriamente seca, isto pode ser um problema. As manchas acumulam-se, limpam-se e voltam a aparecer. Noutros computadores até podia passar ao lado, mas neste é um destaque pela negativa devido a aspeto cuidado e sóbrio.

Ao nível do teclado o mesmo é de grande qualidade, tendo teclas muito responsivas, muito certeiras e com uma taxa de erro próxima do zero. No entanto é um painel que exige uma pequena curva de aprendizagem. Devido aos seis botões de atalho colocados do lado esquerdo, todo o painel de teclas está um pouco desviado para a direita e isso faz estranhar no primeiro contacto.

O computador tem uma potência considerável, mas há um lado negativo associado e está relacionado com o sistema de refrigeração. Devido ao perfil delgado e aos componentes que alberga, a ventoinha dispara por exemplo quando o utilizador está a jogar e é um barulho bem percetível.

Apesar de o computador nunca ter aquecido muito - o que significa que tem um bom sistema de refrigeração, ao contrário daquilo que alguns leitores apontavam - as saídas de ar podiam de facto ser mais generosas. Existem duas grelhas na parte traseira, também retroiluminadas, mas que acabam por ter limitações óbvias.

Outro “menos” para o disco SSD de 256 GB que apesar de ser veloz, é limitado no armazenamento, sabendo sobretudo que os jogos mais concorridos da atualidade têm todos acima de 30GB de tamanho.

Por fim resta referir a bateria. O portátil é um “mastodonte”, apresentando uma performance superior à da maioria dos computadores portatéis do mercado. Mas quando está com as agulhas de desempenho no máximo e o utilizador está a jogar sem estar ligado à corrente, então a sessão de gaming pode não durar duas horas.

Não é algo que surpreenda muito pela negativa - estamos a falar de especificações que são suficientes para a maioria dos jogos da atualidade em resoluções medianas ou altas -, mas que acaba por ser um ponto em evidência.

A poupar, é possível esticar a autonomia acima das quatro horas. mas com uma máquina destas quem é que quer “poupar”?

E jogar, não?
Sim, mas também muito mais

Agora que já passámos pelo melhor e o pior do portátil, falta falar naquilo que ele realmente consegue fazer. O Omen é um computador de jogos e mobilidade. Algo que as fabricantes ainda têm dificuldade em fazer.

O portátil tem tudo do bom, ainda que não seja do melhor que o mercado apresenta.

Ecrã de 15,6 polegadas com uma resolução Full HD e que no entanto entrega uma definição e uma qualidade de imagem acima da média para este segmento de painéis. Surpreendeu pela positiva sabendo que já existem ecrãs Ultra HD em portáteis, mas não sentímos essa falta. A reprodução de cores também é muito correta e é outra área que muitos fabricantes têm dificuldade em acertar.

Processador Intel Core i7 de quarta geração com quatro núcleos a 2,5Ghz e oito threads, unidade gráfica Nvidia GTX 860M com 4Gb de memória dedicados, 16GB de memória RAM, 256 GB de armazenamento em SSD e várias entradas multimédia, incluindo uma HDMI e quatro portas USB 3.0. São estas as especificações do portátil.

E para que servem estas especificações? Servem para jogar Ori and the Blind Forest à grande, servem para jogar Watch Dogs em definições altas - não ultra -, servem para jogar Murderer Soul Supect no máximo e olhando para a folha de especificações servem para jogar GTA V a nível mediano.

No dia em que o jogo da Rockstar saiu gostámos de ver uma atualização específica para o título à placa gráfca, ainda que não tenha sido possível experimentar o título.

Mas Battlefield Hardline, Call of Duty: Advanced Warfare e Mortal Kombat X são jogos que executam bem neste portátil. É quase como ter uma PlayStation 4 ou uma Xbox One debaixo do braço, pelo menos neste momento.

No entanto nem só de jogos faz-se a potência deste computador. O que mais surpreendeu foi a facilidade com a qual executou programas tradicionalmente pesados, como o Adobe Premiere e Adobe After Effects, em simultâneo. Sim, leu bem. Abertos e a serem trabalhados em momentos diferentes é certo, mas não fraquejou em nenhum momento.

Quer isto dizer que não está só a comprar um portátil para o quotidiano e uma máquina de jogos. Está a comprar um portento de produtividade e um computador que lhe garantirá desempenho tranquilo para os próximos quatro a cinco anos.

Uma palavra de destaque ainda para o sistema de som, que é realmente bom. Se o jogador jogar com auscultadores corre o risco de estar a perder qualidade sonora, tal é a definição do sistema da Beats incorporado no portátil. Os graves podiam ser mais ambiciosos, mas mesmo com as colunas no máximo nunca vacilaram.

Considerações finais

Investir ou não investir, eis a questão. Por nós é um sim, se tiver o dinheiro e a necessidade, então o HP Omen não vai desiludir, vai aliá cumprir e surpreender.

O portátil tem um preço de 1.899 euros, um valor impossível para muitas famílias, mas tal como foi dito no início do texto, este não é um portátil para qualquer um.

Visitando uma loja online de eletrónica facilmente encontra portáteis com as mesmas especificações técnicas do Omen e com preços que chegam a ser 300 euros mais baixos.

Não tem a gráfica mais recente e mais ambiciosa, nem o processador mais potente. De tal forma que a HP até já lançou uma versão mais potente, chamada Omen Pro.

Mas a questão que se coloca neste produto - e noutros segmentos da eletrónica de consumo - é: se vai gastar 1.900 euros num equipamento, não quer que o mesmo provoque impacto? Não quer algo que a maioria das pessoas não tem? Não quer, no sentido positivo, provocar alguma inveja?

Existem poucos equipamentos no mercado que o conseguem fazer sem grande dificuldade e o HP Omen é um deles. Até tem um ecrã touch, pouco importante para um portátil deste perfil, mas que pelo menos facilita na interação com o Windows.

Os mais puristas do gaming vão nutrir sentimentos negativos contra o computador pois há no mercado alternativas, sobretudo a nível de potência, e que no preço são competitivos.

Mas o valor do Omen está justamente naquilo que entrega como portátil num todo. Sobretudo ao nível da mobilidade. Não é propriamente leve, mas se quiser usar como portátil do quotidiano está à vontade e as suas costas não vão sentir isso. Já outros portáteis não poderão dizer o mesmo.

Como sempre, é tudo uma questão de dinheiro disponível para investimento e de objetivos de trabalho.

Máquinas como o HP Omen há poucas e os utilizadores vão ficar satisfeitos com o investimento. Resta saber se este foi um truque isolado de “magia negra” ou se daqui para a frente teremos sempre bons presságios da HP e ao mesmo nível dos que foram transmitidos com esta máquina.

Rui da Rocha Ferreira

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico