Smartwatches. O mercado que tem estado em ebulição. Todas as grande tecnológicas têm feito um esforço para marcar presença neste segmento. Acredita-se que depois dos smartphones e dos tablets, será o próximo oásis das novas tecnologias.

Mas enquanto a indústria empurra para um lado, na expectativa de ter mais uma fonte de receitas, muitos consumidores empurram para o outro. E o jogo está equilibrado. Mesmo com milhões de pessoas já rendidas aos relógios inteligentes, muitas outras ainda questionam a utilidade dos mesmos e acima de tudo, o seu valor.

Pois é justamente no valor que o MyKronoz ZeClock tem a sua principal arma. Este é um relógio analógico, mas que disponibiliza algumas funcionalidade classificadas como inteligentes. Não é nenhum Apple Watch ou Moto 360 ao nível do design e da qualidade de construção. Mas a verdade é que nem todos os consumidores procuram dispositivos desta gama.

[caption]MyKronoz ZeClock[/caption]

E é por este motivo que o Zeclock faz sentido. Faz sentido para uma certa franja do mercado que não se importa de abrir mão do desenho do relógio, mas garantir notificações e ligação ao smartphone, por exemplo. O preço abaixo dos 100 euros fará deste gadget, certamente, uma opção para muitos consumidores portugueses.

Inteligente q.b.


O MyKronoz ZeClock é um relógio analógico e portanto não tem nenhum sistema operativo a potenciá-lo como, por exemplo, o Android Wear faz por muitos wearable. Quer isto dizer que não existe um interface digital cheio de transições apelativas, nem existe a hipótese de personalizar o relógio de acordo com a sua disposição e quem sabe, de acordo com a roupa que traz vestida.

Mas a falta destes elementos não fazem do ZeClock um smartwatch menos capaz e menos interessante. Isto porque através da ligação a uma aplicação com o smartphone garante um grande conjunto de funcionalidades.

É possível receber no pulso alertas sobre as chamadas e as mensagens que estão a “cair” no telemóvel, sendo mostrado no pequeno visor do relógio quem está do outro lado. Além disso, esta funcionalidade é acompanhada de vibração - tal como todas as notificações - para que nada passe despercebido ao utilizador.

No caso das chamadas o microfone e a pequena coluna integrada no ZeClock permitem realizar a conversação diretamente a partir do relógio, não sendo necessário pegar no telemóvel. Continua-se a achar que esta não é uma killer app para os smartwatches pois representa uma tremenda falta de privacidade - aquela que nos dias que correm todos dão grande valor. Mas para uma situação de desenrasque, pelo menos está lá e funciona de forma aceitável.

Ainda que a qualidade da coluna não seja a melhor, pelo menos o som tem um bom nível. E aqueles que estiveram do outro lado das chamadas também disseram que a conversação se fez de forma semelhante às chamadas em alta voz nos smartphones.

Quanto aos SMS e às notificações do Facebook e Twitter, existe o alerta, mas o nível da notificação deixa muito a desejar pois o ecrã limitado do ZeClock não deixa entender de que se tratam as notificações.

[caption]MyKronoz ZeClock[/caption]

Dentro do campo das notificações também é possivel definir alertas, com a ajuda da aplicação no telemóvel. E esta é uma funcionalidade que realmente dá jeito pois se de manhã lembrar-se que precisa de ligar para a empresa do gás, mas após um longo dia do trabalho a memória já não estiver lá, o relógio vai dar-lhe esse toque.

Outra característica bem-vinda é o facto de se estabelecer uma relação “íntima” entre o telemóvel e o relógio. E isto quer dizer que sempre que os dois estão ligados, mas ficam separados por mais de dez metros, é dado o alerta ao utilizador. Esta ferramenta acaba por funcionar como um sistema anti-roubo/perda.

Para o caso de já ter perdido o telemóvel, ainda que num curto espaço físico, também é possível fazer soar um alerta a partir do relógio para encontrar o smartphone.

Posto isto, e sabendo que o ZeClock cumpre estas tarefas de forma muito satisfatória, é ou não justo considerá-lo como um smartwach? Ainda há mais para discutir sobre o relógio, mas esta é uma boa altura para lembrar que pode conseguir estas funcionalidades num dispositivo de 99 euros.

O preço para alguns consumidores será atrativo, mesmo sabendo que vão chegar ao mercado algumas propostas interessantes um pouco acima deste valor - como o Alcatel OneTouch Watch, a rondar os 130 euros.

No entanto, o preço mais acessível implica algumas contrapartidas, a começar pela qualidade de construção.

Não perguntes ao espelho se há alguém mais bonito do que tu


Esta é o ponto onde o ZeClock é menos ambicioso. A construção e o design são pouco cuidados, dois fatores que entram em choque com a tradição relojoeira - porque se agora o relógio até começa a ser visto como um gadget, nos séculos que passaram sempre foi um acessório de moda e de estatuto social.

O dispositivo da MyKronoz é robusto e corpulento, e isso vai fazer com que não encaixe em qualquer pulso. À partida será um relógio pouco apelativo para as mulheres, que preferem perfis mais delgados e mais discretos.

Olhando e analisando bem a estrutura do ZeClock, é impossível não lembrar o modelo Scuba Libre da Swatch. Talvez quando estiverem de novo na moda, como aconteceu recentemente com os Casio, a MyKronoz consiga vender melhor a imagem que escolheu para este modelo.

Ou então a empresa também pode optar por redesenhá-lo. Até o próprio plástico escolhido não é de grande qualidade, mas é grosso em estrutura.

Ao nível do design e da construção o elemento que se destaca mais é talvez a coroa do relógio, mas ao contrário do que a Apple vai fazer no seu modelo - que será um elemento para controlar o interface -, no ZeClock é apenas o botão que controla os ponteiros, ao bom estilo antigo.

Os outros dois botões controladores são duros de carregar e não facilitam muito a navegação pelo interface simplista do relógio. E este também é outro ponto em desfavor do relógio.

Onde o ZeClock precisa de ser acertado


Justamente no interface. O utilizador navega por ícones que surgem no ecrã - muito pequeno diga-se -, mas esta é uma tarefa que se torna difícil devido à dureza dos dois botões de navegação.

O utilizador também vai confundir-se muitas vezes entre as funções dos botões - um avança no menu, o outro confirma a escolha - e isso vai acabar por resultar numa interação confusa com o relógio.

Mais fácil é a interação com a aplicação, que apresenta menus simples e de forma muito direta. Ali há pouco a enganar. E se retrabalhar o design do smartphone pode dar mais trabalho, pede-se um pouco mais de ambição também ao nível da app móvel.

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Pois se nenhum dos elementos cativar o utilizador sempre que é usado, então corre-se o risco de cair numa monotonia que nesta época de evolução tecnológica não é nada positiva na relação consumidor-marca.

E apesar de prometer integração com o Google Now, o TeK nunca conseguiu usar os comandos de voz do relógio de forma satisfatória. É suposto que o utilizador possa tirar uma fotografia apenas dando essa ordem ao relógio, mas a verdade é no nosso caso esta funcionalidade nunca funcionou.

Outro elemento que pode evoluir é a funcionalidade de memorando. O utilizador pode ditar para o relógio uma mensagem, à qual pode aceder mais tarde. Mas apenas e uma só mensagem. Se precisar de gravar duas, só acede à última. Isto não faz muito sentido pois não é suposto o utilizador limitar-se aos recados que precisa de dar a si próprio.

Por fim uma palavra sobre o pedómetro do relógio. Apesar de ter contar os passos que o utilizador vai dando ao longo do dia, o relógio da MyKronoz tem um problema de hipersensibilidade - se for uma pessoa que gesticula muito enquanto fala, quando chegar ao final do dia arrisca-se a ter mais quilómetros "no pulso" do que tem nas pernas.

Considerações finais


No geral o que o MyKronoz ZeClock apresenta é aquilo que muitos utilizadores gostavam que um smartwatch fosse: uma peça analógica tradicional, mas que garantisse ao mesmo tempo algumas funcionalidades smart.

A experiência com este relógio acabou por ser mista, sendo possível fazer bons apontamentos, como o bom funcionamento das notificações e do sistema anti-perda, mas também facilmente se apontam falhas aos comandos de voz e ao facto de ser limitado em algumas funcionalidades como nos memorandos.

E se o design é uma questão discutível por estar ligado aos gostos pessoais de cada um, no preço já não há discussão possível: são 99 euros, um valor interessante para quem de facto quer ter funcionalidades inteligentes diretamente no pulso.

[caption]MyKronoz ZeClock[/caption]

Os jovens são certamente o público alvo deste relógio - está disponível em várias cores - e o ZeClock apresenta-se como uma alternativa interessante para um primeiro contacto com o universo dos relógios inteligentes.

Mas num campo de batalha que está cada vez mais povoado - Pebble, Samsung, LG, Huawei, Asus e até os fabricantes suiços, incluindo a Tag Heuer -, a falta de um sistema operativo e a existência de várias aplicações pode ser um factor decisivo para atrair a atenção dos consumidores.

Pois ao ritmo que o mercado dos relógios tem evoluído, e apesar de tudo o que tem de bom, o ZeClock corre o risco de ser apelidado, a médio prazo, de dumbphone.

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

Bluetooth: 4.0

Dimensões: 45x15,2 milímetros
Peso: 65 gr
Bateria: 200 mAh de iões de Lítio
Autonomia em conversação: 2-3 horas
Autonomia em standby: 4 dias
Ecrã: 96x32 píxeis
Sensor: acelerómetro de seis eixos
Resistência: contra salpicos e poeiras; certificado IP54
Compatibilidade: Android 4.3 ou superior; iOS 7 ou superior