Cada vez mais as pessoas desvalorizam os conteúdos digitais. São tantos e de tantas fontes, perpetuados na Internet, que se nós não os quisermos, alguém há de guardá-los e fazê-los perdurar. E para que interessam mesmo? Amanhã, depois e depois vão surgir ainda mais conteúdos, quem sabe mais interessantes até.

Mas por outro lado, as pessoas valorizam cada vez mais os conteúdos digitais. Mas não os dos outros. Os próprios conteúdos digitais. A massificação de computadores, smartphones e ferramentas de criação transformou milhões de pessoas em produtores de conteúdos. Alguns mais profissionais, outros mais amadores - mas a qualidade do material aqui não é importante.

Importante é a forma como a indústria do armazenamento digital tem acompanhado as sucessivas transformações dos consumidores e tem tentado dar resposta às suas necessidades.

Se há uns anos os discos rígidos externos eram feitos simplesmente para ficar estagnados nas secretárias, agora evoluíram e são uma verdadeira extensão do Homem digital.

Não se sente atraído pela ideia de ter o seu próprio Netflix, o seu próprio Spotify e o seu próprio Flickr sempre à mão, disponível em qualquer momento?

Melhor: poder ter estes serviços personalizados, mas ao mesmo tempo disponíveis para partilhar com amigos e família. E não precisa de fazer nada. Apenas precisa de ter o My Passport Wireless no bolso, na mochila ou numa mala e deixar a magia acontecer.

Durante duas semanas usámos a proposta da WD e estas foram as impressões que ficaram gravadas no “nosso disco” de análises.

Armazenamento descomplicado

O conceito do Western Digital My Passport Wireless é muito simples: quer ser uma solução de armazenamento de grande capacidade, móvel e que não tem tem muita dependência relativamente ao fios.

E o objetivo do equipamento é cumprido. Cabe na palma da mão, o peso próximo aos 250 gramas não é exagerado, o cabo USB 3.0 só é necessário se quiser uma ligação alternativa ao PC ou para carregar o disco, enquanto a questão do Wireless molda toda a utilização.

O que é necessário perceber neste WD My Passport Wireless é se esta é uma unidade de armazenamento que faz sentido para todos os utilizadores ou apenas para uma franja do mercado. Após as semanas de testes a impressão que prevalece é a segunda.

Isto é, apesar de qualquer utilizador poder tirar partido de um equipamento deste género, a verdade é que só alguns determinados perfis de utilizadores vão espremer ao máximo as capacidades do disco. E só espremendo ao máximo é que se justifica o investimento de 151,99 euros para 500GB, 189,99 euros para 1TB ou 249,99 euros para 2TB.

Porque ter um Passport Wireless para ficar estacionado na secretária não faz sentido. Para isso pode optar por outras soluções da mesma marca ou de outras marcas como a Toshiba e a Seagate, mas mais baratas.

Este disco externo é para quem passa muito tempo fora de casa ou a viajar e consome muitos conteúdos. É para profissionais da área multimédia que precisam de ter uma caixa onde podem descarregar ou aceder a todo o material de forma rápida. É para quem não tem uma vida digital muito vasta, mas valoriza os conteúdos que produz, querendo-os ter sempre por perto.

E estes exemplos que foram dados não são inocentes. São exemplos que batem justamente nos pontos fortes da unidade de armazenamento da Western Digital.

Pode por exemplo colocar filmes e séries, com grande qualidade de imagem, e fazer o streaming para o telemóvel. Pode até fazer streaming para si e para mais três pessoas/dispositivos. Claro que à medida que mais utilizadores estiverem conectados, menos capacidade há para transferir ficheiros de alta qualidade.

Mas um episódio de uma série qualquer, no formato tradicional, pode ser visto tranquilamente por um grupo de pessoas. O disco permite até que haja um acesso a diferentes conteúdos em simultâneo ou que o mesmo filme esteja a ser visto em pontos diferentes pelos utilizadores.

Depois a questão da "caixa-forte" de conteúdos. Uma das grandes vantagens deste WD My Passport Wireless é a incorporação de uma entrada de cartões SD. Coloque o cartão e veja-o a transferir todos os conteúdos de imediato.

Para ter uma ideia, descarregar 1GB de fotografias de um cartão para o disco é uma operação que dura cerca de um minuto e meio. Para um fotógrafo esta pode ser uma escolha ideal pois existe até a opção de formatar o cartão SD assim que todos os conteúdos foram copiados.

Ao nível de velocidades de transferência essas foram variando, mas por Wireless as velocidades rondam os 15MB/s, enquanto por USB 3.0 as velocidades podem atingir os 55MB/s.

Especialistas em interfaces procuram-se

Se a experiência com o hardware em si foi muito positiva, não havendo grandes defeitos a apontar, o mesmo não se pode dizer da experiência de utilização por via de software.

Para emparelhar com os dispositivos móveis é necessário ter uma aplicação da WD instalada. O processo de ligação é relativamente fácil, incluindo mudar o nome e a password da rede wireless criada, mas o interface da aplicação é muito rudimentar.

Além de não ter de todo um aspeto moderno, é um interface de resposta lenta. O smartphone demora vários segundos a carregar as pré-visualizações das imagens que estão no disco. Os próprios menus de definições também são muito atabalhoados.

Passando para o computador, a situação é exatamente a mesma. Emparelhamento prático e rápido, mas interface de utilização muito mau. Rudimentar, visualmente pouco apelativo e que não transmite uma sensação de modernismo.

E tudo isto é de facto uma grande pena pois se a experiência de utilização com o software não é boa, a relação geral com o dispositivo vai acabar por sofrer com isso. Querendo isto dizer que à medida que vão surgindo os inconvenientes de utilização, mais vezes começa o disco a ficar em casa e a perder a sua verdadeira razão de ser.

Pois qual é o grande segredo das empresas de distribuição de conteúdos? A facilidade de utilização, ter tudo disponível na ponta do dedo de forma rápida e simples.

Felizmente este é um problema que a Western Digital pode ultrapassar num piscar de olhos. Só precisa de alocar uma equipa a desenvolver interfaces de utilização modernos, rápidos, fluídos e que estimulem o consumo e o acesso a conteúdos multimédia.

Considerações finais

Resta ainda falar da autonomia do equipamento que é satisfatória. Numa utilização constante, caso do streaming, é possível conseguir uma utilização do My Passport que ronda entre as cinco, seis horas. Numa utilização faseada - acede agora, acede mais logo, acede daqui a dois dias -, então a bateria pode durar para muitos dias.

E o utilizador consegue manter isto controlado através do LED indicador do nível de bateria, havendo quatro cores que dizem se está totalmente carregado, bastante carregado, a ficar perto dos 30% ou se está a entrar mesmo nos momentos finais.

Pareceu-nos que a autonomia ficou dentro do esperado para um equipamento mobile que tem uma ligação Wi-Fi constante.

O ponto da discórdia está no preço. O modelo testado pello TeK tinha 1TB de capacidade, o que coloca o seu valor nos 189 euros. Pela mesma capacidade e por um disco de formato 2,5 polegadas, mas que necessita sempre de uma ligação por cabo para funcionar, custa menos de metade do que a Western Digital pede por este equipamento.

Por este motivo é que o My Passport Wireless não é para todos os utilizadores. É para profissionais multimédia, é para grandes consumidores de conteúdos, é para pequenas empresas que querem garantir mobilidade e flexibilidade aos seus colaboradores.

Pois só quem vai de facto aproveitar as características wireless do My Passport é que terá o investimento justificado. Em todos os outros casos é difícil não questionar o investimento.

Por outro lado e apesar de estar a gastar quase 200 euros num disco externo, deve pensar que está a comprar 1TB para todos os equipamentos da casa: o seu computador vai ganhar 1TB de armazenamento, o telemóvel e o tablet vão ter 1TB de armazenamento e o media center lá de casa acabou de se transformar numa autêntica biblioteca de filmes e séries.

Um terabyte de espaço dá para guardar muitos ficheiros. Mesmo pensado nos filmes atuais em Ultra HD, que ocupam cerca de 40GB, pode guardar 25 destes filmes. Ali, sempre disponíveis, bastando carregar num botão para que possam ser acedidos. O seu próprio Netflix em 4K.

Uma vez mais reforçamos a ideia de que a experiência com o hardware foi a mais positiva, enquanto do lado do software há muito, muito trabalho a ser feito.

Vivemos na época das aplicações que deslumbram visualmente e que por serem tão apelativas na sua utilização, fazem com que os utilizadores as visitem mais vezes do que aquelas que possivelmente precisariam. Portanto exige-se melhor, pois o valor do investimento não pode estar só relacionado com 1TB de espaço e ligação Wi-Fi: os utilizadores também estão a comprar uma experiência de utilização.

Rui da Rocha Ferreira

Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico