A polaca Vasco Electronics continua a atualizar a sua linha de tradutores portáteis. Depois do Vasco Translator V4, que o SAPO TEK já experimentou, a aposta está num formato diferente, com auriculares que prometem fazer traduções em tempo-real para conversas sem interrupções em 51 idiomas diferentes.

Veja o vídeo

O vídeo de apresentação do Vasco Translator E1 deixa claro que se trata de um gadget concebido para um contexto de maior proximidade. Se a versão anterior é algo que pode “sacar” do bolso em viagem para perguntar a alguém se está no lugar certo ou confirmar com o empregado de mesa o que está a pedir num restaurante, a nova geração foi feita para amigos, casais ou famílias que falam línguas diferentes ou, então, situações mais profissionais em que há tempo para conversas mais longas, como uma entrevista.

Mas será que o novo tradutor portátil cumpre o que promete? Inspirados por esta ideia de proximidade, decidimos colocar-nos, durante alguns dias, no lugar de alguém que não fala português (neste caso, apenas inglês, uma vez que é o idioma estrangeiro em que temos maior proficiência) para tentar comunicar em casa através do Vasco Translator E1. Também o colocámos à prova noutros cenários, incluindo para tentar acompanhar vídeos e transmissões online noutras línguas.

Leves, discretos... e higiénicos

O kit da nova geração do tradutor inclui um par de auriculares, pronto para partilhar com outra pessoa, no interior de um estojo de carregamento e transporte com um formato fora do habitual e que, de certa forma, até nos faz lembrar a forma triangular de um bolinho japonês de arroz (ou onigiri, para os mais entendidos).

Embora não seja a opção mais prática de transportar, a não ser que tenha bolsos excepcionalmente largos ou que leve uma bolsa consigo para todo o lado, o estojo tem um design discreto, com acabamento liso e suave ao toque, contando apenas com o logo da marca, uma entrada USB-C para carregamento e as informações standard na traseira.

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As metades do estojo, com cada uma a transportar um auricular, são unidas por um sistema magnético. No entanto, sentimos que esta é uma opção que pode ser propícia a “desastres” no caso dos mais distraídos.

Se o estojo escorregar das mãos, as metades soltam-se com o impacto no chão e os auriculares saem disparados. A inclusão de um mecanismo que permita manter o estojo fechado com maior segurança e robustez faz falta.

Os auriculares são leves e foram concebidos para serem colocados sobre o ouvido, numa abordagem que a marca descreve como mais higiénica em comparação com os modelos que se colocam na entrada do canal auditivo. E, tendo em conta que o objetivo é partilhar este gadget com outras pessoas, estamos de acordo.

Além de um botão que é usado durante as conversas, os auriculares dispõem de controlos físicos de volume, que permitem que cada utilizador o ajuste consoante as suas necessidades. Outra opção prática é a inclusão de indicadores LED em cada auricular, que podem ser personalizados para ajudar a distinguir a qual utilizador pertencem e a qual língua correspondem.

Análise TEK | Vasco Tradutor E1
Análise TEK | Vasco Tradutor E1 Os botões para ajustar o volume ficam localizados na parte superior do auricular.

Por outro lado, se tem óculos com hastes mais espessas ou salientes, pode sentir alguma dificuldade em acertar na colocação. O mesmo se aplica a quem tem o cabelo comprido ou mais volumoso, uma vez que, nestes casos, os auriculares têm alguma tendência para escorregar.

Traduções em três modos

Mas como é que tudo funciona? À primeira vista, até poderia pensar que os auriculares são uma espécie de tradutor stand-alone, mas o seu funcionamento está dependente de uma ligação ao smartphone ou a um Vasco Translator V4.

No nosso caso, testamos o funcionamento em ambos os modos, se bem que consideremos que a ligação ao smartphone acaba por ser mais prática, tanto a nível da experiência de utilização, como para a carteira, sobretudo quando temos em conta o preço elevado dos equipamentos.

Com os auriculares ligados ao smartphone, via Bluetooth, a aplicação Vasco Connect (disponível para Android e iOS) serve de intermediário virtual. Depois de escolhermos as línguas usadas na conversa, conseguimos aceder a três modalidades de conversa: altifalante, auriculares e tradução sem toque.

Vasco Translator E1
Vasco Translator E1 Modos de conversa na app Vasco Connect

No primeiro modo, os utilizadores só precisam de um auricular para si. A pessoa com quem estão a conversar ouve e lê a tradução a partir do smartphone.

Já no segundo, cada utilizador precisa de um auricular. Ao falar, necessita de pressionar o auricular para ativar o botão de conversa. Quem fala consigo ouve depois a tradução no seu respetivo auricular. Por fim, no terceiro modo, todos os participantes na conversa precisam de um auricular, mas não necessitam de o pressionar.

Ainda precisámos de algum tempo para nos habituarmos aos diferentes modos de funcionamento dos auriculares. As nossas primeiras experiências foram com o segundo dos modos e, desde logo, deparámo-nos com um problema que já tinhamos encontrado nas gerações anteriores do tradutor.

O modo de funcionamento do gadget impacta a dinâmica da conversa, o que, num contexto de maior proximidade, pode gerar confusão e, por vezes, momentos constrangedores.As conversas do dia a dia, sejam entre amigos, família ou um casal, têm dinâmicas próprias. Umas conversas são fluidas, outras são mais pausadas com espaço para refletir e, por vezes, o entusiasmo é tanto que os dois interlocutores se “atropelam” um ao outro ao falar.

Com este modo, sentimos uma mecânica demasiado robótica, quiçá demasiado formal para as relações próximas. Também sentimos o impacto desta mecânica mais robótica no modo de altifalante. Por vezes, esquecíamos de pressionar o auricular para falar e lá tinhamos de repetir o que estavamos a dizer. Outro dos problemas com que nos deparamos está na própria resposta dos botões, que nem sempre assumiam adequadamente o toque.

Análise TEK | Vasco Tradutor E1
Análise TEK | Vasco Tradutor E1

Se o objetivo é ter uma conversa minimamente fluida e mais descontraída, o modo de tradução sem toque afirma-se como a opção mais acertada. Sem a necessidade de pressionar no botão, as conversas desenrolam-se com maior facilidade e sem pausas pouco naturais,

Este acabou por ser o nosso modo mais utilizado para conversas em casa. Basta colocar os auriculares, ativar o modo e deixar o telemóvel na mesa enquanto a conversa flui. É também neste modo onde vemos mais potencial para cumprir o objetivo da proximidade.

Mas isso não quer dizer que seja livre de defeitos. Aliás, há um problema em comum nos três modos. Independentemente da opção escolhida, há um atraso no “ouvido” do tradutor que faz com que, em muitos dos casos, a primeira palavra não seja captada corretamente, o que resulta em traduções incompletas ou simplesmente erradas.

A esta questão junta-se outra falha ocasional durante o uso dos modos em que todos os participantes têm auriculares. Por diversas vezes verificámos que um dos auriculares acabava por se sobrepor ao outro na conversa. Ou seja, mesmo que a outra pessoa falasse no seu respectivo idioma, o auricular correspondente à outra língua é que continuava a captar.

Poliglota, mas nem sempre

Durante os nossos testes em casa, divididos entre inglês e português, os resultados das traduções foram, na sua maioria, satisfatórios. Com o tempo, fomos também nos adaptando à dinâmica de fala necessária para que os auriculares conseguissem captar adequadamente o que estava a ser dito. Apesar disso, verificámos que existem algumas dificuldades na tradução, em particular, de expressões mais idiomáticas, que tanto em português como em inglês.

Veja alguns exemplos das traduções feitas com o Vasco Translator E1

O nível de proficiência do Vasco Translator E1 varia ainda mais no caso de idiomas mais complexos. Aqui, o ChatGPT serviu como “ajudante”, para testes de conversa em mandarim, vietnamita, àrabe e coreano. Nestes casos, os resultados das traduções foram menos consistentes.

Por vezes, os auriculares não captavam o início das frases, resultando, novamente, em traduções incompletas e sem sentido. Mas, mesmo nos casos em que o conseguiam fazer, comparações com as traduções feitas, por exemplo, pelo próprio chatbot da OpenAI, há diferenças que mostram limitações na interpretação e capacidade de resposta.

Vejamos este caso em que, no contexto de uma conversa com o ChatGPT, sobre gastronomia vietnamita, perguntámos que sopas tradicionais existem no país. A tradução gerada pelo Vasco E1 a partir da "voz" do chatbot, que pode ver na imagem que se segue, deixou-nos um pouco confusos.

Vasco Translator E1
Vasco Translator E1 Tradução gerada pelo Vasco Translator E1

Para esclarecer as nossas dúvidas, voltamos a questionar o ChatGPT, pedindo uma tradução para português, que nos deixou bem mais esclarecidos.

Traduções feitas com o ChatGPT
Traduções feitas com o ChatGPT Tradução da conversa feita através do ChatGPT

Por outras palavras, as traduções com o Vasco Translator E1 revelaram-se úteis para conversas ou interações mais básicas, mas não tanto para interações com maior nível de subtileza linguística o que, num contexto de proximidade, podem gerar estranheza, ou, no pior dos cenários, mal-entendidos.

Vale mesmo a pena comprar?

O que nos leva à grande questão: vale a pena comprar? O Vasco Translator E1 tem um preço de 389 euros, como indica o site da marca. Sentimos que, se a tecnologia dos auriculares fosse mais avançada, o preço seria mais "justificado". Por exemplo, a inclusão de funcionalidades que permitem traduzir chamadas em tempo real nos auriculares ou então, de conteúdo que está a ser reproduzido no smartphone, tornaria este gadget mais útil.

No entanto, esse não é o caso, e para um utilizador comum ou mais “casual”, existem alternativas mais acessíveis e igualmente (ou mais) eficazes. Além disso, note-se que é necessária uma ligação à Internet para poder usar os auriculares. O que significa que vai precisar de ter sempre o smartphone por perto com dados de sobra se está num local sem Wi-Fi estável, ou então, um Vasco Tradutor V4.

Análise TeK: Para falar é preciso calma, mas traduzir menus, placas e letreiros no Vasco V4 é num instante
Análise TeK: Para falar é preciso calma, mas traduzir menus, placas e letreiros no Vasco V4 é num instante
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Embora permita um modo de funcionamento igualmente simples, adicionando outras funcionalidades de tradução, o V4 também tem um preço elevado, de 389 euros, o que torna essa opção ainda menos acessível a todas as carteiras.

O Vasco Translator E1 é algo que veriamos a funcionar melhor num contexto de trabalho internacional, integrado como “ajudante” para alguém que trabalha com pessoas de diferentes nacionalidades ou para quem viaja profissionalmente com muita frequência.

Embora reconheçamos que existe um esforço da marca em tentar apelar a um maior número de utilizadores, a verdade é que este tradutor continua a ser um produto para um nicho muito específico. Sentimos, no entanto, que há potencial, incluindo nas traduções em contexto de maior proximidade, mas, para o cumprir, o Vasco Translator E1 tem mesmo de aprender mais truques.