As diferenças salariais e a ausência de mulheres nos lugares de chefias de muitas empresas e organismos públicos são os principais sinais da desigualdade de géneros que ainda se estende a muitos sectores, apesar das múltiplas iniciativas que se realizam, com maior ou menor empenho, para mudar a situação. As Tecnologias da Informação não são uma exceção, sobretudo pela falta de interesse que as jovens revelam pelo estudo em áreas científicas.
Números divulgados pela Comissão Europeia indicam que apenas um em cada sete membros de direção de empresas europeias é mulher. E informação relativa a Portugal, recolhida pela consultora Mercer, mostra que 27% dos cargos de topo de 247 empresas analisadas têm toque feminino, um valor abaixo da média europeia.
Os números não invalidam que existam bons (mesmo excelentes) exemplos de mulheres que chegam a lugares de destaque em empresas e organismos públicos e que conseguem pela sua atuação fazer história e desenvolver políticas diferenciadoras. O mesmo se passa também na área científica, onde apesar de estarem muitas vezes em minoria as cientistas têm conseguido assinar desenvolvimentos relevantes na área da tecnologia e medicina, entre outras.
Assinalando o Dia Internacional da Mulher o TeK decidiu homenagear hoje mulheres portuguesas que tiveram um papel relevante na gestão de empresas, desenvolvimento e adoção de tecnologias ou no progresso da ciência.
Com a ajuda de leitores e de personalidades de relevo no sector identificámos uma lista, que peca sempre por ser restrita, já que muito mais nomes poderiam ser referidos neste trabalho.
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Nos últimos anos há cada vez mais nomes de mulheres na liderança ativa e em primeiro plano em empresas de tecnologias. Célia Reis, Managing Director at Altran Portugal; Cristina Marinhas, CEO da Quidgest; Isabel Reis, diretora geral da EMC Portugal; Laurentina Gomes, sócia fundadora do Grupo Liscic/Listopsis e Maria de Lurdes Carvalho, da APC by Scheneider, são alguns dos nomes que se destacam, depois da Microsoft Portugal ter perdido Cláudia Goya, que dirigiu a empresa durante três anos e se mudou este ano para a operação no Brasil, e da EDP Renováveis ter deixado sair a CEO Ana Maria Fernandes também para o mesmo país da América Latina.
Laurentina Gomes já tinha confessado ao TeK numa entrevista que suspeitava que os mais importantes centros de decisão ainda se manteriam, por mais tempo, longe dos domínios das mulheres, mas lentamente algumas posições estão também a ser conquistadas nesta área.
[caption][/caption]Ana Paula Marques é outro dos nomes em ascensão. A Administradora executiva da Optimus com os pelouros das áreas residencial, serviço ao cliente e operações, a economista já tinha assumido os cargos de diretora de marketing e vendas particulares, diretora de comunicação e diretora de serviços de dados. Atualmente acumula o cargo com a direção da Apritel, a associação de operadores de comunicações.
Também com uma posição de destaque, e com grande poder de intervenção na área das comunicações e do comércio eletrónico, Fátima Barros chegou no ano passado à presidência da Anacom, depois de seis anos de liderança de José Amado da Silva. A professora da Universidade Católica é a primeira mulher a ocupar o cargo mas ainda não mostrou grandes decisões polémicas, embora logo após a tomada de posse tenha sido conhecida uma multa recorde à Optimus, que se elevou a 6,6 milhões de euros. Entre mãos tem ainda outros dossiers difíceis, como o concurso para o serviço universal, que está em fase de avaliação das propostas de cinco empresas que chegaram à fase final.
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Embora numa empresa não tecnológica e focada no mercado financeiro, Isabel Ferreira, CEO do Banco Best, teve uma carreira ligada às tecnologias e assumiu no Grupo BES e no Montepio Geral papéis de liderança na área das TI, depois de oito anos na IBM, onde foi marketing manager da área de banca e telecomunicações. Em 2001 fundou o Banco BEST, focado em gestão de ativos e trading, que continua a dirigir, e que é reconhecidamente um dos bancos com grande base tecnológica. Recentemente foi homenageada pela sua Carreira com o Prémio ACEPI Navegantes XXI.
Em linhas mais recuadas dentro da organização das empresas, mas ainda assim não menos relevantes na estratégia, encontram-se nomes como Ermelinda Veloso, head of engineering da Vortal e uma das estrategas da mudança de plataforma tecnológica que a empresa está a fazer e que tem sustentado o seu crescimento no mercado português e internacional. De referir também Ana Isabel Dias, diretora de Inovação e Desenvolvimento da PT; Bárbara Barreira, chief operating officer na CoVii - Computer Vision Interaction, ou Maria Antónia Costa, Chief Financial Officer da Sage Portugal.
Duas mulheres tiveram também papéis de relevo na modernização da Administração Pública em Portugal, embora estejam atualmente afastadas de cargos de direção nesta área. Anabela Pedroso participou ativamente na definição da estratégia de modernização de vários serviços, como as lojas do cidadão e o Portal do Cidadão, tendo dirigido a Agência para a Modernização Administrativa (AMA) a partir de 2006. Atualmente é Special Adviser na Deloitte Consultores.
O carisma e a visão na área da modernização administrativa são também apanágio de Maria Manuel Leitão, que se tornou o rosto do programa Simplex, que deu lugar à criação de iniciativas como os vários serviços na hora. A economista liderou a Unidade de Coordenação da Modernização Administrativa e mais tarde a secretaria de Estado para modernização administrativa. Atualmente é Professora Catedrática da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Estudos Sociais, onde a sua investigação incide especialmente sobre a regulação pública da economia e sobre a inovação nos serviços públicos.
[caption][/caption]Nas ciências Portugal tem também alguns nomes que se destacam a nível internacional e Elvira Fortunato é claramente o melhor exemplo a apontar. Depois do transístor de papel que colocou esta matéria-prima no lugar do tradicional silício, tornou-se provavelmente uma das investigadoras portuguesas mais conhecidas de sempre e garantiu a atenção de um leque de público que normalmente não é tocado pelos avanços científicos e tecnológicos, por falta de interesse ou conhecimento.
A investigadora é docente do Departamento de Engenharia dos Materiais e coordenadora do CENIMAT (Centro de Investigação de Materiais) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.
À lista podemos juntar também os nomes de Alexandra Silva, investigadora da Universidade do Minho, e Maria Almeida, do Instituto Superior Técnico, que foram no ano de 2011 distinguidas com o Prémio Científico da IBM e uma menção honrosa, atribuído pela primeira vez a uma mulher.
Boas novas se antecipam com uma nova geração de empreendedoras, com start ups com projetos nas áreas de tecnologia, pelo que esperamos que nos próximos anos alguns destes nomes possam ainda engrossar a lista de mulheres que hoje escolhemos homenagear.
Muitos outros nomes ficaram por referir, já que é impossível fazer uma lista exaustiva. Mas como habitualmente a caixa de comentários fica aberta para a referência e sugestão de outros nomes.
Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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