O negócio apanhou a maior parte do mundo de surpresa: o Facebook vai comprar o WhatsApp por 19 mil milhões de dólares. Deste valor 16 mil milhões serão pagos diretamente à empresa, enquanto os restantes três mil milhões vão para a equipa e funcionários da aplicação de mensagens instantâneas.

A "procissão ainda vai no adro", mas este será sem dúvida um dos negócios do ano. Tanto pelo valor envolvido como pela importância do negócio para o segmento das telecomunicações digitais.
O WhatsApp é atualmente um dos serviços mais populares em todo o mundo e um dos que tem maior taxa de crescimento. São 450 milhões de utilizadores ativos mensalmente, 350 milhões ativos diariamente, cerca de um milhão de novos utilizadores todos os dias, 53 mil milhões de mensagens "transacionadas" numa base diária - 19 mil milhões enviadas, as restantes recebidas -, das quais 600 milhões são imagens.

Estes números por si só deviam chegar para justificar o investimento. Mas ainda que o valor de 19 mil milhões de dólares possa ser questionável, sobretudo olhando para negócios dentro do mesmo segmento, a verdade é que nos últimos anos algumas empresas e investidores têm gastado rios de dinheiro em plataformas de comunicação pela Internet.

Em 2013 o Facebook gerou em receitas 7,8 mil milhões de dólares. Vai precisar de um ano igualmente bom em 2014 para igualar a despesa feita apenas no dia 18 de fevereiro. Mas é preciso lembrar que os lucros líquidos rondaram os 2,8 mil milhões de dólares no último ano.

Descubra nas próximas páginas o impacto do negócio Facebook-WhatsApp para as próprias empresas e para o segmento das TIC em geral:

- Outros negócios no segmento das comunicações pela Internet
- A ascensão meteórica do WhatsApp
- Estará o mantra do WhatsApp em causa?
- Facebook é a empresa mais jovem do mundo

Outros negócios no segmento das comunicações pela Internet

Em 2011 a Microsoft desembolsou 8,5 mil milhões de dólares pelo Skype. Três anos depois o serviço é uma das caras mais importantes da tecnológica na relação com os internautas e já faz parte do sistema nervoso da estratégia da empresa. Seja no Windows Phone, no Windows tradicional ou até na Xbox, o Skype é um serviço transversal. Tanto para o utilizador comum como para utilizadores empresariais.

Esta semana o mundo viu uma empresa de comércio eletrónico japonesa investir 900 milhões de dólares no Viber, aquele que é visto como o concorrente mais direto do WhatsApp. A Rakuten considera que a aplicação de mensagens vai ter um papel importante no resto da estratégia da empresa e pode permitir explorar novos segmentos de negócio, como na área dos jogos. O facto de se focar no mercado asiático, onde existem "minas" como a China, podem mais do que justificar o investimento feito.

E relembra-se também a compra que não chegou a ser: a tentativa de negócio do Facebook com o Snapchat. Mark Zuckerberg esteve disposto a pagar três mil milhões de dólares pela aplicação de mensagens que é símbolo da juventude. Levou uma tampa, mas parece que tudo esteve relacionado com diferentes visões de negócio e de estratégia. O dinheiro não terá sido um problema.

Depois basta olhar para a restante miríade de serviços do mesmo estilo que estão disponíveis e todos com relativo sucesso: o japonês Line também tem mais de 300 milhões de utilizadores, enquanto o Facebook Messenger não deve ter números muito diferentes. Há ainda o Google Hangouts, o BlackBerry Messenger, o iMessage da Apple e o KiK.

É preciso ainda olhar para o investimento que até as operadoras de telecomunicações têm feito neste tipo de serviços. Estas empresas, que alegadamente são as mais prejudicadas pelas aplicações de mensagens e chamadas feitas através da Internet, começam a reconhecer uma oportunidade de negócio em vez de se sentirem ameaçadas.O TeK dá como exemplo o WTF da Zon Optimus - todo o tráfego gasto no WhatsApp, no Viber, no Facebook Messenger, no BlackBerry Messenger e no Skype são "por conta" da operadora.

A ascensão meteórica do WhatsApp

A empresa e a aplicação foram fundadas em 2009. Na altura era zero, não valia nada. Quase cinco anos depois, vale perto de 20 mil milhões de dólares. Este é o exemplo perfeito de como o crescimento dos dispositivos móveis abriram toda uma nova geração de oportunidade de criar negócios milionários e de base mundial. Também a Rovio dos Angry Birds ou a King do Candy Crush podem ser colocadas neste "saco" do sucesso.

Um dos aspetos mais interessantes acaba por ser o facto de aplicação ter crescido de forma orgânica, isto é, sem grandes impulsões de marketing e publicidade. Os fundadores da empresa focaram-se no objetivo de criar um serviço superior às SMS e parece que o objetivo está a ser cumprido - atualmente o WhatsApp permite partilhar mensagens de voz, de vídeo, a localização e permite mensagens de grupo - uma funcionalidade que as SMS tradicionais não proporcionam, mas que tem grande valor de comunicação num mundo cada vez mais ligado, cada vez mais online.

É também preciso lembrar que há cerca de um ano, em abril de 2013, a Google esteve disposta a investir perto de mil milhões no WhatsApp, tendo já na altura a concorrência do Facebook. Um ano depois o negócio acabaria por ser concretizado por um valor 19 vezes superior.

Depois é a importância do WhatsApp para o crescimento em mercados emergentes. Índia, Brasil, México e África do Sul estão entre os países que mais usam o serviço. A influência e o impacto que isso pode vir a ter nas outras marcas, Facebook e Instagram, vão compensar de certa forma o forte investimento feito.

Para os desconfiados que acreditam que os bons serviços são sempre estragados pelos grandes negócios, fica a promessa de Mark Zuckerberg de que tudo se vai manter como tem sido até agora. Ao estilo do que aconteceu com o Instagram - equipa à parte, serviço a funcionar de forma independente.

Na conferência com os investidores Mark Zuckerberg terá dito também que o WhatsApp tem a capacidade para ligar no futuro até três mil milhões de pessoas. A presença em vários dispositivos e sistemas operativos é uma das mais-valias do serviço no alcance desta meta.

Estará o mantra do WhatsApp em causa?

O WhatsApp já esteve e está disponível em dois modelos, dependendo dos países: gratuito ou pago . Continua a ser gratuito em muitos mercados, mas existem outros em que a aplicação é paga. No iOS e Android é gratuito no primeiro ano, cobrando depois uma taxa de 89 cêntimos por ano.
Uma das imagens de marca do WhatsApp é o 'Não' dado à publicidade. Quando o utilizador acede pela primeira vez existe inclusive um FAQ que explica porque é que a aplicação não suporta anúncios. O fundador do serviço - que curiosamente foi recusado como novo empregado do Facebook antes de lançar a aplicação - fez da rejeição da publicidade um mote de vida para a plataforma de comunicação.

Parece que neste ponto as duas empresas não se ligam, já que o Facebook é um dos senhores da publicidade online. A rede social procura sempre novos modelos de monetização, mas numa conferência com os investidores, foi explicado que nada se vai alterar.

Mark Zuckerberg explicou que os anúncios não são a forma certa de monetizar as aplicações de mensagens. Quer isto dizer que a rede social não tenciona num curto espaço de tempo "minar" o WhatsApp com anúncios.

Mas voltando à questão da anuidade. Ao longo do último ano o serviço tem colecionado dezenas de milhões de utilizadores. Resta saber quantos se vão manter na plataforma depois de ser necessário investir os primeiros 89 cêntimos. Isto sabendo que existem alternativas, como o Viber, completamente gratuitas.

Facebook é a empresa mais jovem do mundo

Se não é deve andar muito perto. Além de ter milhões de adolescentes e jovens adultos no Facebook, a empresa de Mark Zuckerberg é também detentora do Instagram, outra das redes sociais mais populares do momento.

Com o Instagram e o WhatsApp, o Facebook assegura a "juventude" que muitos dizem estar a deixar de existir na rede social.

Ao assegurar os utilizadores de "hoje", os de amanhã terão uma ligação mais forte com os serviços da empresa. Hoje o Facebook é mais do que uma rede social. É uma parte integrante da Internet. Mas aos poucos - com muito investimento é certo - a plataforma lançada em 2004 num quarto da Universidade de Harvard está-se a transformar num gigante mundial das telecomunicações.


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico