Talvez o caso mais mediático da falta de tacto e habilidade para gerir a relação com os novos meios de comunicação online tenha sido a Ensitel. O caso da loja que se recusou a trocar um telemóvel e não soube lidar com a história contada no blog da cliente e todos os comentários de desaprovação que o post suscitou.

Mesmo que a justiça tenha dado razão à empresa no caso da recusa de devolução, do juízo negativo dos internautas não se livrou. Nem do "menos" na avaliação dos especialistas em marketing, que criticaram a decisão da cadeia de lojas de pedir ao tribunal que ordenasse a remoção das mensagens publicadas por Maria João Nogueira.

Faltou-lhe "sensibilidade no que diz respeito ao marketing, respeito pelo consumidor e pela sua fidelização", como escreveu António de Castro, consultor de social mediam, num artigo de opinião para o TeK. Faltou-lhe quem soubesse "trabalhar a rede", na abordagem de Filipe Carrera, professor do ISEG e do IPAM e autor do livro Networking - Guia de Sobrevivência Pessoal.

Em altura de crise fala-se muito em networking. A expressão, que nos últimos anos tem ganho importância no estrangeiro começa a ser cada vez mais tema de conversa também em Portugal. E faz sentido que assim seja, porque tudo tem como base a conversa.

Conversar e fazer contactos é fundamental para uma carreira com mais oportunidades defendem os especialistas na matéria. Acreditam também que as redes sociais se apresentam como uma ferramenta de transposição desse mecanismo para um mundo virtual em expansão - com a vantagem de alargarem consideravelmente o alcance das redes de contactos possíveis, em número de pessoas e em espectro geográfico.

Numa altura em que se sucedem os exemplos de empresas que contratam a partir do LinkedIn (várias), ou do Facebook (Optimus), de marcas cuja inteligente utilização de plataformas como o Twitter, ou Foursquare (StarBucks) lhes valeu o sucesso de campanhas e de outras que viram a reputação arrasada por não saberem lidar com a facilidade com que, hoje dia, um blogger se pode tornar alguém que dita tendências (Ensitel).

A discussão serve de pretexto para partilharmos hoje algumas "dicas" sobre como pode o "profissional comum" tirar partido das redes sociais para se promover e aquilo que deve e não deve fazer para não comprometer a sua "marca".

Talvez o primeiro conselho passe precisamente por aí, por encarar a presença online como uma marca, que precisa de promover e preservar. "Empatia" e "contexto" foram duas das palavras-chave usadas por Brian Solis, um guru dos media sociais durante a sua passagem por Lisboa, em Dezembro. A mesma estratégia pode aplicar-se a um profissional que precisa de cultivar uma rede de contactos para encontrar ofertas de trabalho interessantes.

É importante estar presente. Ter um perfil em que o utilizador se anula não fazendo quaisquer publicações ou respondendo a solicitações, não servirá de muito, defendeu também Filipe Carrera.

O especialista explica que é preciso mostrar que se está disposto a partilhar informação sem esperar nada em troca, é também isso que se espera de alguém que se conhece e a quem se liga para tirar uma dúvida. Para além disso, as pessoas tendem a encarar o sujeito que responde como alguém que percebe do assunto.

O "contexto" apresenta-se como determinante porque não basta estarmos ligados a muitas pessoas, são os interesses em comum que vão ajudar a determinar - tanto no campo profissional como do lazer - quem queremos ou não seguir, quem nos pode dar informação relevante.

A distinção entre o profissional e pessoal é outro dos pontos capazes de gerar abordagens que nos podem custar caro. O autor de Networking - Guia de Sobrevivência Pessoal alerta para o perigo da "esquizofrenia online - offline", ou seja, as pessoas que fora do mundo virtual tentam passar uma imagem que não corresponde àquela que se descortina numa visita rápida ao seu perfil no Facebook, por exemplo - ou vice-versa.

E aqueles que acreditam que um potencial empregador vai coibir-se de "espreitar" o rasto online de candidato que está prestes a entrevistar: desenganem-se. Se as ferramentas estiverem ao seu dispor, serão usadas como o é um pedido de referências a respeito de alguém que se pensa contratar, explicou o especialista. Por isso, mais vale assegurar que "dizem" o melhor possível a nosso respeito - dominando o "meio" e analisando o que por lá é escrito.

E aqueles que acreditam que um potencial empregador vai coibir-se de "espreitar" o rasto online de candidato que está prestes a entrevistar: desenganem-se. Se as ferramentas estiverem ao seu dispor, serão usadas como o é um pedido de referências a respeito de alguém que se pensa contratar, explicou o especialista. Por isso, mais vale assegurar que "dizem" o melhor possível a nosso respeito - dominando o "meio" e analisando o que por lá é escrito.

Quisemos saber se a opção de criar dois perfis, um profissional e outro particular, seria uma alternativa a ponderar por quem teme estar a colocar em risco a sua privacidade e não gosta de se expor. "Todos estamos já expostos", afirma Filipe Carrera, "a questão que se coloca é: por quem queremos que essa informação seja manipulada?".

"Qualquer profissional tem de tratar de si próprio como uma celebridade", acrescenta. Cabe a cada um impor os seus limites, mas querendo uma referência, deixa-nos a sua regra de ouro: "nunca coloque nada na Web que não pudesse ser visto pelo seu chefe ou pela sua mãe".

Nós acrescentamos uma sugestão que vale para quem usa o Facebook, que se apresenta como particularmente propício à partilha de mais do que se gostaria. Se também acha que dois perfis não fazem sentido, experimente as listas, que permitem dar diferentes privilégios de acesso a informação, fotografias e publicações do utilizador (ou com referências a ele).

Seja como for, ignorar um pedido de amizade do seu chefe é que não pode ser. Diz o especialista que um pedido de amizade nas redes sociais corresponde a estender a mão, para cumprimentar alguém. Já os contactos na rede social deve ser encarados como "conhecidos", não têm de ser necessariamente amigos.

Esclarecidos que estão os princípios, está na altura de colocá-los em prática. Os três serviços que mais se coadunam com os objectivos de promoção no mundo online - pelas ferramentas e audiência que reúnem - são o Facebook, Twitter e LinkedIn, este último particularmente encarado como uma plataforma destinada a contactos profissionais.

É importante ser explícito na informação sobre as suas competências, as tarefas que desempenha e ter a informação actualizada. Esperar pelo momento em que pondera sair do actual emprego para inclui-lo na experiência é má estratégia. Não deixe também de adicionar colegas e superiores, capazes de "validar" a experiência que afirma ter, constituindo um factor de confiança acrescido.

Evite as fotografias e conteúdos embaraçosos, mesmo aquelas que não tenham sido carregadas por si, mas onde tenha sido identificado por outros - não faltam relatos de situações idênticas.

No Facebook, os grupos de discussão dedicados a temas na sua área podem ser uma ferramenta interessante para conhecer especialistas e partilhar abordagens ao tema. Já o LinkedIn permite o upload de ficheiros para complementar o seu perfil. Sugerimos que opte por um modelo alternativo de CV (em vídeo ou infografia, por exemplo) ou um projecto em que se tenha saído particularmente bem. Actualizar o Twitter regularmente (com assuntos pertinentes) pode ser um contributo interessante para quem o segue e ajuda a sedimentar a sua "pegada" virtual.

Estes são apenas alguns dos pontos - identificados numa lista que se afigura longa e em constante evolução e onde o bom senso deverá ser um critério determinante - que consideramos serem merecedores de uma reflexão mais apurada e adaptação por parte de quem procura tirar partido dos media sociais também num contexto profissional, os leitores dispostos a partilhar as suas "dicas" para uma maior rentabilização destas plataformas que falem agora... e sempre.

Joana Martins Fernandes

Nota da Redacção: Foi corrigida a referência à universidade onde lecciona Filipe Carrera, que é o ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) e não o ISCTE, como inicialmente escrito.