O smarphone que traz no bolso é especial não só pelo simples facto de lhe garantir acesso à Internet - onde pode aceder a milhões de conteúdos de todos os géneros -, mas também porque é na realidade uma "bomba" tecnológica.

Giroscópio, acelerómetro, GPS, sensor de luminosidade, barómetro, monitorizadores cardíacos e em alguns casos até sensor de posicionamento existe. Com tantas fontes de informação, saber aproveitá-las pode ser uma mais-valia e é justamente isso que está a ser feito no INESC TEC.

Teresa Andrade e Abayomi Otebolaku são os dois investigadores que estão a coordenador o projeto CAMR, uma aplicação móvel que usa a informação produzida pelo smartphone para tomar decisões preditivas.

O software é capaz de entender e cruzar várias informações - local, dia, hora e atividade física, por exemplo - para fazer sugestões de conteúdos. "Em princípio não tem limitações de conteúdos, mas estamos a trabalhar sobretudo no vídeo, na música e no texto", explicou Teresa Andrade em conversa com o TeK.

No seu próprio caso, Teresa Andrade detalha por exemplo que o telemóvel sabe que às terças-feiras a investigadora dá aulas e que antes desse processo, costuma procurar por informação nova relacionada com as matérias a serem lecionadas. Por isso envia-lhe um resumo do que encontrou nesse dia, sobre esse tema.

Mas pode também imaginar um cenário em que todos os dias, ao final da tarde, sai para correr, o que pode levar à sugestão de músicas para a atividade física, dicas para a mesma ou até indicação de aplicações apropriadas.

Há algum tempo que este projeto tem vindo a ser trabalhado, mas até aqui estava separado em duas áreas: recomendações de conteúdos e aplicações multimédia sensíveis aos contextos de utilização. Mas agora os elementos do programa Media, Art and Technologies do INESC TEC decidiram unir as duas áreas para criarem o CAMR.

"O utilizador é agora muito mais móvel e pode estar em muitos sítios diferentes", disse a investigadora, justificando que nem todos os conteúdos se adequam a todas as situações.

Levantam-se no entanto duas questões: uma monitorização das atividades não prejudica o consumo de bateria?; e a privacidade dos utilizadores não fica de certa forma em causa?

Teresa Andrade reconhece que a questão da privacidade é um "grande problema", mas garante que a informação é processada no próprio smartphone e que os servidores apenas tratam de dar significado a essa informação. "Estamos cientes do problema e estamos a trabalhar nele".

Como apontamento para refletir, basta lembrar um estudo recente que dizia que num futuro próximo os dados de saúde dos utilizadores - como a frequência cardíaca e a atividade física - iam valer mais dinheiro no mercado negro do que qualquer informação relativa a cartões bancários.

Já ao nível da bateria, a porta-voz do projeto garante que a equipa está a assumir o compromisso de conseguir os melhores resultados no menor consumo de energia possível. A divisão de tarefas entre smartphone e servidor ajuda neste processo, mas o CAMR também será inteligente na gestão energética.

Como explicou Teresa Andrade, o software será capaz de perceber quando os níveis de bateria estão mais baixos e em vez de enviar um grupo de textos para ler, vai só enviar resumos desses mesmos artigos.

Um futuro promissor

Atualmente os elementos do INESC TEC estão a avaliar duas saídas possíveis para a aplicação CAMR. Uma delas passa pelo desenvolvimento como aplicação independente, sobretudo ligada à área da atividade física e a integração com os equipamentos wearable é um dos caminhos a seguir.

E neste campo existem pessoas que já mostraram interesse na tecnologia.

Mas o cenário mais provável para o CAMR passa pela sua disponibilização em código aberto para que outros programadores possam integrar o sistema nas suas aplicações.

Rui da Rocha Ferreira


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico