Se é um dos 9 milhões de utilizadores da aplicação da Glovo, provavelmente já se deve ter questionado acerca da forma como os seus pedidos são processados. A resposta está na Inteligência Artificial, aliás, no Jarvis. Para desvendar os “mistérios” por trás do algoritmo da startup espanhola, o SAPO TEK falou com Guillermo Izqueirdo, diretor de Dispatching da Glovo.
Embora tenha o mesmo nome do que a IA desenvolvida por Tony Stark, no filme Iron Man, a missão do algoritmo da Glovo não é tanto ajudar um super-herói a derrotar as forças do mal, mas sim decidir qual a melhor forma de levar os pedidos até onde se encontram os clientes. Segundo Guillermo Izqueirdo, existe todo um processo complexo para determinar qual é o melhor distribuidor para cada pedido, otimizando tempo e distância. O Jarvis é quem soluciona este “quebra-cabeças” matemático.
Em primeiro lugar, o Jarvis faz uma previsão do tempo para assegurar que os estafetas optam por uma rota segura. De seguida, o algoritmo estima quanto tempo o distribuidor demorará a ir de um ponto a outro, assim como quanto tempo o estabelecimento necessita para preparar um pedido.
Além disso, o algoritmo é capaz de determinar o número de colaboradores que são necessários em cada cidade através de um modelo de machine learning. Para perceber o que se passa na “cabeça” da IA, temos de imaginar uma espécie de tabela com cerca de mil linhas por mil colunas. “Ver todas as combinações possíveis exigiria muito cálculo computacional e este algoritmo simplifica”, elucidou o diretor.
“Em cada cidade, o algoritmo corre a cada poucos segundos, tendo em conta todas as encomendas e o número de parceiros disponíveis”. De acordo com o responsável, são vários os fatores que têm de estar presentes na “mente” do Jarvis: “o tempo de preparação da encomenda, o veículo do estafeta, o clima atmosférico, o estado de tráfego, incluindo se há ruas cortadas ou manifestações, e a sazonalidade”.
O Jarvis também nos pode dizer muito sobre as nossas preferências enquanto consumidores. “Os utilizadores em Portugal e Espanha apresentam um perfil bastante semelhante”, afirmou Guillermo. Fazendo referência a um recente estudo, o diretor indicou que mais de 50% dos utilizadores da aplicação da Glovo são mulheres, principalmente com idades entre os 25 e os 34 anos, a viver em grandes cidades.
Mas não é tudo, é também possível perceber as diferenças entre os gostos dos utilizadores das duas metrópoles nacionais. Os dados da Glovo relativos aos pedidos de comida feitos no último verão demonstram que tanto lisboetas como portuenses são fãs de fast food. Ao todo, a preferência dos consumidores das duas cidades representa cerca de 30% dos pedidos feitos pela aplicação.
O que se passa na “casa das máquinas”?
Ao SAPO TEK, o responsável elucidou que a tecnologia está bem presente em tudo o que a empresa faz. “Tudo é baseado em ciência da computação, isto é, em matemática”. Além do Jarvis, existem outras peças essenciais, como os milhares de dados recolhidos com consentimento dos utilizadores, os quais ajudam a Glovo a prever a procura futura, assim como uma aplicação de Machine Learning.
A cargo da “casa das máquinas” está uma equipa de 25 pessoas. Entre elas estão colaboradores dedicados ao desenvolvimento do software, responsáveis pelo código de produção na parte do sistema que processa a informação, assim como cientistas e analistas de dados.
O objetivo do núcleo tecnológico, o qual a Glovo espera poder aumentar para 40 colaboradores em 2020, é “desenvolver um dos algoritmos de alocação mais potentes do sector”, afirmou o diretor de Dispatching. Toda a evolução tecnológica alcançada no Jarvis permitiu, por exemplo, reduzir o tempo médio de espera dos estabelecimentos de 10 para 5 minutos. No lado dos consumidores houve também uma melhoria de 10%. No futuro, a Glovo espera melhorar a eficiência em cerca de 30% a nível global.
Um futuro com Glovo Markets?
Em Portugal, a Glovo está presente em 32 cidades nacionais e, recentemente, firmou uma parceria com o Continente onde existe um compromisso de entrega em 30 minutos. A decisão espelha a parceria feita com o Carrefour na Espanha, França, Itália e Argentina. O Jarvis também está presente neste âmbito e, segundo Guillermo, este é um dos setores “em que a utilidade do algoritmo é potenciada”.
Os dark supermarkets são algo mais disruptivo e que promete um tempo de entrega ainda mais curto. “Em 2018, a Glovo lançou um departamento para atuar como um supermercado online”, reconta o responsável. Um ano depois, a empresa anunciou que queria reduzir para 15 minutos o tempo de entrega de pedidos de supermercado preparados nos respetivos armazéns.
“É uma oportunidade de negócio com imenso potencial, tendo em conta de que falamos de supermercados online, utilizados sobretudo por jovens, os chamados early adopters, que em breve terão as suas famílias e que cada vez mais precisarão deste tipo de bens e de serviços de conveniência”, explicou o diretor. A empresa planeia abrir estes novos Glovo Markets em algumas das principais cidades onde opera e, de acordo com Guillermo, Portugal não é uma exceção à regra.
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