Apresentação atribulada, apresentação abençoada? Os problemas técnicos que a Game Studio 78 teve de enfrentar durante a apresentação oficial do jogo Hush não foram suficientes para esfriar os ânimos relativamente a um projeto que esteve em desenvolvimento durante 23 meses. E se Uncharted 4 pode congelar na E3, então também Hush pode ser atacado pelo lei de Murphy.

“Para nós este é um dia especial. Finalmente está disponível", disse o líder do estúdio nortenho, Rogério Ribeiro, claramente satisfeito pelo momento alcançado.

Hush é um jogo de ação e aventura no qual os jogadores assumem o papel de uma rapariga que terá de saber enfrentar os seus medos. Ashlyn é acompanhada do seu peluche GoGo e só a coragem desta dupla será suficiente para enfrentar o medo da escuridão e dos monstros que esta esconde.

Mas a Game Studio 78 também teve de enfrentar os seus próprios medos. O projeto teve dificuldade em conseguir financiamento e duas campanhas não conseguidas no Indiegogo e Kickstarter lançaram algumas sombras sobre o projeto.

“A ideia de desistir passou pela cabeça de alguns membros da equipa. Não passou por mim, porque acho que na realidade não fazia sentido depois de tudo aquilo que tinhamos feito. Fora o esforço financeiro e emocional, muito emocional”, contou ao TeK o elemento da GS78.

Mas depois acabou por surgir o apoio da TheGameWall Studios, a editora do jogo. A ajuda da empresa britânica comandada pelo português Eduardo Monteiro foi fundamental no desenvolvimento de Hush.

“O apoio chegou numa fase - e vou ser honesto - completamente difícil para nós, muito difícil, ou seja, numa fase perto do colapso. Foram muitos meses seguidos sem investimento. É óbvio que o jogo tem potencial, mas depois não aparece o investimento. As coisas começam-se a tornar difíceis”.

Rogério Ribeiro partilhou um pouco mais dos momentos agridoces que o estúdio atravessou. “É óbvio que nós dissemos assim: ‘vamos fazer uma nave espacial ou vamos fazer um carrinho de rolamentos? Vamos fazer uma nave espacial!’. Se calhar saiu um helicóptero, mas nós apontámos para aí. E foi a atitude que fez a diferença de chegarmos aqui. Apontar para cima, motivar, tentar que na realidade as coisas acontecessem e acreditar, acima de tudo acreditar”.

“É óbvio que há alturas em que acreditamos de um ponto de vista irracional, por que se calhar racionalmente a linha já tinha sido passada. Mas depois também ficamos com aquela sensação de ‘E os outros? Chegaram ali ao racional e disseram não? Não’. Arriscaram dentro daquilo que era possível, acreditaram e o resultado é este. Estou bastante satisfeito com aquilo que fizemos e com aquilo que ainda temos para fazer”.

Por isso é que o lançamento do título numa das maiores lojas de videojogos do mundo, a Steam, é um marco importante para a startup. E as expectativas são as melhores.

“Temos recebido muitos pedidos de youtubers e já estamos a falar de canais com subscrições de um milhão de utilizadores. O jogo tem gerado muito interesse, de toda a parte. Conseguimos fazer o buzz necessário e apropriado para aquilo que estamos a fazer”.

Sempre de mão dada com as decisões difíceis
Hush tem um estilo e conceito próprios, algo que Rogério Ribeiro diz ter recebido inspiração por parte de franquias como Legend of Zelda, mas também da própria cultura da Nintendo.

“As personagens são baseadas no conceito das personagens da Nintendo, tentamos proteger tudo relativamente à violência”, explicou.

O jogo que os utilizadores comprarem no Steam tem até uma mensagem direcionada a Satoru Iwata, o falecido CEO da gigante nipónica. No entanto, a versão de Hush para a consola doméstica da Nintendo está risco. Após o lançamento na loja do Steam o jogo vai depois chegar à Xbox One e só mais tarde à PlayStation 4. A Wii U também estava nos planos da Game Studio 78, mas a equipa ainda está a considerar o lançamento na plataforma.

“Na realidade nós somos gamers. E há uma questão gamer e há uma questão de negócio. E quando se fala de pôr uma parte da equipa a desenvolver só para a Nintendo, a parte do investimento é complicada”, disse Rogério Ribeiro.

O CEO da startup tece elogios à consola da Nintendo e à cultura da empresa, mas lamenta o mau posicionamento que o sistema de jogo teve sobretudo a nível de marketing. O lançamento não está totalmente excluído e até existe um desejo renovado: ter uma versão de Hush para as New Nintendo 3DS.

“Era a cereja em cima do bolo, este jogo encaixa perfeitamente nas New Nintendo 3DS”, salientou o empreendedor.

Por agora o foco principal da equipa é trabalhar no segundo episódio de Hush que vai ficar disponível ainda antes do final de 2015.

Rui da Rocha Ferreira