É com um significativo "brilho deslumbrado" nos olhos que o astronauta da NASA Terry Virts fala de como é espreitar por qualquer uma das sete janelas do módulo de observação Cupola, com vista privilegiada para a Terra.

Esta espécie de sala localizada no “fundo” da Estação Espacial Internacional, que ele próprio teve “a honra” de instalar, durante o seu primeiro voo, em 2010, permitiu-lhe registar muitas das fotografias que costumava partilhar com os seus seguidores no Twitter ou no Instagram, durante os mais de 200 dias que passou na ISS “à boleia” da Expedição 42 e 43, entre finais de 2014 e inícios de 2015 - a última das quais comandada por si. Hoje essas mesmas imagens preenchem muitas das páginas do seu livro View from Above, lançado há uns meses, e ilustram o filme IMAX intitulado A Beautiful Planet.

Não é por isso de admirar que este astronauta, que o queria ser desde criança quando leu um livro acerca das missões Apollo e que cresceu com posters de aviões, planetas, galáxias colados nas paredes do quarto, considere os amanheceres e os pores-do-sol a que assistiu lá “do alto” como os seus momentos mais marcantes.

“Adoro o nascer e o pôr-do-sol. Quando estamos ali sentados, no silêncio e na escuridão do espaço e as cores começam a surgir, o azul, o vermelho, o laranja e, de repente, quando o sol aparece é a luz mais brilhante que já vimos em toda a nossa vida”

De passagem por Portugal para marcar presença no National Geographic Summit 2018, Terry Virts, que é um dos únicos quatro astronautas que já voaram na nave espacial russa Soyuz, realizaram passeios espaciais e comandaram a ISS, partilhou numa entrevista ao SAPO TEK outras normalidades da vida de um “homem do espaço”.

A lista vai do maior medo (que por incrível que pareça, não é o foguetão explodir), aos hábitos terrenos que provocam mais saudade (e que se podem tornar numa experiência dolorosa quando finalmente voltam a ser concretizados). Conseguimos “meter” extraterrestres pelo meio, para uma quase afirmação “não acredito em bruxas, mas que as há, há” e ficámos muito perto de "tocar" no bosão de Higgs (cuja massa, segundo notícias recentes, pode não ser constante e ter criado uma bolha de energia negativa que já começou a destruir o Universo), para falar de Deus, que acredita existir.

Também não faltou o tema Marte, “o destino espacial do século XXI”, nem as luas de Júpiter e Saturno, que provavelmente surgirão como o destino a seguir. "Têm atmosferas e geologias interessantes. Penso que seriam bons lugares para irmos depois". Mas antes de tudo será a "nossa" Lua, aqui tão ao perto de três dias de distância, que servirá de trampolim para viagens maiores.

“O problema de ser astronauta é que a nossa lista de objetivos [de sítios a visitar] se torna demasiado longa”

Terry Virts confidenciou também que quando se reformar não planeia voar novamente, por isso dificilmente passaria de astronauta a turista espacial - embora logo a seguir tenha acrescentado que uma das coisas que aprendeu na vida foi a nunca dizer nunca…

Da conversa, ficámos ainda a saber que Terry Virts gostava de ficar conhecido como o astronauta que teve a seu cargo uma equipa que, apesar das diferentes origens, se deu muito bem durante um período de relações internacionais tensas em Terra. "A minha equipa era constituída por americanos, russos, italianos e demo-nos muito bem, aliás, continuamos a dar, a trocar mensagens... Somos amigos. A ISS é um exemplo de como estas pessoas se podem dar bem e trabalhar em conjunto. Na Terra vemos como não se devem dar", referiu marcadamente na forma de "indireta".

Na função de influenciador que hoje assume, participando em várias conferências por todo o mundo, fez ainda questão de confirmar que a Terra é um planeta lindíssimo visto do Espaço, mas com alguns problemas ambientais descaradamente à mostra. “O norte da China é todo castanho. Obviamente que há poluição”. Outro problema visível lá de cima é a desflorestação e a Amazónia serve de exemplo. “Se não houver tempestades, conseguem ver-se grandes quadrados de terreno sem verde. Mas a maior parte da Terra é muito bonita".