O catálogo, recém-publicado na revista científica Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, baseia-se em observações do Telescópio Espacial de raios gama Fermi e identifica quase 2.800 fontes de raios gama acima dos 10 Giga eletrões-Volt (GeV), incluindo 62 até agora desconhecidas. Em comunicado, o IA detalha que o resultado representa um aumento de quase 80% face ao último catálogo deste tipo.

As fontes extragalácticas de raios gama não são muito comuns e, atualmente, conhecem-se apenas 7.200 em todo o Universo. Bruno Arsioli explica que a maioria destas fontes são Blazares, ou seja, tipos específicos de núcleos de galáxias ativas, “com picos de radiação sincrotrão extremos e elevados”.

Estes Blazares “constituem a principal população de fontes extragalácticas de Tera eletrões-Volt (TeV), sendo por isso alvos prioritários para o futuro Observatório da Rede de Telescópios Cherenkov”, indica o investigador.

Segundo Bruno Arsioli, a equipa realizou uma “extensa revisão da literatura sobre desvios para o vermelho”, tendo verificado que “aproximadamente 72% das fontes presentes no catálogo 1CGH ainda têm estimativas pouco robustas, ou mesmo nenhuma, para a sua distância”.

Esta falta de informação limita o conhecimento sobre a transparência do Universo aos fotões de mais alta energia, o que, por sua vez, põe em causa quão longe é realmente possível observar fontes extremas no Universo, explica o IA.

“Esta lacuna no conhecimento atual representa um desafio para toda a comunidade de estudo de fenómenos de energia muito elevada”, realça Bruno Arsioli, acrescentando que a mesma “evidencia a necessidade de campanhas de observação de seguimento na banda do ótico e infravermelho, focadas em determinar a distância dos Blazares detetados em raios gama”.

Mas, por que motivo é importante compreender a distância destas fontes cósmicas? À medida que os raios gama viajam pelo Universo, eles interagem com a Luz de Fundo Extragaláctica, numa “nevoeiro cósmico de fotões”.

Segundo o IA, a interação provoca a atenuação da radiação de muito alta energia oriunda de objetos distantes, o que deixa uma marca observável no seu espectro. Assim, quanto mais longe estiver um Blazar, maior será esse efeito. Conhecer a sua distância é essencial para medir com maior precisão a densidade da Luz de Fundo Extragaláctica em diferentes épocas do Universo.

A atenuação dos raios gama define um limite para a maior distância a que é provável detetar fotões de energia muito elevada, também conhecido como o Horizonte Cósmico de Raios Gama.

O processo faz dos Blazares de raios gama uma espécie de “sonda” para medir a densidade e evolução da Luz de Fundo Extragaláctica ao longo da história do Universo, oferecendo uma forma alternativa de determinar, por exemplo, a densidade da taxa de formação estelar (SFR) em épocas primordiais, algo que tem com implicações para os estudos da evolução galáctica.