O Sketch não é apenas um software de design aclamado pela crítica. É uma história de sucesso que tem impacto direto na forma como algumas das maiores empresas de tecnologia trabalham. Na imagem acima encontra alguns dos clientes que usam a ferramenta de desenho de interfaces, entre os quais estão referências do mercado: Apple, Google, Facebook, Twitter, Twitch, IBM ou Sega.

A parte mais interessante de tudo isto é que um dos dois cofundadores da empresa que desenvolveu a ferramenta, a Bohemian Coding, é português. Chama-se Emanuel Sá e na sua bagagem já tem grandes histórias para contar. Como aquela vez em que a Apple lhes comprou bilhetes de avião.

“A primeira vez que fomos convidados pela Apple para passar por lá [sede da empresa], eles falaram connosco sobre a aplicação, o que tínhamos planeado para o nosso futuro e sobre como é que podiam ajudar. Iam mandar os bilhetes de avião e perguntaram quantas pessoas queríamos levar para a Califórnia”, contou numa conversa com o TeK.

“Levamos duas pessoas”, responderam Emanuel e Pieter Omvlee, o seu parceiro. “A Apple depois disse muito seriamente ‘Desculpem, queremos a equipa toda, não dissemos só os donos’”. “E nós: ‘exatamente, a equipa toda que são só os donos’”. “Mesmo sendo a Apple parecia-lhes irreal como é que conseguíamos fazer aquele trabalho”, comenta em jeito de recordação.

Nesta fase da conversa Emanuel Sá explicava como atualmente uma única pessoa talentosa pode criar uma aplicação que vai ter grande impacto em todo o mundo. “Há aquela ideia de que para fazer uma aplicação é preciso uma equipa de marketing, uma equipa de design, uma equipa de programadores, um contabilista, uma senhora da limpeza, essas coisas todas. Hoje em dia isso não é necessário”, salientou.

E na altura também não foi para a Bohemian Coding. Durante os dois primeiros anos apenas os sócios fundadores trabalharam no desenvolvimento do software e da empresa, conquistando rapidamente adeptos.

“Aventuramo-nos numa área em que muito, muito pouca gente arrisca, porque existem empresas grandes como a Corel e como a Adobe. Eramos putos. Não tínhamos aquele medo típico de um adulto que programa e que desenvolve aplicações. Se calhar a nossa inocêcia ajudou. Acreditamos que era possível - e foi”.

Emanuel Sá prosseguiu o pensamento. “Vimos aí uma área por explorar e desde então começamos a ganhar o nosso nome e muitos utilizadores que usavam o Photoshop para desenvolver interfaces, ícones e outros tipos de trabalho. Não temos interesse em substituir o Photoshop pois em fotografia e em 3D é uma ferramenta boa. Nunca foi uma ferramenta boa para interface e focamo-nos nisso”.

Dar aos outros o poder para criarem melhores apps
Mas afinal o que é o Sketch? É um programa de design focado no desenvolvimento de interfaces, experiência de utilização e criação de ícones. Foi o primeiro grande programa desenhado a pensar neste segmento e que continua a crescer focado nesta missão. Desde então já surgiram mais alternativas, mas é o Sketch quem está a provocar mudanças na indústria.


Atualmente são cerca de 50 mil a 300 mil utilizadores diários, mas se somar todos os utilizadores que a plataforma tem e já teve numa base menos regular, então “já passam uns bons milhões”.

“Houve uma boa aceitação especialmente de outras empresas. O nosso primeiro cliente foi a Apple no que toca ao uso do Sketch em equipas, no design de uma grande empresa. Reconheceram logo a utilidade da aplicação e hoje até a própria Adobe usa a nossa aplicação para o software deles”.

“Foi bastante satisfatório ver que a Apple ao fim de 20 anos considerou o formato Sketch como um formato standard da indústria. Só o formato .psd da Adobe era considerado formato oficial para envio e receção de recursos. E já a partir do último verão que o Sketch é considerado standard pela Apple. E desde então por outras empresas como a Google”.

Apesar de nunca ter imaginado tal escala e tal sucesso, o empreendedor sediado no Porto diz que “o Sketch é o formato mais usado na área e obviamente que isso tem um gostinho especial”.

Atualmente a Bohemian Coding é constituída por 13 pessoas de diferentes nacionalidades e não tem um quartel-general definido, estando os colaboradores espalhados pelo mundo. E por agora Sketch é mesmo a palavra e o software na ordem do dia, já que nos planos dos cofundadores está o fortalecimento da ferramenta e não a criação de outros programas.

Rui da Rocha Ferreira