Embora mais conhecida pelo seu desenvolvimento na área de equipamentos de telecomunicações e smartphones, a Huawei tem na área de Tecnologia de Informação um investimento relevante, em chipsets, inteligência artificial e computação inteligente. E hoje Eric Xu, CEO rotativo da Huawei, sublinhou isso mesmo numa conferência que o SAPO TEK acompanhou em direto esta manhã. Um dos principais focos é o desenvolvimento da capacidade de Inteligência Artificial (IA), onde a empresa garante estar mais avançada no desenvolvimento das plataformas que podem ajudar a maximizar o papel da IA nas várias indústrias.

Eric Xiu sublinhou a estratégia da Huawei na área da Inteligência Artificial, que a empresa tinha anunciado no ano passado, em Shangai, no Huawei Connect, e onde a empresa tem vindo a investir para criar um ecossistema, com um portfólio abrangente e com parcerias. Hoje a empresa lança um novo processador de IA, o Ascend 910, e também o framework MindSpore para todos os cenários.

“Estamos a investir na inovação e no desenvolvimento de um portfólio de produtos e a cumprir o que prometemos no ano passado”, afirmou Eric Xiu, que sublinha que a tecnologia pode ter impacto nas áreas de Cloud, IoT, computação autónoma e blockchain, entre outras.

Depois da conferência, em resposta a jornalistas, o CEO rotativo da Huawei garantiu que o bloqueio económico nos EUA não afetou o desenvolvimento da estratégia de Inteligência Artificial da empresa. “O incidente de maio não teve impacto na implementação da estratégia da IA, apesar das mudanças do cenário. O investimento e comercialização de soluções de IA estão a continuar a desenvolver-se e continuamos a investir”, reforçou, adiantando que não há impacto no roadmap nem nos lançamentos futuros, já que a empresa está preparada para um cenário de bloqueio dos EUA.

O processador Ascend 910 está a ser desenvolvido há mais de um ano e a Huawei garante que o seu desempenho é melhor do que era esperado. “Tem mais poder computacional do que qualquer outro processador no mundo”, assegurou Eric Xiu, afirmando que este processador vai ser usado no treino de modelos de IA, onde é duas vezes mais rápido do que a concorrência. O processador é baseado na arquitetura DaVinci e a eficiência energética é também uma das áreas relevantes.

A Huawei já tem outros processadores de IA, como o Ascend 310, e o objetivo é continuar a desenvolver um portfólio de produtos que possam responder em diferentes cenários, desde o edge computing, computação em veículos para condução autónoma e treino. O calendário está definido e já há planos para futuras versões dos processadores, com o Ascend 920 num futuro próximo.

Mesmo assim, Eric Xiu garante que a Huawei não pretende ter um negócio isolado com a venda de processadores, integrando estes produtos nas suas soluções de computação. Mas está aberta a parcerias com outros fabricantes de chipsets que poderão integrar os seus processadores.

No próximo mês a Huawei vai lançar novos produtos nesta área, no Huawei Connect em Shangai, com novas versões dos produtos já em comercialização e Eric Xiu sublinha que “acreditamos que possam ter adesão dos nossos parceiros e clientes para que a Inteligência Artificial possa trazer benefícios à sociedade na China e no resto do mundo”.

Planos para MindSpore e abertura em open source

A par do novo processador, a Huawei lançou também a framework MindSpore, que suporta o desenvolvimento de aplicações de IA e que a empresa quer tornar a base mais relevante para os programadores, generalizando o conhecimento e acesso que até agora estava limitado a alguns especialistas. “Temos uma missão: tornar o desenvolvimento de AI tão simples quanto possível [… ] A Inteligência Artificial ainda é um jogo para especialistas, mas a ideia é permitir a todos os engenheiros desenvolverem aplicações de IA”, justificou Eric Xiu.

A plataforma é adaptável a todos os cenários, em diferentes equipamentos, edge computing e ambientes de cloud, com um conceito de desenvolvimento de “AI Algorithm as code”, como explica a empresa, que facilita o treino de modelos e desenvolvimento de aplicações.

A plataforma suporta os processadores Ascend, mas também outros chipsets da concorrência, e o objetivo é que seja aberta a um ecossistema de parceiros.

No primeiro trimestre de 2020 a Huawei vai abrir o MindSpore em open source, para atrair mais programadores e empresas, embora não tenha ainda partilhado muitos detalhes sobre a forma como isso vai acontecer, nem sobre a possibilidade de criar uma fundação e o seu enquadramento.

O desenvolvimento de talento é uma das áreas da estratégia da Huawei na Inteligência Artificial e Eric Xiu sublinhou que a empresa tem muitas competências e pessoas a desenvolver esta área, mas que o ecossistema para ser robusto precisa do envolvimento da indústria e de parceiros, porque esta é uma tecnologia que vai mudar o mundo, tal como aconteceu com os caminhos de ferro e a eletricidade no século XIX e a Internet no século XX, abarcando todos os sectores da economia.