Financiado pelo VI Programa-quadro, o projecto BITE pretende analisar de forma profunda as implicações éticas da utilização de dados biométricos para identificação de indivíduos. Contando com nove parceiros europeus, o objectivo é chegar à indústria e à área académica, levando-os a iniciar um debate profundo sobre as implicações das tecnologias biométricas a nível da protecção de dados pessoais e da ética.

A biométrica usa informação física comportamental para identificar uma pessoa. Os dados podem ser impressões digitais, a íris ou o ADN. Os proponentes reivindicam que a biométrica pode contribuir muito para a segurança, numa altura em que o terrorismo é uma ameaça credível e mundial. Neste contexto, aeroportos e alfândegas foram nomeados como os primeiros potenciais operadores a usarem a tecnologia.

Emílio Mordini, coordenador de BITE, defende que a recolha e armazenamento de tais dados pessoais levanta enormes questões éticas. Os interesses são diversos: pessoas que consideram difícil provar a sua identidade, tal como imigrantes, podem ser encaminhados injustamente, pessoas incapacitadas que se submetam a testes biométricos podem tornar revelar informação médica. Num nível mais prático, as leis de privacidade diferem de país para país, logo, poderão existir implicações para partilhar os dados e para a própria relação de bancos de dados.

"Necessitamos de proteger os grupos mais fracos, uma vez que eles são os principais alvos da tecnologia biométrica. Mas isto não quer dizer que a sua privacidade menos é protegida", disse o professor Mordini, em declarações ao serviço de informação Cordis.

O professor Mordini descreve o acesso à informação médica por dados biométricos como o procedimento mais controverso sobre a tecnologia. "De momento isto não é um risco real, mas pode acontecer", diz. Os dados podem fornecer informação se uma pessoa consumiu drogas ou se está grávida.

Enquanto Mordini acredita que não há intenções por parte dos cientistas para obter informação médica, há ainda a pergunta de como é que os dados podem ser usados mais tarde e isto sobrepõe-se à questão da confiança.

Desde que começou a trabalhar em Outubro de 2004, o consórcio do BITE já teve duas reuniões centradas nas questões éticas relacionadas à biométrica. As reuniões demonstraram que os interesses não são partilhados da mesma maneira. Os participantes não conseguiram chegar a um consenso numa das reuniões sobre o risco que a biométrica representa para a privacidade. "Os engenheiros disseram que há tecnologias mais intrusas. Nós, do campo ético temos algumas dúvidas sobre isso", disse o professor Mordini. Três mais reuniões se seguirão, e em Junho de 2006 será efectuada uma consulta pública.

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