A ideia de guardar as recordações da família num álbum com arquivo cronológico no telemóvel e na web concretizou-se em serviço em 2012 e rapidamente a Limetree foi somando utilizadores interessados em arquivar fotos, vídeos, textos e sons, sem nunca perder nada do que de mais importante se passava na sua vida.

Primeiro na Web e depois em aplicação móvel, que subiu aos lugares de topo na loja da Apple, o serviço da startup portuguesa atraiu também a atenção dos investidores, e a Limetree foi escolhida para integrar o projeto Propeller, conduzido pela Ryan Academy, mas também chegou à final do Lisbon Challenge, mostrando que do lado do negócio era tão apelativo como na componente de serviço para os utilizadores.

Por tudo isto a notícia de que o serviço vai fechar portas já em novembro terá surpreendido os utilizadores, mas também os que acompanham o desenvolvimento das iniciativas de empreendedorismo e que mantinham a startup portuguesa debaixo de olho, seguindo o seu desenvolvimento e apostando no sucesso.

Pedro Veloso, um dos fundadores da Limetree, assinou a mensagem de despedida aos utilizadores e está a fechar o processo de encerramento do projeto que acabou por não ter condições para garantir a sustentabilidade que era desejada.

Em linguagem frontal, o empreendedor garante ao TeK que “já fez o luto” pela startup e explica de forma resumida o processo que acabou por ditar o encerramento do projeto: A Limetree teve um “crescimento razoável”, conseguiu atrair investimento nacional e estrangeiro com o qual conseguiram desenvolver o projeto e chegar a um modelo de negócio sustentável, encontrando o canal que se revelou ideal para atrair utilizadores que conseguiam converter em assinantes do serviço. A margem operacional era positiva mas faltava dar o passo seguinte para ganhar escala e para isso era necessário conseguir investimento de 500 mil a 1 milhão de euros que permitiria desenvolver mais a plataforma e investir em marketing para atrair os utilizadores. E foi esse o passo que falhou.

A Limetree conseguiu um potencial de 250 mil a 300 mil euros mas a conclusão foi de que sem o investimento previsto o negócio não seria sustentável e não conseguiria ser rentável.

A informação ainda não está totalmente “digerida” nas Pedro Veloso admite que quer contar a história da Limetree apesar do insucesso e sem o anátema que muitas vezes é associado às startups e empreendedores que ficam pelo caminho.


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Encerrar o projeto de forma correta

A solução de encerramento do serviço foi avaliada com a equipa e os investidores e na semana passada foram enviadas mensagens aos utilizadores – do serviço gratuito e do serviço pago – a dar conta do fim da Limetree. Até porque Pedro Veloso quer que tudo seja feito de forma transparente.

“Sempre dissemos que os dados guardados na Limetree eram dos utilizadores e que a privacidade era um dos pontos fundamentais e vamos manter a palavra”, explicou ao TeK.

Todos os utilizadores foram informados de que se quiserem recuperar as fotos, vídeos, textos e sons guardados no serviço devem enviar um email a solicitar essa possibilidade, recebendo então um link onde podem descarregar uma pasta com toda a informação.

Da mesma forma os que tinham assinado o serviço premium, que previa o pagamento de 25 euros por ano, podem ser ressarcidos do parcial da assinatura, depois de o solicitarem por email.

No final todos os dados serão apagados dos servidores, um processo que ainda deverá demorar até porque ainda serão enviados novos avisos e é preciso dar tempo aos utilizadores para descarregarem a informação sem perderem nenhum dos dados que tinham guardado. Mas quando se carregar no “botão vermelho” não há maneira de voltar atrás.

A forma como o processo está a ser conduzida já mereceu elogios dos utilizadores e muitas manifestações de simpatia e pena do encerramento previsto. “Desde quinta-feira recebi centenas de emails e a larga maioria referia que tinham gostado do projeto, da forma como tínhamos agido e da maneira como foi comunicado o encerramento”, explicou Pedro Veloso.

E agora, o que se segue?

Da mesma forma que este não foi o primeiro projeto de Pedro Veloso o empreendedor garante que não será o último. “Tenho a felicidade de reagir bem perante a adversidade […] Estes processos são uma aprendizagem”, afirma. Não será ligado ao Limetree porque não gosta de "chorar sobre leite derramado".

O optimismo face ao cenário empreendedor em Portugal e à possibilidade de sucesso de projetos como os que tentou levar para a frente é claro e mantém-se no espírito de Pedro Veloso.

"Tenho a certeza absoluta que é possível [lançar um projecto B2C em Portugal que ganhe escala]. Não é a copiar algo que já foi feito há seis meses. A Limetree não resultou, não chega ao final. É a vida. Mas é importante garantir que há muitas sementinhas [de empreendedorismo]", adianta.

"Em Portugal há muitas e boas ideias. Não há o mesmo dinheiro para financiamento que nos Estados Unidos. Mas há casos de sucesso a aparecer", garante o empreendedor.

Como lições a recordar por quem quer fazer o caminho deixa algumas "verdades de la Palisse" mas que têm de ser assumidas de forma consciente pelos empreendedores. "A experiência conta. Ouvi várias vezes vários conselhos que só ao longo do tempo fui percebendo", explica.

Uma segunda dica está relacionada com o equilíbrio entre o investimento num produto/serviço e o dinheiro para o promover. "Lembro-me muitas vezes de uma história do Eng Belmiro de Azevedo que dizia que se tivesse 1000 contos para investir gastava 100 no produto e 900 a promove-lo [...] Sabia que era verdade mas deixei que às vezes gastássemos recursos e tempo em questões em que a componente da venda não era significativa", assume, afirmando que o mais importante é descobrir como chegar às pessoas e levar os produtos e serviços ao mercado.

Fátima Caçador


Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico